Casa nova

5 05 2012

O conteúdo deste blog agora mora junto com tudo que já escrevi em uma nova casa: http://www.dramaking.org

Espero que gostem =)





Desabafo de um homem com medo de barata

17 12 2011

Eu admito. Sou homem e tenho medo de barata. E não me adianta dizer que elas tem muito mais medo de mim do que eu delas. No que isso me ajuda? Usar esse argumento vai fazer alguma barata sair da minha frente pacificamente? Pois duvido.

Você pode ter certeza: enquanto lê este texto, uma barata te observa, uma outra planeja entrar em sua casa e a terceira se esconde dentro do seu armário. Baratas são malvadas. Elas são feias, cascudas, ágeis, furtivas, mal-caráter e são feias. Vale a pena repetir. Tenho tanto medo de barata que quando vejo uma não consigo matar. Fico imóvel. Nada de escândalo. Nada de sair correndo. Não me movo. Faço uma oração e peço a Deus para que adiante a hora dela de chegar ao céu das baratas.

Certa vez, estava eu sozinho em casa em uma noite de calor. Janela aberta, programação dominical televisiva e um estado letárgico de coçar a barriga. Eis que vem ela, voando pela janela, dando voltas na sala. Você já tentou matar uma barata voadora? Você joga o chinelo, ela vai para trás do sofá. Você a localiza no tapete, corre para pegar o inseticida e ela some novamente. É um horror.

Está na hora de parar de pintar Satanás como um diabo vermelho e começarmos a imaginá-lo como uma grande barata. Na busca pela morte do inseto, joguei tanto inseticida na sala que comecei a ficar tonto. Minha língua formigava. Minhas mãos também. Visão turva. Eu via duas, três, quatro baratas. Uma infestação causada por intoxicação. Pedi ajuda a amigos, fui para o hospital, tomei remédio, voltei pra casa e a barata estava ali, linda, caminhando pela luminária. Parecia um vaga-lume marrom. Porque barata é assim. Você acha que matou, mas não matou. Barata a gente só sabe que morreu quando acha o corpo. Totalmente imóvel. Se tá mexendo a perninha, tá vivinha. Ela parece indefesa virada de ponta-cabeça, não parece? Não se engane.

Baratas de rua são mais safadas. São marotas. Você tenta pisar nela, leva um olé e ela vem correndo na sua direção. Para evitar a subida de perna do inseto, você corre para trás, praticando o moonwalk enquanto ela ri da sua cara. Sabe como barata ri? Ela mexe aquelas anteninhas. Quanto mais se mexem as antenas, maior é a gargalhada.

Barata é um ser incrível. Você nunca encontra uma se alimentando de algo. Você não encontra ovo de barata. Você não encontra casa de barata. Você não encontra baratas conversando. Barata surge. Barata surge baratinha e leva uma semana para crescer. Uma semana! Algumas, escolhidas a dedo pelo destino, possuem a habilidade máster de voar. Mas claro, não é um voo claro, direcionado. Barata voa como bicho bêbado. Adora cabelo de mãe, perna de tia, copo de dentadura do vovô. Tem espetáculo para toda a família. Barata é uma praga. Sobrevive a chinelada, inseticida e bomba atômica.

Mato mosquito, abelha, lagartixa e, se bobear até rato. Mas se me aparece uma barata, corro logo e pego o veneno. E tomo. Medo demais para tentar matar esse bicho.





Meu Primeiro Livro: Coleção de Pequenos Pecados Amorosos

31 08 2011

Image

Difícil é dividir a vida em capítulos. A cada frase, uma escolha. Combinam-se um número de parágrafos, frases de efeito, ações do personagens principal e, no final, esperamos que tudo aquilo faça sentido. Sentido para quem?

