domingo, dezembro 28, 2025

Hulk contra as hordas do General Fang

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No número 5 da revista The Incredible Hulk fica claro que Stan Lee e Jack Kirby ainda não sabiam o que fazer com o personagem.

A revista trazia duas histórias, as duas com versões muito diferentes do golias esmeralda que conhecemos atualmente.

Na primeira, um tal de Tiranus foi banido ao interior da terra por Merlim e lá encontrou uma legião de seres dispostos a servi-lo de todas as formas possíveis. É curioso como o interior da Terra era movimentado nessa época e como sempre havia seres dispostos a se transformarem em escravos de qualquer um que aparecesse por lá. O Toupeira que o diga.

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O Hulk dessa época era falador e sabia usar armas. 


Aparentemente, a única coisa entre Tiranus e o domínio do mundo é o arsenal atômico dos EUA e para neutralizar isso, ele pega Betty Ross como refém. Aparentemente, ele só queria conquistar os EUA, já que não se preocupava com o arsenal atômico russo. Além disso, uma única refém seria o suficiente para que o governo dos EUA entregarem o país nas mãos de alguém chamado Tiranus?

Rick Jones e Hulk vão ao seu encalço, mas o Hulk é neutralizado pelo seu amor por Betty Ross, sendo transformando em prisioneiro e até escravo. Hoje em dia isso parece no mínimo estranho.

Mas o mais espantoso é a aventura seguinte, As ordas do general Fang!

A aventura é uma nítida referência à tomada do Tibet pela China. O Lama é avisado de que o exército chinês está se aproximando, chefiado pelo impiedoso general fang e pede ajuda internacional.

Só quem vai em seu socorro é Bruce Banner.

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O general Fang era fanho? 



E aí começam os problemas. Nas primeiras histórias, Banner se transformava em Hulk durante a noite. Nesta história, sem nenhuma explicação anterior, ele começa a se transformar usando um aparelho acionado pelos pés. Além disso, o Hulk que emerge é inteligente, a ponto de ler livros e fazer estratégias (a estratégia criada por ele é se disfarçar de abominável homem das neves (Ok, talvez isso não seja uma estratégia muito inteligente). Além disso, o personagem resolve viajar até o local e ao invés de se transformar novamente em Bruce Banner, faz isso como o Hulk, o que gera o maior confusão no avião, cujo final não é mostrado.

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Disfarçar-se de Abominável Homens das Neves. Que ideia, genial, Hulk! 


Além disso, não havia um modo de falar característico do personagem. Na verdade, seu jeito de falar era muito parecido com o do Coisa: “Chegamos em Formosa! Vou parar um pouco para recuperar o fôlego! No próximo salto, chegaremos na China vermelha! Você ainda está aí, pivete?”.

A revista mostra que Kirby e Lee estavam tateando, tentando encontar o tom e as características do personagem. Apesar disso, o clima divertido, que não se levava muito a sério, faz com que seja ainda hoje um prazer ler a história.

Fundo do baú - Vigilante rodoviário

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Vigilante rodoviário é um seriado brasileiro exibido pela TV Tupy na década de 60. A atração foi criada e dirigida pelo cineasta Ary Fernandes. Ary sentia falta de um herói brasileiro no meio da grande quantidade de enlatados norte-americanos exibidos na TV brasileira e escolheu um vigilante rodoviário por conta da admiração que sentia pela Polícia Rodoviária.

A série segue as aventuras de Carlos, um policial que patrulha a rodovia Anhanguera, em São Paulo pilotando uma motocicleta Harley-Davidson ou dirigindo um automóvel Simca Chambord. O herói conta com a ajuda do seu cão Lobo.

O seriado passava logo depois do Repórter Esso e era patrocinado pela Nestlé.

A abertura mostrava o garboso policial guiando sua motocicleta pela rodovia enquanto ao fundo tocava a música também criada pelo Ary Fernandes: “De noite ou de dia,/firme no volante,/vai pela rodovia,/bravo Vigilante!/Guardando toda estrada,/forte e confiante,/é o nosso camarada,/bravo Vigilante!”.

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A série fez tanto sucesso na época que chegou a ter uma revista em quadrinhos escrita por Gedeone Malagola e desenhada por Flávio Colin.

Jonah Hex – Coragem de gafanhoto

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Na história Coragem de Gafanhoto, publicada em Weird West Tales 16, Jonah Hex chega a uma cidade em busca de dois bandidos que fugiram da prisão. Como caçador de recompensas, ele prefere entregar os bandidos mortos do que vivos – e é o que acontece quando os dois tentam atirar contra ele.

