sábado, dezembro 06, 2014

Do meu menu

Prefiro mil vezes meu churrasco de Folia de Reis na fazenda daquele tio em que a família inteira se reuniu pra fazer, e na véspera cuidávamos de todos os animais com respeito e carinho, chamando pelo nome e tudo.
Prefiro isso à hipocrisia de abominar que meu não veganismo destroí o planeta, criações de gado e matanças, que nosso organismo não absorve certas proteinas. Prefiro isso a me entupir de cápsulas multivitamínicas sintetizadas em laboratório pra que você seja "saudável" mantendo a dieta de folhas e grãos germinados em 5 trocas de água filtrada dos Andes vendidas a $25/L, que compra soja(1) transgênica(2) industrializada(3) em pó(4) sabor bacon(5) pra fazer jantar pros amigos e não passar vergonha de ser "espiritualizada" e ainda ter que se explicar.

1 - As folhas de certas leguminosas são tóxicas. Quando passa a colheitadeira mecânica (desculpe, a empresa que você financia só usa pessoas nas propagandas) arranca tudo e deixa as folhas pra trás, o que envenena o solo, que é revolvido com produtos químicos que neutralizam o veneno pra plantar outra safra, que alimenta as raízes, etc. Você lembra na Biologia e Botânica, do colegial, né?
2 - Guarda sua bandeira de defensor da natureza. Nada que tenha interferência não natural é incoerente ao que você bate no peito e grita como qualquer coisa boa. A não ser, claro, que você esteja ganhando rios de dinheiro com isso e esteja numa ação de marketing.
3 - Vamos esquecer por um minuto que estamos em grandes metrópolis e que cozinhar em casa é mais barato, e que pra isso a gente não tem como pegar tudo na horta. Mas era só essa opção que tinha, ou vc só não gosta de vegetais bem temperados e usar a criatividade?
4 - Eu ponho mais água no feijão e uma pitada de farinha pra render mais. Indústrias devem colocar o quê nesse pacote pra manter o gosto de grão e ser mais barato do que o grão em si?
5 - "Ah, é que x-burguer vegano é muito sem graça". Na boa, né...

Eu cozinho por puro prazer e alegria de ter, nesse gesto, toda a magia de despertar sentidos, instigar sensações, cuidar de corpo e alma. Até abri um negócio caseiro de geléias e chutneys, pras refeições de todo dia terem mais sabor de um jeito prático. Mas cada ingrediente eu que escolho, sempre que possível, com gente que tem uma hortinha ali no sítio e traz pra feira ainda cheias de terra. Preparo cada potinho com  carinho - até porque mil amigos querem, em casa a gente come a toda hora, e tem sido um presente mega delicioso - e faço mil receitas bonitas e saudáveis, das carnívoras e veganas. Afinal, a gente come muita m3rda na correria do dia-a-dia e eu pretendo ver meus netos crescendo com meu coração intacto e meu manequim 36.

Agora, se você me diz que é vegetariano, que tirou a bunda da cadeira e fez um canteirinho na sua janela de vasos que o vizinho jogou fora pra plantar cebolinha e tomatinho, que paga mais caro mas fortalece o comércio local e orgânico, que faz qualquer carnívoro salivar com uma lasanha de beringela feita com molho caseiro e ainda repetir, que economiza água em casa e prefere o rachar um taxi a comprar bicicleta elétrica e atropelar o povo na ciclofaixa, que entende a diferença entre bandeiras e atitudes, clapclapclap! Vamo' trocar umas receitas. Faço umas tortas divinas!


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sexta-feira, maio 02, 2014

Vapor do tempo

Viajar pra minha cidade natal me dá a sensação de volta ao passado, Se confunde com a sensação de que ali ficaram lembranças adolescentes, inocentes e até tolas com a memória de contos que contam lendas longínquas de tempos de roça.
A moça ao celular, no mesmo ônibus, indo também pro interior, tem o sotaque carregado de matuto, fala da quermesse com a mãe e exclama "uai, mai' vai sê bão, hein, sô!"
Essas estradas adquirem poder de máquina do tempo - mas máquina a vapor...

domingo, março 23, 2014

Das orações pra Deus nenhum

Aí a faxineira do meu andar me pergunta, toda encabulada
- Desculpa, mas o que é aquela imagem de metal na sua mesa?
- (e eu já me preparando pra um discurso evangélico com um sorriso todo amoroso de quem não quer conflito) É uma estatueta de Buda e a medalha é de Fátima, que minha mãe é devota.
- Ah, sabe que eu fiquei toda sem graça de te perguntar, mas sempre que eu chego pra limpar sua mesa é uma energia tão forte, uma paz tão grande! E eu peguei ele nas mãos, e pedi pra abrir as portas pro meu filho que tem neném pequeno e tava sem trabalho! Aì eu queria saber o que a gente põe lá pra ele, pra agradecer...
- Nada... Você pediu sem saber quem era, apenas com o coração aberto. Se você recebeu sua graça, não foi pela figura daquela imagem, mas pela força da sua oração.