Tratar experiências amorosas como páginas de um livro traz nostalgia. Revisitar diálogos de amor espalhados por interrogações de dúvidas. Revisitar também, um a um, cada um desses trechos de pecados amorosos permite, mais do que o registro, o cumprimento de uma pena. Uma expiação. Deixar de frequentar condenações auto-impostas e rever, com mais carinho, tudo aquilo que foi produzido por você mesmo.

Foi assim que eu resolvi lançar meu primeiro livro, Coleção de Pequenos Pecados Amorosos, de forma independente. Antes publicado como seriado-literário no Kiss&Yell, agora disponível para compra em formato e-book e livro impresso pelo Clube de Autores. Nele você vai encontrar trechos de textos já publicados aqui no Neonico, mas com muita coisa nova.

Estou sorteando dois livros autografados e com um capítulo escrito a mão pelo Twitter. Para participar, precisa me seguir (@felipeluno) e twittar: “Quero ganhar o livro Coleção de Pequenos Pecados Amorosos que o @felipeluno está sorteando”. O resultado sai dia 9 de setembro!

Para mais informações sobre o livro, clique aqui. Espero que gostem 😉





Sobre como eu não morri

27 09 2010

Alô você!

Não, eu não morri. Só mudei temporariamente de casa.

Enquanto o PinkEgo segue desativado, você pode acompanhar, se quiser, textos meus aqui:

http://www.kissandyell.org

http://www.neonico.com

Além do twitter: www.twitter.com/felipeluno

😉





Visita à dermatologista, pílulas anticoncepcionais e o medo de virar filho da Cher

14 05 2010

Image

Um dia desses, eu acordei com uma espinha maior que o meu bíceps. Tentei estabelecer um diálogo, mas ficou claro ali que não haveria amizade, muito menos convivência pacífica.

Eu sofro de um mal cotidiano. Meu tipo de pele e de barba são incompatíveis. Ou seja, quando o fio está crescendo, ele abre caminho pelos poros, ignorando qualquer senso de gentileza e sem uso de lubrificante. Literalmente, a minha barba come o meu rosto, no pelo.

Era hora de resolver isso. Colocar um fim a esse sofrimento cutâneo. Tenho uma dermatologista boa. Ela não possui marca alguma no rosto e Deus sabe como eu procurei. A mulher é impecável, muito boa mesmo. Se ela tivesse levado medicina à sério, poderia até ter sido cirurgiã.

Visitá-la é sempre uma aventura. Desviar dos adolescentes e suas espinhas da puberdade, suportar o cheiro das toxinas botulínicas que evaporam do rosto das madames e encontrar um lugar ali, entre a adolescência e a velhice. Alguns chamam de idade adulta. Eu chamo de metrossexualidade. Minha mãe chama de viadagem.

A fila de espera é longa o suficiente para que eu conte todas as minhas sardas e chegue a conclusão de que somando todas dos presentes ali, eu ainda ganho. Entro na sala, ela não me cumprimenta com a mão, porque é limpinha, mas manda um beijinho, por meio de sopro, como Bicha Muda faria.

É extremamente constrangedor conversar com esse tipo de profissional. Enquanto você fala, ela varre o seu rosto com os olhos procurando imperfeições. E acha, claro. E faz cara feia, claro. Acho que deveria ter um terapeuta e uma assistente social ao lado da dermatologista. Quando termina a consulta, eu perco a vontade de viver. Sempre.

Ela levanta, abre o armário, tira um bloquinho e começa a anotar. Anotar. A mulher não para de escrever, como se estivesse recebendo o espírito de um Chico Xavier fundador da Neutrogena. Algumas laudas depois, ela me entrega o bloco.

Vou lendo e lendo, ácido daquilo, hidro-nãoseioquê, até que vejo um absurdo: Pílula Anticoncepcional Yasmin. Procurei não tomar aquilo como ofensa pessoal. Levantei, fui até a porta para confirmar se a placa não tinha mudado para Ginecologista. É, não tinha.