Mas há algo mais acontecendo na cidade. Uma diligência foi atacada e o dinheiro dos rancheiros foi roubado. Para piorar, o xerife é um inepto.

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Uma moça contrata Hex para ajudar um xerife inépto. 


Uma garota rica, apaixonada pelo jovem xerife, procura Hex e oferece a ele 500 dólares para que ele se junte ao xerife na busca pelos criminosos. “Garota, por 500 pratas eu vou até o inferno e volto com o seu querido gafanhoto”, afirma o caçador de recompensas.

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Mas nada é o que parece. 


Essa é uma daquelas histórias em que nada é o que parece. Isso é algo típico da série, pelo menos na fase escrita por John Albano. Mas aqui a virada é totalmente imprevisível, mostrando que não se podia confiar em ninguém quando se tratava do velho oeste. E no final das contas, um assassino caçador de recompensas como Jonah Hex poderia ser o mais próximo que se poderia encontrar em termos de ética nesse período.

sábado, dezembro 27, 2025

Cisco Kid

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Cisco Kid surgiu em 1907, em uma novela de O´Henry. Fez tanto sucesso que logo foi convertido para o cinema em vários filmes. O personagem era um típico cowboy clássico, com sua roupa preta, seu chapelão de abas largas e Pancho, seu companheiro bonachão, inspirado em Sancho Pança. Em 1944 a editora Comic Book tentou adaptá-lo para os quadrinhos, sem sucesso. Em 1948 um novo filme do personagem fez um sucesso estrondoso e levou ao surgimento de uma série de TV. O interesse pelo personagem era maior do que nunca e a Dell resolveu investir na adaptação para quadrinhos. O roteiro ficou a cargo de Rod Reed e as histórias eram desenhadas por Alberto Giolitti. Dessa vez o sucesso do gibi foi imediato, chamando a atenção da King Features Syndicate, que contratou Reed para escrever as tiras do personagem e um desenhista argetino, José Luís Salinas, para ilustrar. Era uma dupla perfeita. O texto de reeed era ingênuo e otimista sem ser infantil e Salinas, um fiel seguidor de Hall Foster conseguiu captar perfeitamente a essência do personagem. 

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Na primeira história, Cisco ajuda um fazendeiro cujo gado está sendo roubado. 


No Brasil, algumas dessas tiras foram publicadas num álbum da LPM em 1987. O álbum reúne duas aventuras do personagem. Na primeira, um fazendeiro está tendo seu gado roubado e contrata vários pistoleiros para ajudarem a pegar os ladrões. Ocorre que os pistoleiros são justamente os que estão roubando o gado, a pedido do vizinho “melhor amigo” do fazendeiro. 

Tudo parece estar dando certo até o aparecimento de Cisco Kid e Pancho. Cisco salva o fazendeiro de uma emboscada, a filha do fazendeiro se apaixona por ele e ele promete ajudar a descobrir quem está roubando o gado em sequências maravilhosas de ação com desenho inspirado de Salinas e diálogos afinados de Reed. O maior problema aí é o formato das tiras, que não permitem ver a arte como essa merecia. Páginas dominicais funcionariam muito melhor. Mas de resto, tudo funciona. Destaque para o humor. À certa altura, o vizinho inventa que Cisco Kid está sendo procurado por três xerifes, ao que ele retruca que na verdade são seis. No final, descobre-se que os xerifes estão de fato à procura dele, mas para condecorá-lo.
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Na segunda história, ladrões roubam o trem se fazendo passar por Cisco. 


Na segunda história, o dono de uma companhia de diligências está indo à falência devido à concorrência da estrada de ferro e decide chamar Cisco Kid para ajudá-lo. A história, embora seja uma aventura, tem um tom de comédia de erros. A chegada de Cisco na cidade faz todos acharem que ele irá realizar algum atentado contra a locomotiva. Dois badidos resolvem aproveitar a situação e vestindo-se como Cisco e Pacho e roubam o trem, colocando a culpa nos heróis. Segue-se uma série de equívocos que levam Cisco à prisão, mas depois à elucidação do caso, com o típico final feliz. No meio de tudo isso, claro, a filha do dono das diligências se apaixona por Cisco Kid. O destaque negativo da edição vai para a capa. Com tantas ótimas imagens de Cisco no traço de Salinas, a LPM escolheu logo uma em que o herói mal aparece.