Fui criada católica, e passei de atuante fervorosa da renovação carismática a questionadora ferrenha de práticas religiosas na adolescência. Aos poucos encontrei a serenidade de apenas crer, sem nomes, rótulos, rituais, protocolos. Vou à missa só pra ouvir homilia, tomo passe, medito depois da yoga, ouço música gospel, tomo banho de sal grosso depois de um dia difícil e acendo vela pro meu Anjo, rezo em voz alta dentro do elevador saindo de casa, mentalizo coisas positivas enquanto cozinho tal qual uma feiticeira.

Mas essa criatura me despertou uma nova admiração espiritual. O analfabetismo religioso dela permitiu uma oração genuína, uma percepção natural, uma fé sem nomes. A singeleza em querer retribuir foi tão pura quanto aquela lágrima de emoção que marejou seu sorriso enquanto ela me contava que agora o filho tem carteira assinada e está feliz no trabalho novo.
Osho falou sobre Buda de uma forma como eu ainda não tinha percebido a verdade na descontrução dos dogmas religiosos. Essa faxineira, na sua ignorância protocolar e verdadeira entrega espiritual, certamente, alcançou a iluminação que muitos eruditos ignoram. E me aproximou ainda mais do verdadeiro significado de Deus: nossa energia desejosa do que é bom, e apenas isso!

domingo, junho 12, 2011

Eduardo&Mônica

Merchan à parte, uma homenagem à história de amor mais cantada da MPB...


E um beijo gigante pro namorado lindo, que me completa e vice e versa...

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

“Pensando nas estrelas noite após noite começo a perceber que 'As estrelas são palavras' e todos os incontáveis mundos da Via Láctea são palavras, e esse mundo também o é. E percebo que não importa onde eu esteja, seja em um quartinho repleto de ideias ou nesse universo infinito de estrelas e montanhas, tudo está na minha mente. Não há necessidade de solidão. Por isso, ame a vida pelo que ela é e não forme ideias preconcebidas de espécie alguma em sua mente.”  (Jack Kerouac)

terça-feira, novembro 02, 2010

Wind of change

Já tem mais de semana desse texto, mas a ansiedade que me acordou hoje foi tanta que eu não podia mais ficar sentada pensando na vida ao invés de me vestir, sair pra ver o sol (ou rezar pra não pegar chuva) e ter mais um pouco do último parágrafo enquanto ainda estou por aqui...


Trampando como interprete num evento uma semana inteira, em pé, de camisa escura, debaixo de uma tenda quente, com a bota cozinhando meu pé e usando copinhos de água mineral pra manter a cabeça fria, me preparando pra mais 10 dias como fiscal de quadra em olimpíadas.

Não, isso não é uma reclamação.
É só o cenário que eu realmente ADORO. Apesar da peãozada sem noção, dos estudantes baderneiros, dos criadores mal-educados, organizadores sem comunicação e cerimonialistas sem expediente.

Eventos grandes me instigam, porque é preciso muuuito cuidado pra planejar, organizar, conduzir, concluir, e paciência o tempo todo pra lidar com os egos mais diferentes que se possa imaginar. A gente vê o resultado na hora, e pode previnir falhas numa próxima edição.

E nessa feira eu pude ter meus minutinhos de glória, como estágio na produtora, porque eu me ofereci pra ajudar e descobriram habilidades que duas pessoas não estão atendendo. Tinha hora que eu não podia nem ir ao banheiro, porque se gringo chegasse, era só eu pra salvar a pátria. Detalhes como ter sido indicada por ex-colega, elogiada por ex-chefes, referência para ex-professores me fazem ver que tudo que foi feito até agora valeu a pena, e que consegui ultrapassar a barreira de mera "menina do cerimonial", e que o carinho que têm por mim é pela profissional que me tornei, a pessoa em quem podem confiar.

