sábado, 27 de dezembro de 2025

Mentalidade Montenegro

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Luís Montenegro, primeiro-ministro eleito de Portugal, resolveu aderir à moda circunstancial da auto-ajuda motivacional que resolve todos os males do mundo e o português em particular, na sua ilustrada opinião. Assumiu o seu papel de guru coaching sugerindo uma receita de sucesso fácil, barata e que dá milhões: vamos ser todos Ronaldo. 
 
Ronaldo, para quem não saiba ou esteja longe de apreciar uma entretenga muito popular no seu país, é um praticante de uma modalidade a que deram o nome de futebol. Mas alto lá: é um praticante de extremo sucesso, havendo até quem diga que é o mais notável português de sempre. Existe até um líder de um partido populista, líder do partido fascista e agora candidato presidencial, que cresceu nessa modalidade — comentando as práticas futebolísticas em indescritíveis programas de televisão — e que trouxe com grande sucesso para a política esses tão apreciados comentários ensopados de conceitos de bradar aos céus. As comparações de atitudes de políticos com as entradas em campo de futebolistas são chutadas a toda a hora e em todos os salões, pavilhões e relvados para as pessoas "perceberem lá em casa". Esta expressão, que me tira do sério ao ponto de mudar de imediato de canal, ilustra o nível de conteúdos em que vegeta a política e o seu comentário. 
 
É por esse trilho que Montenegro caminha. Não conhece livros, baralha autores, não vê teatro, nem cinema, não tenta perceber o que não quer conhecer, mas ouve Tony Carreira como grande nome da cultura musical (mais recentemente Toy foi adicionado ao pacote) e vai à bola e conhece os protagonistas que nela dão pontapés. Daí o apelo ao exemplo de Ronaldo. Devemos ter a mentalidade Ronaldo. É aqui que se revela a mentalidade Montenegro. Para ele o país funcionaria melhor se todos tivéssemos nascido pobrezinhos mas com uma funcional mentalidade virada para sermos ricos. Muito ricos de preferência. E para isso o melhor seria, de pequeninos, arranjarmos uma bola e começarmos a dar nela de manhã à noite, com rigor vencedor logo a partir daí. Quem não souber dar pontapés na bola pode dar noutra coisa qualquer. O que é preciso é crescer a dar muitos pontapés. Chegados a ricos é tentar não pagar impostos e fugir a obrigações que dão trabalho. Depois é comprar carros caros que de pobretanas não reza a história dos vencedores; tentar ter prazer sexual com quem não está para aí virado nem que seja à força; mandar vir filhos por correspondência, pagando é claro, que o dinheiro compra tudo; arranjar uma mulher com "um bom corpo" que a casa e os rebentos precisam dos cuidados que só uma mulher conhece; jogar à bola onde for preciso e para quem pague mais, e jantar com os homens mais poderosos do mundo mesmo que sejam muito perigosos e com carácter de minhoca. Crimes são coisas que acontecem, como diz o outro, e os novos-muito-ricos não têm vagar para aturar gente que só pensa em solidariedade, carácter, decência, cultura e mais não sei o quê.
 
A mentalidade Montenegro é isto. Temos um primeiro-ministro encantado com os manuais de auto-ajuda. Um homem que mal sabe ler e escrever é primeiro-ministro e quer que o principal guru de um país seja um parolo narcísico, bilionário, incomensuravelmente vaidoso e deslumbrado com as suas próprias atitudes ridículas. Temos um primeiro-ministro que é um inenarrável parolo sem nível nenhum, encostado a uma extrema-direita perigosamente triunfante, rodeado de gente inclassificável, que se augura de líder dos novos tempos. O futuro já chegou. Já estamos na lama. Essa é que é essa.
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Perry Bamonte

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Morreu Perry Bamonte, guitarrista e teclista dos THE CURE. Foi a banda que anunciou esta morte em comunicado, acrescentando estas palavras: "Calmo, intenso, intuitivo, constante e extremamente criativo, ‘Teddy’ era uma parte calorosa e vital da história dos THE CURE."
Acompanhava os THE CURE desde 1984, e foi convidado a juntar-se à banda quando o teclista Roger O'Donnell saiu em 1990.

THE CURE foram uma das bandas que mais me animaram a mim e a muita gente que se cruzava comigo. Participei em noites de audição de LPs da banda acabadinhos de sair. Momentos memoráveis. As artes têm destas coisas: animam, divertem, estimulam o convívio e formam públicos.
Muito obrigado, Perry Bamonte.