Perry Rhodan 69 – A morte espera no semi-espaço

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Nas primeiras aventuras, para conseguir o dom de não envelhecer, Rhodan, Bell e o exército de mutantes precisavam, a cada 62 anos, se submeter a uma ducha celular no planeta Peregrino. O número 69 da série mostra o grupo se deparando com os problemas relacionados a uma das tentativas de conseguir essa ducha.

Acontece que o planeta peregrino tinha, no número anterior, sido sugado pela dimensão dos druffs e, quando saiu foi para um espaço desconhecido, que parece estar entre as dimensões.

O volume é escrito por Kurt Mahr, que era pouco eficiente em desenvolver tramas humanas e esse é um livro que quase nada acontece. Clark Darlton compensaria isso criando tramas no planeta peregrino, que apresenta simulacro de indivíduos de todas as espécies da galáxia. Mahr preferiu ficar num campo mais confortável para ele, assim ele enche a metade do volume de descrições técnicas e “teorias matemáticas” sobre esse espaço entre as dimensões.

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Essa parte inicial, que ocupa simplesmente metade do volume, seria de dar sono, não fosse por duas sequências: aquela em que Ras Tschubai quebra o próprio braço para escapar de uma armadilha e aquela em que Rhodan entra numa crise de consciência, perguntando-se se vale todo esse esforço de centenas de pessoas para que ele e mais alguns continuem jovens. Essa última dá humanidade para o personagem, que muitas vezes parece perfeito e seguro demais.

A coisa se torna realmente interessante quando Bell em uma nave pequena e Rhodan em outra conseguem alcançar o planeta peregrino. Os motores de ambas as naves pifam e aparentemente nenhum dos dois conseguirá alcançar a cidade a tempo de reativar a ducha celular. A forma como Bell consegue isso de fato uma sacada interessante.

Esse volume se destaca por ser a primeira vez em que os leitores descobrem que o ativador celular usado por Atlan foi presenteado a ele pelos habitantes do planeta Peregrino.

Amapá/Calçoene - Pontos turísticos

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 A cidade de Amapá fica a aproximadamente 300 quilômetros de Macapá e concentra diversos pontos turísticos, a maioria deles situados na estrada para Calcoene. 

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A maior parte da estrutura da base aérea é camuflada para evitar bombardeios. 

O primeiro local a se visitar é a Base Aérea, na AP 116. Ela foi construída por norte-americanos na época da II Guerra Mundial e tinha como objetivo proteger a Amazônia e facilitar ataques de aviões aos submarinos do eixo. Como havia o risco de ser bombardeada por aviões nazistas, boa parte da estrutura era camuflada. Infelzmente, depois de tanto tempo, sobrou muito pouco, mas mesmo assim vale a visita. 

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A água criou piscinas naturais. 
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O balneário Los conta com flutuador e tirolesa. 

Pouco depois da base aérea, já na BR 156, fica o Balneário e pousada Lós. O local conta com Tirolesa, flutadores e prancha de surf. A água escavou a pedra, formando uma verdadeira psicina natural. 

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O balneário fica debaixo da ponte. 

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A água formou uma pequena praia. 
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As ávores fornecem sombra para os banhistas. 



Exatamente na divisa entre Amapá e Calçoene fica o balneário Beira Rio. O desnível da água criou uma pequena cachoeira debaixo da ponte que separa os dois municípios. Há uma praia à beira do rio muito agradável e ótima para banho, com um pouco de correnteza. As árvores em volta da praia providenciam sombra para os banhistas. 

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A praia é um bom local para banho, mas é preciso ter cuidado com a correntesa. 


Finalmente, já no município de Calçoene, fica a Cachoeira Grande. É um local de beleza única e ótimo para tirar fotos, mas, ao contrário dos outros balneários, tem um banho perigoso devido à correnteza, mesmo na área de praia.   

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A pousda Cactus, onde nos hospedadmos, fica no centro de Amapá. 

A arte revolucionária de Sergio Toppi

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Sérgio Toppi é um dos mais importantes artistas italianos de quadrinhos. Seu estilo revolucionário influenciou gente do naipe de Bill Sienkiewicz, Walt Simonson e Frank Miller. Seu estilo brincava com as imagens, muitas vezes distorcendo-as e brincando com os espaços em branco. Ele estreou  nos quadrinhos na década de 1960, mas só ficou realmente famoso na década de 1970, quando começou sua colaboração com a editora Bonelli. Entre os seus trabalhos mais famosos estão os álbuns da coleção Um homem, uma aventura, publicados no Brasil pela editora Ebal. Ele chegou a fazer também capas para a Marvel Comics. Sergio Toppi morreu em 2012. 