Eu sei que sou diferentona num monte de coisas, e já fui tachada de louca por pegar carona pra visitar gente, me oferecer pra ajudar desconhecidos, me arriscar em empregos que me pareciam oportunidades de ouro e deixar empreguinhos pra trás, conversar com gente que ouvi uma parte da conversa e achei interessante. Aí hoje eu conheci a Terry, uma menina de cinquenta e poucos, que veio sozinha da Florida, e por quase uma hora batendo papo - em inglês - e dando gargalhada sobre como tem gente que perde as pequenas alegrias, trocamos email e um abraço cheio de energia positiva, e quem não tem medo de parecer louca só porque se faz o que gosta. e ela foi embora, dizendo que é por medo de se jogar e ver que é possível ir mais longe que as pessoas se coibem, se conformam.

Fiquei com a sensação deliciosa e que realmente existe uma conspiração no universo. Mas é para que as coisas não só continuem mudando para melhor, mas que tem muita gente querendo mudar, e não fazendo nada, e eu aproveitando essa energia no ar e correndo atrás do que eu já não tenho tempo nem paciência mais de sonhar, preciso conseguir.

Só faltava mesmo encontrar o namorado... Compartilhar essa alegria, comemorar pequenas vitórias, me deixar iluminar pelo sorriso manhoso que me diz sempre "relaxa..." e ri gostoso... E poder curtir o silêncio pleno e o beijo carinhoso e cheio de saudade que eu deixei na rodoviária 15 dias antes...

Até nisso tem alguém lá em cima que eu acho que vai com a minha cara...
Valew aê, hein!!!

terça-feira, setembro 28, 2010

Caixa de Pandora

Tenho verdadeiro horror de superficialidades. Eu sei que exagero, a .Intense. cansou de dizer que eu sou 8/80: me jogo de cabeça ou passo a nem me importar de uma hora pra outra.

Quando eu fiz minha primeira tatoo, eu acho que passei uns 2 anos pensando onde, o que, daqui a 50 anos, sigificado, impactos. Apaixonei! E sempre me falavam que o perigo é só a primeira, que aí perde o medo e quer tatuar até a testa. Só que eu fiz caca. Arrependi hora que eu vi pronta. Mas além de eu não querer refazer outra coisa esquisita, vim maquinando tem uns 2 anos. E já tem uns 2 meses que a figura tá decidida. Semana que vem eu posto a cicatrização.

Como acontece de tempos em tempos - trimestralmente, quase - eu dou um limpa geral: roupa, papel, livro, decoração. E eu acabo deletando trocentas coisas também. As fotos da minha formatura fui mexer esses dias, que bateu uma puta saudade de ir pra biblioteca ao invés de ir pra aula só pra bater papo com a patotinha. Aí eu fui achar umas outras coisas que não faziam parte do momento "sorriso espontâneo". Tinha foto minha, linda poderosa, de beca, que eu deletei porque me deu angústia. Nessa leva foi um monte de arquivo morto. E meu HD virtual ficou mais limpo, minhas lembranças mais leves. Tudo pronto pras coisas novas e que realmente levam minha vida pra frente.

Eu não sei mais viver de retrocessos. Não volto. Pra Patos, pra graduação, pra ex, pra empreguinho, pra pensionato, pra DRs já encerradas. Sou mais esgotar todas as possibilidades de uma situação, pra quando sair, nem pensar em olhar pra trás. Não me arrependo de nada que eu fiz - apesar de não me orgulhar de tudo - muito menos do que eu deixei pra trás, pra ficar lá atrás.

Mas tem hora que de tanto querer fincar o pé quando eu tomo uma decisão, eu viro as costas muito bruscamente, e não dá tempo de todo mundo acompanhar. Aí ficam resquícios que eu nem lembrava, que "aparecem" e detonam com todo meu sentimento serelepe e tranquilo.

Tem gente que considera as memórias uma caixa de Pandora. A minha é justamente o que eu não faço questão de lembrar. E quando alguém vê, e não sabe de todo o processo, vix... Só que ultimamente eu tenho feito questão de futricar passado, limpar tudo. Limpar, mesmo, no sentido de reorganizar, eliminar lodinhos que vão ficando pelos cantos, deixar agradável, vazio, pronto pro presente, pro que eu tô vivendo e ainda quero viver com quem tá comigo hoje, em paz, inteira, infinitamente sorridente e sabendo que faço alguém feliz pelo que me tornei.

Normalmente eu demooooro até tomar uma decisão. Mas quando tomo é simples, tipo interruptor: click!