A doutora me explicou. Aparentemente, esse tipo de medicação altera os níveis de hormônio no corpo, produzindo uma melhora na pele e no cabelo. Eu sempre achei que essa evolução no visual de quem toma viria da despreocupação com a possibilidade de ter filhos, mas não. Ela disse que é cientificamente provado e que já saiu na veja.

Fui à farmácia mais próxima e resolvi comprar. A atendente me olhou estranho, o que eu entendo. Para disfarçar, comprei camisinha também. E lubrificante, para deixá-la achando que eu faria o bacanal do mercado de peixe.

Agora, caros leitores, estou aqui, no trabalho, com pequenas pílulas de nome feminino me encarando. E aí, tomo? Não tomo? E o medo de rolar toda aquela vibe filho/filha da Cher. Eu não quero criar seios. Eu não quero criar ovários. Se eu ficar mais feminino, menos masculino, terei que abandonar aspectos da minha personalidade que eu realmente gosto, como jogar futebol, falar mal de Grey’s Anatomy e chacoalhar depois de fazer xixi.

Fico aqui, estacionado diante da possibilidade de ter uma pele linda, mas sob o risco de ser chamado de Felipa Luna, ou continuar como estou e observar silenciosamente fios de barba violando a pureza da minha cútis. Que faço, Brasil?





Passando a vez.

7 05 2010
Hoje, não é fácil escapar dos jogos, desses peões coloridos, pulando de casa em casa, sem medo de ficar duas ou mais rodadas sem jogar. Se é sorte encontrar quem não guarde cartas na manga, azar de quem tem medo de lançar os dados.
Hoje, eu sei que posso passar minha vez sem temer ficar pra trás. Sei que há mais nesse tabuleiro do que o fim, o dinheiro e o bônus. E mesmo quando o adversário é a pessoa mais próxima, há companhia e nunca um inimigo.
Hoje, eu sei que há você, você e eu e algo no meio disso. E que por mais que outros possam tentar blefar, enganar ou conspirar, o que é natural não se perde porque é simples, inteiro. Ponto nosso.
Hoje, eu sei que é verdade que o amor é desigual. Que os sentimentos são diferentes, se complementam, se encaixam e se fazem completos na hora certa. E sei também que, se há aquele que ama mais que o outro, que seja eu este sortudo então. Porque é muito bom amar. Sua vez.




O Manifesto do Amor Igual e o Termo de Revogação das Expectativas

4 05 2010

Há aqueles que se afogam em culpa, mergulhados em arrependimentos e tristezas. Com mágoa até o pescoço, são incapazes de dar um passo em direção à costa. Eu resolvi nadar e escrever um SOS bem grande na praia. Mas não espero salvação alheia. Não torço por respiração boca-a-boca. É hora de secar ao sol e andar na areia.

Eu não sei gostar. Acredite, isso é pior do que não saber amar. O amor é algo mais raro, leva mais tempo e é direcionado. O gostar é comum, faz parte da rotina apreciar a alguém ou a alguma coisa. Eu queria a calma e o tranquilo conforto de quem sabe onde está. De quem sabe curtir as coisas como elas são, de ter um pouco de surpresa, em vez de enfrentar frustrações cada vez que as coisas não saem como planejado. Em aproveitar as coisas como elas são, não como poderiam ser.

E para isso talvez seja preciso guardar as expectativas dentro de uma caixa. Você pode abrir, vez ou outra, pra arrumar a rota e lembrar do que realmente te faz falta. O que não dá é se aprisionar dentro desse baú de memórias não-vividas. Criar duas vidas paralelas: a que acontece, e a que falta.

Nessa intensidade de querer tudo ao mesmo tempo, de precisar de provas, atitudes, declarações, manifestos, acordos, relatórios e feedbacks, sobra pouco espaço para o espontâneo. Sobra pouco espaço para o acaso. E aí, nesse caso, o caminho é sempre certo: todas as suas relações se parecem umas com as outras porque você age da mesma forma.

