Querer falar ele queria, mas não sabia muito como dizer que tinha lá seus problemas. Contava meia dúzia de piadas, todo mundo ria e voltava. Jurava que só era gostado por saber divertir o povo.
De repente, no meio da tarde, recebia uma mensagem: alguém lhe perguntava se dava pra adiar compromisso certo, emprestar uma grana ou mudar algum horário. Melvis sabia: se falasse que não ficava bom pra ele, podia não ser amado. Era melhor dizer sim e seguir pra próxima piada.
A vida passou, o povo começou a trabalhar, constituir família e casar e Melvis continuava sentado no banco contando piada. Como não conseguiu falar, ninguém pode ouvir. Todo mundo jurava que Melvis estava as mil maravilhas.
Tudo que não saiu em fala, veio em grito. E seu grito soou como um revólver. As mesmas pessoas que se acabavam de rir com suas piadas, começaram a ter medo dele.
Melvis chorou baldes quando viu que o povo se escafedeu. Como ia deixar de fazer rir para contar seus problemas? E será que adiantaria algo sentar a mesa para contar problemas? Como falaria um “não” quando algo não estivesse bom pra ele? Perderia todo mundo?
O povo resolvia os problemas . Ele não. Ao mesmo tempo, não foi ele que arrumou casamento nem trabalho pra ninguém. O povo com seus problemas foi à luta. E pra falar um “não”…. bastava falar um “não”! Ninguém morre com um “não”. Mas cada vez que não falasse, quem perdia um pedaço era ele mesmo.
E contar piada não precisava ser uma missão. Aaaaah: ele não contava por obrigação. Tinha um prazer de fazer o povo rir. No fundo, tinha prazer.
Dia seguinte, Melvis saiu à rua e avistou uma padaria nova. Resolveu experimentar a média com pão na chapa; dar as boas vindas. Achegou-se ao dono, contou a história do bairro todo: o que abriu, quem se deu bem, que não. Fez meia dúzia de piadas, perguntou da vida do proprietário, que disse: “ escute, o senhor conhece bem seu bairro. Estou precisando de alguém que convide o povo pra cá. E o senhor é animado também. Quer fazer a propaganda da minha padaria? Podemos acertar uma comissão. O senhor me parece fazer isso com o pé nas costas. Acabou de me vender a sapataria, a lavanderia, a costureira, o eletricista. Topas?”
Acho que Melvis não precisa mais gritar.
por Gisela Gold
As avós já diziam: “É de menino que se torce o pepino.” E alguém era burro de tentar segurar aquele moleque com ginga de negão que fez o queixo de todo mundo cair com seu passinho para trás que todo mundo tentava imitar e ficava amador. Da Motown à Marte, se bobear, quis dar uma passadinha na lua com seu moonwalk. O grande inventor do grande passinho do século XX. Se bobear até um pivete de cinco anos de hoje ainda vai tentar imitar. E quando tentar seu pai vai cantar “Thriller”. O garoto vai gostar sem saber de quem é. E o pai vai dizer que fez muito aquilo nas festinhas.