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Uma titânica tolice dos Titãs

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O número 20 da revista New Teen Titans trouxe, além da história original, uma deliciosa HQ humorística que mostrava bem o quanto a dupla Marv Wolfman e George Perez estava entrosada.

Na história, um cientista maluco (bem aos moldes do Dr. Silvana – vilão de Shazan) descobre qe existe uma outra terra, na qual os super-heróis não existem, a não ser em revistas em quadrinhos.

Ele resolve, então, sequestrar os criadores da revista dos Novos Titãs para descobrir os segredos dos heróis e, assim derrotá-los.

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A HQ é totalmente metalinguística. 


Totalmente metalinguística, a HQ mostra Marv Wolfman e Georte Perez na sede da DC Comics, tentando conversar com o editor Len Wein (que não lhes dá atenção). Em outro momento, todo um quadro é deixa sem cenário para “dar uma folga para o arte-finalista Romeu Thangal”.

Algumas sequências misturam humor metalinguístico com referências a outros mestres dos quadrinhos. Em determinado trecho, Wolfman e Perez são presos num local cheio de mecanismos. O desenhista diz que não sabe onde estão, mas ainda bem que não vai precisar desenhar todos aqueles detalhes. O vilão esclarece: “Esse é um típico laboratório de cientista louco! Comprei de um cara chamado Jack Kirby!”.

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"Ainda bem que não vou precisar desenhar esse cenário". 


A história, de apenas cinco páginas,  é puro humor no estilo MAD, a ponto de, no lugar dos créditos, aparecer um bilhete: “Ninguém quis assinar essa porcaria”. Ironicamente, o resultado é muito bom e marcou muitos leitores.  

No Brasil essa história foi publica pela editora Abril em Novos Titãs 2. Em tempo: é preciso tirar o chapéu para os tradutores por terem adaptado muito bem diversas situações de humor da história.

O Coringa – O risco duplo do Coringa

 

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O Coringa é o vilão mais carismático do Batman, tão popular que no ano de 1975 ganhou revista própria.  Escrita por Denny O´Neil e desenhada por Irv Novick e Dick Giordano, a história mostrava Coringa tentando passar a perna no Duas Caras, que havia sido libertado da prisão por um bandido chamado Señor Alvarez. Toda a trama é desencadeada por uma frase do bandido: “Necessito de um verdadeiro mestre do crime – e o Duas Caras é mais qualificado do que você, senhor Coringa!”.

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O Coringa empreende uma fuga espetacular... 

Embora o tom das histórias naquela época fosse mais infantil, algo que chama a atenção é a criatividade dos roteiristas. Exemplo disso é a fuga da palhaço. Ele parece estar brincando com balões presenteados pelo pessoal da caridade, mas na verdade a bomba estava cheia de hélio. Quando os guardas resolvem atirar, descobrem que suas armas foram trocadas por itens que disparam um pano com a cara do coringa.

Uma saída triunfal que só vai se igualar à entrada triunfal no quarto onde o Duas Caras e Alvarez estão hospedados. O Coringa simplesmente sai do carrinho de comida jogando ácido nos adversários.

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... e uma entrada triunfal. 

O Duas Caras, por outro lado, é fascinado pelo número dois, o que leva a um equívoco: o Coringa acha que ele vai roubar os dobrões espanhóis no dia 2 e se antecipa, mas o adversário já estava lá, pois ia atacar às 2 horas da madrugada.

Mesmo sendo uma revista do Coringa, o comics code não permitia que um vilão se desse bem, de modo que tanto o Coringa quanto o Duas Caras são presos no final, em um curioso plot twist.

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O Duas Caras tem hiper-foco no número 2. 

Denny O´Neil ficou conhecido por dar um ar mais sério e sombrio para o Batman e pelas tramas políticas da série do Arqueiro e Lanterna Verde. Mas aqui ele mostra que sabia muito bem fazer uma história divertida usando todos os elementos da era de prata da DC comics.