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sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Receituário

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Passa hoje na RTP 2, às dez da noite, um documentário sobre o compositor e músico António Pinho Vargas
 
Diz a comunicação da estação televisiva que é um "vídeo-documentário realizado por Adriana Romero sobre um dos mais conceituados compositores e pianistas portugueses".
António Pinho Vargas é apoiante e mandatário nacional da candidatura de Catarina Martins à Presidência da República.
É uma grande escolha da candidata. Eu, mandatário da mesma candidatura no distrito de Setúbal, fico contente por recomendar este visionamento. É sempre bom ouvir quem sabe. António Pinho Vargas é nome maior da cultura contemporânea. É ouvi-lo. E percebê-lo. Sempre.
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A saudade não se esvai

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É triste, este dia que vem logo a seguir às festas que se querem felizes. É dia de uma tristeza imensa, que convoca a saudade e nos reforça esta certeza de percebermos o quanto importante foram para nós estes amigos. Fomos todos amigos. Partilhámos muitas vontades, emoções, muitas dúvidas e poucas certezas. Tenho saudades das conversas. E tanta conversa que havia por encetar. Tenho saudades de estar com eles. É por isso que aqui estou a recordá-los. É uma espécie de maneira de os ter por perto. Meus queridos João Paulo e António Mega. A saudade não se esvai.
 
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Conversa em família

O advogado de negócios que ocupa o lugar de primeiro-ministro falou aos portugueses que vivem no seu país. Do meu país está muito longe. Mas deu as táticas aos seus jogadores, perdão: eleitores. O homem adopta a linguagem trumpiana do auto-elogio e apela a que todos sejamos como Ronaldo. Ora bolas para a bola, homem. Eu, que não vou em futebóis, e que me estou perfeitamente borrifando para o fubebolista-herói do advogado de negócios que é primeiro-ministro, quero mesmo que esta gente vá toda jogar à bola bem longe do meu relvado. Ide, ide para muito longe. Os nossos problemas como país resultam dos vossos jogos, já que o apelo Coaching é futebolístico. 

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quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Natal

O meu natal é o desta canção de José Afonso. O imaginário popular foi recriado e tornado sofisticado pelo genial músico, que não esqueceu a autenticidade dos criadores populares. O que fazem e vivem as pessoas foram o alimento estético do genial criador de sons e palavras. O meu natal é o NATAL DOS SIMPLES de José Afonso, incluído no álbum CANTARES DO ANDARILHO. 1968. Orfeu.
Acompanhamento à viola por Rui Pato.
Reedição em 2021. Mais Cinco.
Capa: grafismo e fotografias de José Santa-Bárbara.
 
Bom Natal. 
 
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terça-feira, 23 de dezembro de 2025

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segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

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TODOS, TODOS, TODOS | O pantomineiro vai ser obrigado a retirar os cartazes indignos. A decisão judicial não traz surpresa. Os cartazes não desmentem o racismo impresso. A delinquência é notória. Todos temos de cumprir as leis. Até os ladrões, os pedófilos, os racistas, e todos os outros vigaristas do partido fascista.
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Com Catarina

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Para a apresentação da minha condição de mandatário distrital da candidatura de Catarina Martins à Presidência da República, escolhemos o ambiente da Casa da Cerca, em Almada. Visitámos as excelentes exposições em exibição — Beatriz Manteigas, Jessica Warboys, Catarina Marques Domingues, João Pimenta Gomes — que tornaram a nossa manhã um agradável e reflexivo momento de fruição cultural. 
 
A Casa da Cerca, em outros tempos local de lazer de gente endinheirada, é desde finais dos anos oitenta do século passado propriedade do Município de Almada. Foi Rogério Ribeiro que desenvolveu o conceito de centro de arte contemporânea. Artistas de prestígio firmado foram por ele convidados para mostrarem os seus trabalhos neste sítio fantástico, em exposições de competente design expositivo. Hoje expõem lá na casa artistas que experimentam áreas variadas de expressão. Falámos disso tudo nesta visita, onde a localização e a arquitectura são também de extrema relevância.
 
Catarina Martins elogiou o conceito e a sua aplicação, falou da falta de debate sobre cultura nos encontros entre candidatos, e revelou ideias sobre a necessidade de se debater a relação da cultura com a política, em tempos em que são desprezadas por uma classe política indocumentada e com orgulho nessa atitude. Lembrei-me do meu amigo António Mega Ferreira que considerava a política uma extenção da cultura. O apreço ou, pelo contrário, o desprezo de certos políticos pela cultura, são sempre atitude política. Para a esquerda, a cultura, a arte, são muito importantes porque interrogam e formam consciências. Para uma certa direita (a chamada clássica) é vistoso ornamento de luxo. Para a extrema-direita é artigo dispensável. Umas e outras são atitudes políticas. 
 
