O ensino médio me deixou
calos nos dedos, uma gastrite nervosa, insônia pré-prova, estresse e amigos de
quem eu não vou me esquecer, trouxe também pessoas que estou rezando para nunca
mais encontrar na vida – nem na fila da padaria. Me deixou bons momentos e
outros de tristeza e choro e “Aí meu Deus, o que eu faço agora?” e inúmeras
histórias para contar, dias para me lembrar e sentir saudades, muitas saudades,
como eu sei que eu vou.
Por alguns momentos, cheguei a duvidar
sem um dia essa rotina de uniforme completo, almoço no restaurante da esquina e
“Ou, compra um suco na cantina pra mim?” iriam acabar. A greve da federal, o
vestibular adiado, a maratona prolongada. O tapa na cara que o ENEM me deu, a
aprovação na PUC que só aumenta a ansiedade pela UFG, a recuperação em
matemática que me pegou tão de surpresa que cheguei em casa e chorei duas horas
seguidas sem explicar nada pra ninguém.
Enfim, foram tantas coisas, foram tantas
pessoas, que três anos mesmo que tenham passado rápido de mais, em alguns
momentos me pareceram eternidades e talvez sejam estes os momentos que eu vou
esquecer com maior rapidez, mesmo que o meu relógio mental tenha
cronometrado-os como mais longos.
Um primeiro ano cheio de intrigas,
panelinhas e um mundo novo pra novata que veio da escola fraca e não sabia nada
de nada. Um segundo ano estável, com seus escândalos típicos de seriados
estadunidenses, uma união incrível e a vitória dos jogos internos do colégio.
Um terceiro ano marcado por muito medo, nervosismo e pela separação da nossa
turma.

As amizades que foram surgindo com o
tempo: a Alice, que me chamou a atenção por ser parecida com uma blogueira
famosinha e que apesar de ser o poço de metidez que me pareceu a primeira
vista, também foi nesses anos uma excelente amiga -mesmo tento me derrubado no
chão e me unhado - que esteve comigo quando eu precisava andar sem rumo comendo
uma barra de chocolate no sol das 2 da tarde, quando derrubamos macarrão no
supermercado, vimos duas prostitutas/travestis semi-nuas na rua, fomos
ameaçadas por uma transexual no restaurante e corremos feito loucas de três
maconheiros, que resolveram nos assaltar no caminho da escola ao restaurante
oriental do Wal-Mart. Fizemos o bolo colorido mais catastrófico da história mundial
e os cookies de aveia mais cheios de manteiga do mundo (talvez nosso negócio
não seja cozinhar), sentamos juntas nas duas viagens à chácara do colégio e ela
colheu pitangas na árvore para mim só porque sou linda.
O Igor que com toda a sua gordura corporal
me saiu um amigo e tanto! Um amigo que devora a comida da minha casa, quer
mostrar a barriga de tanquinho pra minha mãe, posta minhas fotos lindas
espontâneas no Facebook, ameaçou me trocar no recreio pelo meu irmão de 11 anos
e se acha só porque foi “pras Europa” e voltou metido. Alguém que eu e o
digníssimo já escolhemos pra ser padrinho do nosso futuro filho, então já está
proibido de ir embora da minha vida porque eu ainda preciso ficar tentando
arrumar mulher pra você e porque assim como o Chandler vai ter que fazer com o
Joey em F.R.I.E.N.D.S, ou eu ou o Daniel vamos ter que deixar você morar no
nosso porão.
E por falar nele, a “praga do inferno”,
Daniel, que vai ganhar cem mil por mês e dominar o mundo e que mesmo sendo o
mais fechado dos meninos, é também um dos mais próximos e como essa proximidade
também é literal – afinal sento perto dele desde sempre- é ele quem escuta minhas historias,
reclamações, horários no salão de beleza da Sheila, ameaça me pôr na camisa de
força, adora uma fofoca, teve amores recalcados em todos os anos do ensino
médio, é a cara do Mattew Perry, minha dupla de prova de sociologia e filosofia
e é também a mão que eu unho quando estou com raiva, ou esmago quando estou com
cólica. Sei que ele nunca vai se esquecer de mim pela minha feiúra marcante,
porque escrevi Pornografia no estojo dele, fiz a melhor biografia do mundo
sobre ele e porque eu tenho o número do pai dele gravado no celular e ligarei
caso ele não queira me atender.