Mindhunter: na mente dos assassinos

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“Quem combate os monstros deve tomar cuidado para não se tornar também um deles. Se você olhar para a face do abismo, o abismo olhará para você”. Essa frase de Nietzsche é o melhor resumo da nova série da Netflix, Mindhunter.
Mindhunter foi criado por Joe Penhall com produção e direção de David Fincher, o famoso diretor de Seven e Clube da Luta.
Baseada em fatos reais, a série mostra como foi montada a divisão do FBI que entrevistava serial killers para fazer o perfil psicológico hoje usado pela polícia. E tudo começa meio que por acaso: um dia, quando estavam fazendo palestras para os policiais, um dos membros da divisão comportamental resolve visitar Ed Kemper na prisão. Big Ed é um dos mais famosos psicopatas de todos os tempos, tendo sido responsável pela morte e decapitação de jovens universitárias e até da própria mãe.
O que era uma atividade clandestina logo se torna uma divisão do FBI quando fica claro que o perfil criado a partir da entrevista com o Big Ed pode ajuda a prender outros criminosos.
Mas Mindhunter não é sobre infalíveis agentes do FBI prendendo psicopatas. Há muito pouca ação. A ênfase na maioria das vezes está nas tensas entrevistas com os assassinos e na forma nem sempre ética usada para conseguir as informações. E, principalmente, na maneira como isso mexe com o psicológico dos dois agentes responsáveis pelas entrevistas, afetando suas vidas profissionais, familiares e até sexuais.  
Mindhunter é um dos seriados mais inteligentes dos últimos tempos. 

sexta-feira, dezembro 26, 2025

Malícia no país das maravilhas

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A forma como consegui o álbum Malícia no país das Maravilhas, de Wallace Wood, é curiosa. Eu achei em um sebo de Curitiba um encadernado com álbuns eróticos publicados pela editora Concorde que era, nada mais nada menos que um selo da editora Acti-Vita, curiosamente uma editora educativa. O encadernado juntava material mediano, como As aventuras de Liz e Beth e tosqueiras, como O diário de Laura, de um tal de C.A Martinez. Já ia colocando de volta na prateleira, quando, lá no final, encontrei o álbum de Wood. Um material que, na época, deve ter passado batido dos fãs de quadrinhos, pois a capa não era dele e não havia qualquer outra referência a ele na capa.

O álbum traz várias histórias eróticas de Wood, com destaque para a adaptação de Alice no país das maravilhas. A história, completamente sem sentido, brinca com algumas situações do livro. Por exemplo, à certa altura, Malícia come uma fruta pensando em crescer, mas o que crescem são seus seios. No álbum, aliás, qualquer motivo é motivo para as mulheres mostrarem os seios – o que dá uma oportunidade de Wood de mostrar como sabe desenhar o corpo feminino. Os homens, ao contrário dos homens, que são sempre feios e caricatos.

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Asterix, o suruba é uma sátira aos mais variados tipos de quadrinhos. 


Além de Alice, Wood adapta os contos de João e Maria, A bela adormecida, mas as histórias mais interessantes são que não são adaptações de contos e fadas.

Asterix suruba, o terrível é uma referência direta aos quadrinhos underground – e Wood imita os artistas desse movimento, inclusive na diagração e no título da história. A trama gira em torno de um desenhista de quadrinhos que encontra um mago e este lhe ensina uma palavra mágia, Asterix (Agradável, Surpreendente, Triunfante, Espantoso, Revolucionário, Inteligente, Xenófobo), que quando dita o transforma em um super-desenhista, disputado pelos editores. Wood consegue, em uma só página, satirizar os quadrinhos underground, os quadrinhos europeus e os super-heróis americanos.

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Dale é sempre salva por Flasher, mas quando é ela que o salva... 


Há sequências geniais, como quando o protagonista se transforma na frente da secretária e ela parece estar mais interessada nas palavras-cruzadas: “Carneiro selvagem de chifres com sete letras?”, pergunta ela.

O pesonagem, transformado pela palavra mágica não só se transforma em um grande desenhista (inclusive em tamanho), como se torna um astro sexual, protagonizando diversas fitas. Era Wood literalmente satirizando toda a indústria dos quadrinhos com um humor para lá de ácido.

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Dragonela satiriza as histórias do Príncipe Valente. 


Flasher Gordon é outro grande momento do álbum. Na história, Dale Arden está sempre à mercê de vilões lascivos, mas acaba sendo sempre salva pelo herói, que se aproveita dela. Mas quando é ela que o salva, a situação sofre uma hilariante reviravolta.

O álbum fecha com a história “Meu universo”, no qual Wood, de forma levemente autobiográfica, reflete sobre seu trabalho erótico (há uma outra história parecida, mas com foco na ficção científica). A HQ é emocionante, especialmente no final, quando o autor diz: “Meu univeso é aquele que crio, aquele nasce em meu espírito e que ganha vida sobre o papel com muito amor e suor, porque eu sou um desenhista de histórias em quadrinhos... eu me chamo Wallace Wood”.

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Meu universo é uma emocionante história com toques autobiográficos. 


Em tempo: boa parte dessas histórias foram posteriormente publicadas na revista Porrada, que aproveitou a tradução feita pela Concorde.