Catarina Martins é uma mulher de cultura que sente a importância dos projetos culturais neste tempo de entretenimento ligeiro. A nossa esquerda é culta, cosmopolita e progressista. É política.
 
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Fotografias de Fernando Pinho
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domingo, 21 de dezembro de 2025

PRESIDENCIAIS 2026. Setúbal, mandatário distrital

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Catarina Martins convidou-me para mandatário da sua candidatura no distrito de Setúbal. Honra em estar alinhado com António Pinho Vargas, mandatário nacional. Aceitei com gosto o desafio e apresento-me com esta opinião:

Há quem considere que é útil votar em quem esteja ideologicamente próximo e bem posicionado nas sondagens. Mas então quem decide quem está próximo do que pensamos e queremos? São os manipuladores que divulgam as sondagens? E como somos convencidos? São os candidatos que não querem ser guardados em gavetas que nos convencem? Serão os que votam como deputados uma coisa e propagam eleitoralmente outra?

A direita faz trinta por uma linha: inventa agressões onde não as há apenas para fazer vingar a sua hipocrisia e egoísmo. Alimenta a discórdia entre iguais. A direita clássica é cada vez menos clássica quando se aconchega à direita mais radical gritando os seus slogans discriminatórios. A direita não respeita direitos conquistados e quer mandar tudo lá para trás, nem que para isso se alie aos novos salazaristas. As direitas colocam os negócios em primeiro lugar. Para a direita as pessoas são números. Para a direita cultura e direitos humanos não existem. Ou só existem alegadamente quando a direita quer brincar à caridadezinha. 

O voto útil pode tornar-se inútil para a nossa consciência de cidadãos de esquerda, quando usamos o voto  na suposta esquerda que não quer parecer esquerda. Se não o quer parecer é porque o não é. A esquerda é útil para fazer avançar o mundo e para permitir que lutemos pelo nosso futuro. A esquerda não é woke, porque reconhecimento ligeiro de direitos e vontades não é de esquerda. A esquerda não é imobilista. A esquerda não assobia para o lado perante o insultos racistas e fascistas. A esquerda tem orgulho em ser esquerda. A esquerda é pela democracia e pela liberdade, e coloca as pessoas em primeiro lugar. As eleições não são um campeonato desportivo. Sermos minoritários, agora, não é defeito. Serem eleitoralmente maioritários não lhes dá razão. Nós temos outras razões para não lhes darmos razão. Temos ideias melhores e vivemos o nosso dia-a-dia mais felizes. Sem ódio ao outro. Queremos ser felizes. Como disse José Afonso numa canção: "Seremos muitos, seremos alguém". Vamos crescer. Temos bons e esclarecidos exemplos: a juventude nas universidades não permite fascistas em pregoeiro delírio. A nossa coragem mostra-se todos os dias, em todos os lugares. Seremos mais, seremos muitos mais, como pretendia José Afonso, e, citando-o de novo: o que faz falta é avisar a malta. O voto útil da malta de esquerda é na esquerda. O voto da esquerda é em Catarina Martins.

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sábado, 20 de dezembro de 2025

Receituário

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Hoje vai ser lançado na Culsete, em Setúbal, novo livro do meu amigo e colega Raúl Reis. O título e a capa despertam curiosidade. Eu estou muito curioso e não vou faltar a este encontro "nem que chovam picaretas", como cantou José Afonso. É neste sábado, à tarde. A gente encontra-se.

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sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Obrigado, Mariana

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Que importa a fúria do mar

Que a voz não te esmoreça

Vamos lutar
José Afonso 
 
Mariana Mortágua participou pela última vez nos trabalhos parlamentares desta legislatura. Foi uma excelente deputada. Surpreendeu pela capacidade de trabalho e pela assertividade. Nesta última participação apelou aos seus colegas que defendam a democracia na casa que serve para a defender. E também apelou a que os responsáveis pela gestão dos serviços da Assembleia da República reparem nos seus trabalhadores. Aplausos de pé. Todos os deputados presentes na sessão foram unânimes nesse reconhecimento.
Todos?! Não, há sempre um ou outro cromo que prefere a indigência. Agora estão lá sessenta cromos. Não desiludiram. A indigência é muito atrevida. Os palermas do costume manifestaram-se. Valem o que valem. Valem nada, mesmo que sejam sessenta. 
 