Então é preciso romper o padrão. É hora de se expor, de aceitar que ninguém morre de amor, que é possível acreditar nas possibilidades, que a vida é baseada em sintonia e que é assim que as pessoas e situações são atraídas à você. E que a base disso é não deixar perder o aprendizado do que já passou. Aprender a perdoar não é livra o outro da sua mágoa, é cicatrizar a própria ferida. É desfazer o nó.

Sempre se pode culpar ao outro por não corresponder as expectativas, por não indicar caminhos claros de como as coisas serão daqui pra frente e por omitir verdades. Eu resolvi aceitar pra mim que, na maioria das vezes, as pessoas não vão agir como eu quero. E que aí, dado o resultado dessas ações, cabe a mim decidir se posso conviver com o que se passa, ou se trata de algo inaceitável. Em basear o futuro em escolhas, e não expectativas.

Parece que quem procura se encher daquilo que lhe falta acaba encontrando mais espaços vazios do que aquele que transborda daquilo que lhe satisfaz. Não quero pra mim complementos, muletas, não quero preencher os espaços vazios. Quero estar cheio e abundante daquilo que me faz bem.

Se você está na praia, você sabe onde está. É naquele trecho do mapa, exato ponto, que une o azul ao amarelo, o mar à terra, o contorno da costa. Não há trilha fácil. Se vai caminhar pela areia ou pela água, a escolha é sua.





Guia de Sobrevivência no Transporte Público de São Paulo

29 03 2010

por Ana Clara Salles

Inspirada no Guia de sobrevivência de como se alimentar no self-service sem ser comido do desse blogg, eu resolvi fazer esse outro guia, mas a respeito do transporte público da cidade.

Regra nº 1: o negócio já começa antes de você entrar no ônibus e/ou no metrô. No primeiro caso, dica: você está num ponto onde passam vários Praça Ramos por exemplo e você precisa dele prá ir até o seu destino. Se por acaso no primeiro ônibus que passou você não consegue entrar de jeito nenhum, porquê está muito cheio, aguarde o próximo. Os corredores de ônibus só ficam com aquelas filas intermináveis por culpa dos apressadinhos que não podem esperar 5 minutos que seja até chegar um próximo mais vazio.
Já no metrô, se você não vai entrar naquele trem porquê está muito cheio e não quer ser empurrado, saia do caminho. Pois com certeza, se você ficar lá parado, uma manada de pessoas cansadas e irritadas vão sair te atropelando e aquela frase: só por cima do meu cadáver vai de repente, fazer todo o sentido prá você.

Regra nº 2: conseguiu entrar no ônibus? Legal, meio caminho andado prá você chegar em casa ou na faculdade. Mas pelo amor de tudo que é mais sagrado nesse mundo, já deixe separado o seu dinheiro ou bilhete único. Ahn, você não faz isso e quando chega na catraca fica caçando R$2,70 em moedas dentro dos seus bolsos? Pois nunca mais reclame da fila que fica do lado de fora do veículo, porque você é um dos grandes causadores prá que isso aconteça.

Regra nº 3: o telefone tocou. Atendeu? FALE BAIXO! Ninguém é obrigado a escutar sua conversa pouco interessante e nós já percebemos que você possui um aparelho celular. O mesmo fale para os que escutam música alta sem os fones de ouvido (lembra do post passado? Então). Você não é obrigado a escutar Pantera e eu não quero ouvir o Rebolation, obrigada!

Regra nº 4: você sentou no banquinho reservado a idosos, gestantes, obesos e etc. Daí entrou uma mulher que você definitivamente não sabe se ela espera uma criança ou se está (bem) acima do peso. O que fazer? NÃO CEDA O SEU LUGAR A ELA. Aconteceu comigo isso uma vez no metrô Paraíso e não foi agradável. A mulher disse: senta aqui. E eu, no ápice do mau humor respondi: eu não estou grávida, eu sou gorda mesmo! Tive que ouvir seus pedidos de desculpa do Paraíso até a Sé, estação onde ela desceu e foi um saco. Se a mulher realmente estiver grávida, ela vai PEDIR prá sentar.