O Matheus com quem eu era MUITO implicada
no primeiro ano porque ele discordava de mim no grupo de prova de biologia e
chutava minha cadeira durante a aula, mas que hoje é um ombro amigo, por quem
minha mãe pergunta quase toda semana, que conseguiu conversar com meu pai por
horas e horas, é dono do Negão, o cachorro mais manhoso que eu conheço e foi na
casa dele que eu passei pano de chão: raridade,honra, motivo para se orgulhar.
Talvez o que eu vá mais me lembrar do Matheus no futuro seja de uma manhã de
quinta feira, antes da primeira aula de matemática, que ele colocou um fone de
ouvido em mim e disse “Vou te mostrar uma música massa, chique de mais.” e
começou a tocar a coisa mais brega que eu já tinha escutado no ano, mas que de
um jeito ou de outro, melhorou meu dia que já tinha começado péssimo.
O Ronan, que apesar da sua semana de
depressão mensal, já me fez dar muitas gargalhadas, principalmente com sua
frase histórica do “Deixa a garrafa de Coca na rua pro mendigo ficar com a boca
dociiiiiiiiinha”. E entre um “E aí, como vai a vida?” e outro, já conversamos
muito sobre muitas coisas, namoros, rolos, futuro e quando a situação apertava,
voltávamos para o nosso plano ideal de plantar drogas na Colômbia, ficar ricos,
administrar o negócio de longe e viajar pelo mundo, com parada obrigatória em
Ibiza para que ele pudesse se divertir um pouquinho se é que vocês me
entendem... O Rô saiu do colégio no segundo ano para se dedicar a um sonho e
apesar de ter deixado saudades, ele fez o que muitos de nós gostaríamos de ter
feito e não tivemos a coragem de fazer.
A
mais feia de todas as pessoas que eu conheci naquele colégio, metida,
respondona e que virou gente grande no meio do terceiro ano e abandonou a gente
pra se exibir no ensino superior. Eu não gostava da Marielle quando ela entrou
na escola, pura invejinha e ciúme dos amigos, mas depois que fui obrigada a
sentar do lado dela durante um semestre, comecei a suportar a enjoada e muito
de vez em quando sinto a falta dela lá na sala...
E depois que a Mari foi-se embora, a
Vanessa tímida, calada, quietinha, do outro lado da sala veio sentar no lugar
que era dela e com o tempo e talvez como estratégia de sobrevivência, foi se
soltando até nos tornarmos amiguinhas, mesmo ela sofrendo diariamente com o
bullying de uma turma inteira por causa de um romance que a gente inventou.
Chorona, mal podia imaginar a possibilidade de ter ido mal em uma prova, quase
fomos ver ela dançar com guarda-chuvinha no colégio e passamos muita vontade
nela com o chocolate que ela não pode comer até passar o vestibular.
Uma que vai deixar um aperto enorme no
coração é a Juliana, que fugiu pra Minas só pra nunca mais ter que ir na sala
do Adelimar ou da Júlia resolver alguma coisa lá da sala. Super “abraçativa”,
carinhosa, era alguém com quem eu atravessava a sala só pra parar na frente
dela e dizer “To ferrada” ou pior ainda “Tá tudo ferrado”. A Ju, era uma força
que equilibrava a sala e que unia a gente pelo que queríamos e é alguém muito
insubstituível e que eu dei muita sorte de ter convivido. Rachel Green, vulgo
Mariana Paiva, cúmplice dos meus olhares durante as aulas de inglês porque é
necessário ter alguém com quem rir de certas coisas na vida, idealizadora do
projeto “Waffle House em Goiânia!” e que pelo pouco que conheci, já mostrou ser
uma pessoa super legal, que eu terei sorte se continuar encontrando ela por aí
depois que esse inferninho acabar. Legal como ela tem também a Victória, sempre pareceu bem nerd, mas na verdade, quando se solta, só faz a gente rir.
A Julia (sem acento no U, senhor corretor
ortográfico), minha fofa da jurema pra quem eu ainda devo um real e que me
mandou um trecho de um texto meu aqui do blog por dias, até nós duas decorarmos
ele. Jamais imaginei que eu a teria como amiga, mas já conversamos, desabafamos
e eu torço pra que ela não me esqueça quando tudo isso acabar porque eu com
certeza não vou me esquecer: das nossas risadas, dos nossos desesperos juntas,
dos abraços de bom dia, da caridade que ela fazia toda quarta me escolhendo pro
time dela na educação física e de tudo que já passamos nesses últimos anos.