Mariana Mortágua vai continuar a servir a democracia. Obrigado, Mariana. Que a voz não te esmoreça. E até já.
 
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Pessoas que desenham a liberdade

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É uma ideia de António Jorge Gonçalves. Dois ilustradores por programa falam do seu trabalho: influências, curiosidades, indiosincrasias, motivos para desenhar. Vi a edição em que Nuno Saraiva e Mantraste dão ao badalo. Gosto muito deles e gostei de os ver e ouvir ali. O ambiente é descontraído. O desenho é protagonista. A arte, a evidência da originalidade, a criatividade em geral ganham muito com esta ideia do António Jorge Gonçalves. São notáveis documentários onde se percebe como funcionam alguns dos mais destacados ilustradores portugueses. Vale mesmo a pena perceber o que têm para dizer e mostrar. As peças passam na RTP 2. Procurem-nas na programação.
Parabéns, António.
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Ano novo, vida nova

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O ano de 2026 vai fazer mudar a DDLX Design Comunicação Lisboa. Vamos crescer, inovar, trabalhar mais. Vamos estar por aqui. E de onde estamos vamos para todo o lado. Até sempre, que é como quem diz: até já.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Pomada da cobra

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O facilitador de negócios que é primeiro-ministro está encantado com o ministério público. Caso encerrado, diz ele ilustrado pela falta de vergonha. O povo quer vigaristas no poder e quem aplica as leis protege-os. A desfaçatez faz o seu caminho. Tudo como no tempo do almejado ditador tão apreciado pelo parceiro líder do partido evangélico-fascista. "A velha história ainda mal começa, agora está voltando ao que era dantes", cantou José Afonso. Tudo está bem quando acaba em bem. Para eles é um regalo. Um raio que os parta a todos.

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terça-feira, 16 de dezembro de 2025

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Estes lustrosos pernósticos querem acabar com tudo o que é apoio público para depois brincarem à caridadezinha. Os lustrosos ajustadores neoliberais fazem tudo para justificar o fim de apoios públicos justos. Esforçam-se tanto que às vezes lhes resvala a boca para a verdade ideológica. 

 O ministro que se diz da educação veio agora lamentar o uso que os alunos mais pobres fazem das instalações que generosamente o governo lhes concede. O governo bem se esforça, dá para aí residências universitárias à farta, com tudo do bom e do melhor, mas esses pobres necessitados não dão valor a nada. Estragam sempre tudo. São uns mal agradecidos. A criatura disse o que disse e foi aplaudido. As declarações passaram nos jornais televisivos. 

 
Mas agora o senhor ministro que se diz da educação, diz que não disse o que disse, como se aquelas imagens tivessem sido concebidas por inteligência artificial, com a intenção de mostrar o senhor ministro que se diz da educação como um verdadeiro sociopata.
 
O ministro que se diz da educação até podia querer dizer outra coisa, mas disse o que disse. Partidos da oposição já falam em demissão do senhor que é ministro mas não sabe o que é educação. A demissão é mesmo a melhor solução. Quem quer um ministro da educação mal educado?
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segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Regresso ao passado

Os descontentes com o sistema elegem os sempre contentes com o sistema que os elege. O sistema democrático tem destas coisas: são os eleitores que escolhem os governantes, mas cada vez mais elegem quem governa contra eles. 
 
Este novo presidente do Chile é filho de um nazi (o que já é mau) que fugiu para o Chile e aí se encantou com Pinochet (o que é mesmo muito mau). Claro que os filhos não são culpados dos erros dos pais, mas neste caso a culpa criminosa do pai passa a honra para o seu filho: o respeitinho pelo passado do seu progenitor é assumido e promete agora aplicação. O novo presidente não se envergonha de Pinochet, como seria decente. Aceita o seu ajustamento neoliberal, como todos os neoliberais do mundo faziam até há pouco tempo, mas em silêncio. Agora apregoam o manual de normas do fascismo sem vergonha. Só que não lhe chamam fascismo. Chamam-lhe Liberdade, os trastes fascistas.
Diz que foi o povo que o elegeu com larga margem. Assim anda o mundo e o seu povo. O regresso ao passado é preferência do presente. E nós assistimos aos atropelos entre o espanto e o arrepio. Combatê-los é preciso.
 
