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Era para ser um exercício corporativo para o Setembro Amarelo

Hoje minha mente está pregando peças. Coincidência que seja no primeiro dia de menstruação, com hormônios à flor da pele? Provavelmente não. Apenas o lembrete mensal de que ser mulher não é fácil. Vim de um relacionamento de oito anos que por muito tempo me fez bem, me ensinou muita coisa e contribuiu para eu me tornar a pessoa que sou hoje. Contudo, o final dessa relação veio carregada de meses de insegurança, má comunicação, dúvidas, baixa autoestima, angústia e lágrimas. Não houve briga, não houve gritaria ou desentendimentos, mas já não estávamos conectados e demorou para assumirmos que essa era a situação (um para o outro e para nós mesmos). Esse período impactou profundamente a percepção que tenho de mim mesma e em termos de como me relaciono. É muito fácil para mim me diminuir para dar lugar ao outro. É muito fácil me colocar numa posição inferior à outra pessoa, como se eu tivesse a maior sorte do mundo de que ela tivesse me escolhido. É muito fácil esquecer um pouco de mim...
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A sorte de um amor tranquilo no fim das contas não é sorte

No espaço de tempo entre a primeira vez que quis segurar a sua mão até hoje parece que muito se passou. Na verdade, são poucos meses, menos de meio ano. Esse gesto marca para mim o entendimento de que o que estávamos construindo era de fato um relacionamento. Até então, eu ficava em cima do muro tentando entender se o que estava acontecendo – e o que eu queria – era apenas casual ou algo mais profundo. Lembro claramente de estarmos descendo a Augusta depois de uma decisão espontânea de ir para um bar, sem saber qual, em uma noite para a qual já estava preparada para ficar em casa de pijamas (adoro a espontaneidade que você trouxe para minha vida, mas deixemos isso para outro texto). Eu olhei para você e para mão e foi como se eu projetasse o calorzinho que eu gostaria de estar sentindo em meus dedos. A vontade de querer sentir sua pele e me sentir conectada a você estava transbordando de mim, quase como instinto. Pensei “Será que é íntimo demais? Será que ele vai achar estranho?”. ...

Diário de outubro de 2022

Madrugada de 8 de outubro de 2022, depois de tanto tentar dormir e não conseguir. "De certa forma acho que os últimos meses já tinham me preparado para o que estou passando agora. Todas as inseguranças e medos que devem vir com um término já me rodeavam desde Março. Eu fico passando na minha cabeça aqueles que talvez sejam os piores cenários de alguém que terminou um longo relacionamento e é como eu já conhecesse quase todos. O momento em que ele se apaixonar de novo, a falta de conversar com ele, o momento em que eu ver ele beijando outra pessoa na minha frente, a rotina sem a presença dele, o fato de que ele não será mais meu porto seguro e eu não serei o dele. Tudo isso já vem de meses e quando penso nessas coisas agora, é como se já as conhecesse, então dói, mas não desespera.  Já venho tentado montar uma vida sem contar com ele e acho que com a oficialização de uma separação que começou a sete meses atrás, é oficializada também a necessidade de dar cabo a todas essas coisas n...

Mais importante que a velocidade é a direção

Todo jovem pensa em algum momento que gostaria de estar vivendo em um filme. Seja para experimentar coisas novas, conhecer lugares, se apaixonar perdidamente e ser feliz, ter ótimos insights . Coloca-se uma expectativa grande do que o cotidiano deveria ser, como se a sensação de plenitude e realização estivesse atrelada à ocorrência de coisas extraordinárias.  É óbvio que o extraordinário é gostoso, que existem momentos da nossa vida que vão nos tirar do eixo - para o bem e para o mal -, mas existe uma beleza na satisfação do dia-dia que parece ser muito mais forte do que o choque de viver nos picos da extraordinariedade.  Sinto que muito dessa ânsia por situações românticas que jovens têm com a ficção vem da insatisfação que se tem por si mesmo. A adolescência e os 20 anos são movidos a muita energia e resistência, mas certamente são fases de tentativa e erro, de se entender, de se comparar com todos porque não se tem uma referência clara de quem é, para onde vai, com quem, p...

Sobre amar quando não espera-se amor

Amor era algo bem resolvido na minha vida. Eu já tinha o meu para sempre, eu já tinha o meu parceiro para a vida, eu não precisava mais me preocupar com isso. Tudo o que aprendi com ele era minha verdade absoluta, era a única referência de relacionamento que eu tinha. O que tínhamos era o ápice, o melhor que eu poderia ter.  Até que não era. Foram dias e dias de desolamento, dizendo a mim mesma que, se a pessoa que esteve comigo por oito anos e me conhecia por inteiro não me queria mais, quem iria querer? Mesmo repassando centenas de vezes o momento em que eu disse "Acho que é isso, vamos terminar" na minha cabeça, não conseguia tirar o desespero e o medo de estar sozinha de dentro de mim. Quem iria comigo na feira? Quem ia cuidar de mim nos dias em que ficasse doente? Quem ia olhar para mim e sentir tesão? Quem ia afagar o meu cabelo durante um filme? Quem ia ouvir as felicidades e lamúrias do meu cotidiano? Quem ia me dar a mão num passeio no Parque Augusta?  É duro demais ...

Ocupação

A Thais me disse em uma de nossas sessões que eu precisava deixar minha criança interior sair mais. Desligar o alarme, não ter planos, deixar o dia passar sem pensar em compromissos, em “to-dos”. A ideia parece simples conforme leio a frase que acabo de escrever, mas para mim a prática chega a ser absurda. Esse senso de comprometimento é algo tão inerente a minha pessoa que fugir disso parece anormal, forçado. E então chega essa pessoa para ocupar um tempo de um sábado de abril e, quando me vejo, passou-se um mês e até a roupa suja acumulou. Não é difícil que a companhia de alguém seja mais prazerosa do que lavar roupa ou limpar a cozinha, eu sei, mas para alguém me fazer ignorar por completo essas coisas e meu tal “senso de comprometimento” é algo diferente, é algo a mais. Quando nos despedimos naquele sábado a noite, eu pensei comigo mesma se eu levantaria muito tarde no domingo e o que eu poderia fazer no meu dia livre (faxina, mercado, marmitinhas da semana, repor coisas par...

Dias de Pedro em São Paulo

 Os dias tem sido bons. Vivo a construção de uma vida que idealizei quando tinha meus 15, 16 anos. A sensação de realização é muito boa e conseguir apreciar essa realização no dia-dia tem sido a melhor parte de tudo.  Mas existem dias ruins. Existem dias em que um sonho estraga seu humor. Dias em que uma foto despretensiosa no Instagram do amigo dele detonam minha autoestima. Existem dias em que eu duvido que realmente está tudo bem. Existem dias em que eu descubro algo novo que me machucou naquela época ou dou espaço para alguma lembrança que suprimi pelo ímpeto de manter uma imagem imaculada do relacionamento que, por muito tempo, foi mesmo muito bom.  Os dias ruins trazem à tona uma raiva, uma frustração e uma angústia que eu não deixava surgir, que eu não reconhecia como emoções válidas. Sinais do quanto ignorei minha intuição. E a raiva é comigo. A raiva vem de perceber o quanto me diminuí, o quanto me subestimei, o quanto mudei para o bem de algo que claramente não ...