Loris, minha futura colega de direito na
UFG e que nunca foi concorrente porque eu sei que a gente vai passar essa
pequena barreirinha (a prova de que aprendi a usar eufemismos nas aulas de
gramática está aqui) juntas e que me falou no 1º ano que não podia ficar no
corredor de cima durante as aulas da tarde. Parecida metida, parecia esnobe,
parecia enjoadinha, mas não é nada disso.Tem a mãe do Red Wilson do cabelo
sempre improvável, que nos apelidou de “amiguinhos” e me fez rir tanto quando
sentava atrás de mim no segundo ano, com a história do sapo que ela queria
criar desde girino se não ele não ia amá-la, com o grito no meio da sala
“Alguém sabe quem ganhou o Raul Gil?” e a incrível teoria de que se ela
tampasse o nariz, iria gostar de todo mundo já que não estaria sentindo os feromônios
dessas pessoas. A Karolzinha fofa, meiga, engraçada e que tem uma risada muito
marcante, um jeito despreocupado de ser e que me fez muito feliz por ter me
chamado para pedir um conselho sem eu nem saber que tinha essa moral toda.
A Victórya com quem já tive meus altos e baixos, meus momentos ruins e meus momentos bons. Ela que já teve um texto que deu o que falar baseado na minha amizade com ela aqui no blog, que fez brigadeiro na minha casa e me acompanhou em uns programas de índio no passado... E ela sabe, que "apesar dos nossos espinhos", somos o que sempre fomos, mesmo com desentendimentos, briguinhas, tempos sem se falar, temos muita história para contar.
O Gustavo do Harry Potter, que eu
fiquei devendo brownie e paguei com bolo de chocolate,que me conheceu por esse
blog e fez parte de altas conversas de madrugada no final do ano passado e
ínicio desse com outros amigos, ganhando o apelido de Pé de Alface. O Renan que
também estava nessas conversas e que hoje aperta minha bochecha em todo santo
recreio e passou a mão suja de xixi no meu rosto. E nessas conversas também
estava o Príncipe da Barbie metido, Pedro Paulo. E como ele, houveram outros amigos nesses anos, que mesmo tendo sido próximos por pouco tempo, me marcaram, e citar nomes seria ficar aqui até amanhã.
Minha amiga há seis anos, Anna
Victoria, que passou por dificuldades muito parecidas com as minhas e talvez
isso tenha sido a motivação maior para os nossos “safáris” no recreio, onde
conversamos e nos ajudamos dentro do possível. Sempre andando com a Mariana
Guimarães, cheia de histórias sobre férias e a Michelly, metida só porque usa
os acessórios mais lindos.
O Cléber do violão e das músicas que
eu conheço, os Gabrieis: Lucindo e Damatta que apesar de terem o mesmo nome são
completamente diferentes e cheios de características marcantes que os diferem
na nossa memória. O Galvão, que me cumprimentava sempre com o “E ai,
Marcellinha?”, o Vitim que fazia falta quando não descia pra almoçar com a
gente e que o Sancho consultava nas aulas de história. O Rodrigo Paizim com as
histórias da cidade dele e que quase matou uma senhora nas férias, o Alvim
viciado em coca e as ótimas de papo, Amanda e Sarah.

E esse texto era pra ter
uma página do Word no máximo, mas não tem como sintetizar sentimentos, ainda
mais quando se tratam de amigos que estivera com você em momentos difíceis e
felizes, que me abraçaram na rampa do colégio quando eu não contive as lágrimas
e que pularam comigo na arquibancada da quadra para torcer pelo nosso time.
Portanto, antes de escrever o “- Marcella Leal” de todo post aí embaixo, eu
tenho que agradecer a cada um de vocês pelo carinho, por me ouvirem, me
entenderem e por terem enchido minhas memórias de coisas boas: Obrigada por
serem assim, tão especiais e por terem feito meu ensino médio ser muito mais do
que só conteúdos, e cada um de vocês contribuiu para isso, os citados, os não citados, todos. E enfim:
-
Marcella Leal
PS- Caso leiam, me deixem
saber pra eu correr de vocês por vergonha no colégio, através da caixa de
comentários.
* Se esqueci alguém muito importante, por favor (mesmo), me desculpem e me avisem no colégio =/