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domingo, 14 de dezembro de 2025

É o cosmopolitismo, estúpido

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Para o provincianismo há só uma terapêutica: é o saber que ele existe. O provincianismo vive da inconsciência; de nos supormos civilizados quando o não somos, de nos supormos civilizados precisamente pelas qualidades por que o não somos. O princípio da cura está na consciência da doença, o da verdade no conhecimento do erro. Quando um doido sabe que está doido, já não está doido. Estamos perto de acordar, disse Novalis, quando sonhamos que sonhamos.

Fernando Pessoa Textos de Crítica e de Intervenção

Acordava, olhava, percebia e escrevia. O que escreveu esclarece e forma. A Língua Portuguesa sofisticou-se. Fernando Pessoa tornou-a sua pátria. O contexto em que escreveu "Minha pátria é a língua portuguesa" foi de grande desilusão com o mundo. O homem que parecia perceber tudo, não percebia — ou fingia que não percebia — o seu tempo em sociedade. "Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo, ou menos certo?", escreveu com a caneta de Álvaro de Campos. Também o provincianismo o incomodava. A falta de curiosidade dos seus contemporâneos em tudo o que existia para além do horizonte percetível incomodava-o. Há quem queira ficar apenas no seu território. Orgulhosamente sós, como desejava a tal criatura que o parolo que lidera os novos fascistas na Assembleia da República escolheu para sua referência de ajustamento.

Atrevo-me a não concordar com Pessoa, e, parafraseando-o, desminto-o: A minha pátria é o chão do mundo. É aí que me sinto acompanhado, perto de todas as línguas, trajes e sabores que o mundo solidário abraça. O provincianismo, o bairrismo amiguista, o nacionalismo cruel não são rapé da minha caixa. José Afonso, outro descontente com essa serôdia ideia de provincianismo, escreveu para uma música: "Há quem viva sem dar por nada, há quem morra sem tal saber". Tal como o doido que não sabe que é doido, o provinciano não sabe que o melhor da sua terra não são as estradas que vão lá dar, mas sim todos os caminhos que de lá saem e, dando a conhecer o melhor da sua terra, procuram o melhor nos outros lugares onde a autenticidade cultural foi desenvolvida pelos que lá estão. Os outros não são inimigos; são diferentes e assim devem continuar a ser quando convivem com os outros, que para eles somos nós. Nós somos sempre diferentes dos que estão no lugar onde fomos parar. E é nessa diferença que somos todos iguais. É esse cosmopolitismo que nos une e permite a diversidade. É nesse território que me situo e me sinto bem. É aí que escolhi estar. E é onde estou.

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sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

O ideal é debatermos ideias

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Não sou fã dos debates. Não vejo mesmo os debates em que participa o chefe de clã que defende a trilogia de salazares. Não consigo. Também nunca assisto ao escolástico exame final pelos comentadores. Mas hoje assisti ao debate entre Catarina Martins e Marques Mendes. 
 
Sejamos claros: Marques Mendes assume-se como possível vencedor e não quer debater ideias. Para ele não é importante ter ideias, mas apenas estratégia, e como tal não comenta as ideias políticas que não vão ao encontro do que as pessoas pensam. Ele acha que chega lá contornando a chuva pelos intervalos. Catarina Martins debate e tem ideias. Assume-se contra as ideias de direita, como é natural. É que ela é candidata da esquerda. Da minha esquerda, e eu estou com ela. A esquerda é alternativa. A direita é retrocesso.  
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Design de comunicação

Da série Grandes Primeiras Páginas.
Público de hoje, dia que se segue à Greve Geral "inexpressiva". 
 
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quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Inexpressivo és tu, e governas-te

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As medidas laborais que o governo quer impor são ferozes. A resposta dos trabalhadores foi uma Greve Geral marcante que o governo diz ser inexpressiva. Este governo, para além de violentamente reacionário, é manipulador e arrogante, e,  perdoem-me a violência da expressão, completamente imbecil. 

Somos governados por gente sem qualidades: culturalmente indocumentados, parolos, ignorantes mesmo, que apenas querem cumprir a agenda da extrema-direita que anda a saltar dos buracos imundos onde se escondia em todo o mundo. O governo português está a alinhar com afinco e entusiasmo com os novos fascistas. É facto. 

Mas existe o outro lado da moeda. Há sempre alguém que diz não ao atropelo que o retrocesso impõe. Os argumentos de Amaro e Montenegro para desvalorizarem a Greve Geral são básicos e indecorosos, no mínimo. O combate tem de ser contra a AD, a IL e  o partido salazarista. E não, não somos poucos. Somos muitos e não temos paciência para aturar parolos iletrados que se exprimem como vulgares tatibitates. Somos muitos, seremos muitos mais e não vos daremos descanso. Feitios. 

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