Regra nº 5: ta sentado sozinho no banco? Bom prá você, se esparrame mesmo. Mas se alguém sentou ao seu lado, faça cara de paisagem e feche as pernas prá dar espaço a outra pessoa sentar. Isso vale prá quem coloca mochila, mala, jaqueta e derivados no banco vazio ao lado. Esses objetos não tem bunda, e se alguém precisa sentar lá, nada de fazer cara feia. Coloque no seu colo e siga sua viagem tranquilamente.

Regra nº 6: você está dentro do ônibus e o trânsito como sempre, está infernal? NÃO FIQUE RECLAMANDO E PRAGUEJANDO EM VOZ ALTA. Não vai adiantar em NADA, você não vai chegar mais cedo ao seu destino por isso e a pessoa que teve o infortúnio de sentar ao seu lado também está passando pela MESMA situação que você. Um pouco de respeito e bom senso não machuca ninguém.

Regra nº 7: a última e não menos importante. Terminou de beber aquela Dolly ou de comer o milho verde no potinho plástico? Não sei se você reparou, mas existe lixo DENTRO do ônibus prá que você possa jogar fora. Ahn, você ta dentro do metrô e lá não tem lixo? Tudo bem. Espere até saltar na sua estação prá colocar aquilo que ficou na sua mão no lugar certo! É muito fácil reclamara da prefeitura ou do governo porquê a cidade ta cada vez mais suja se você não faz sua parte.





Guia de Sobrevivência: Como se alimentar no self-service sem ser comido

25 03 2010

Image

Atenção. A hora do almoço é um momento muito importante no seu dia. As pessoas ao seu redor estão com fome. Estão nervosas. Lembre-se daqueles documentários do discovery Channel. Lembre-se dos leões devorando a gazela. Por mais que isso possa te parecer interessante, não é legal morrer na fila do self-service. Por isso, vamos evitar alguns contratempos e seguir umas regrinhas básicas para evitar um homicidio alimentar.

1-) Vai pegar salada? Que bom, que bonito. Sua mãe vai ficar orgulhosa. Mas, se eu não quero pegar nada verde, tenho direito de te pular e ir direto para a lasanha, okay? Não fique bravo com isso, caro companheiro ruminante. É que não tem sentido eu esperar 30 minutos enquanto você acerta o ajuste molho+sal+azeite em cima do seu alface.

2-) Arroz. Todo mundo gosta de arroz. Combina com quase tudo, não é mesmo? É tão difícil saber o quanto se quer de arroz. Eu sei que você já passou meio expediente trabalhando e está com a cabeça cansada. Mas, por favor, vamos ser práticos. Pense numa quantidade de quanto quer ANTES de pegar a colher. Não me faça esperar você contar os grãos, pegar mais, pegar menos e cometer um absurdo: devolver arroz para a bandeja. Eu, próximo na fila, NÃO quero os seus grãos de arroz rejeitados, okay?

3-) Você come feijão? Faz bem, né? Não importa se você coloca o feijão no prato antes ou depois do arroz, mas, por favor, tente deixar o ambiente o mais limpo possível. Não é legal ter que ficar desviando dos pingos de caldo de feijão que caem enquanto você, esfomeado, se serve. Vamos ser práticos e higiênicos, okay?

4-) Massas: aqui mora o drama. Aqui, meu caro, mora o perigo. Eu sei que você quer macarrão. Eu sei que você quer molho. Eu sei que você quer a cobertura da lasanha. Mas não é justo pegar todo o queijo da ‘cobertura’ da lasanha. Simplesmente não é legal com os outros. Self-service é socialismo alimentar. Também não vale ficar separando os melhores exemplares de capelleti. Seja corajoso e sirva-se. Seja o que Deus quiser.

5-) Sobremesa: tem gente que pega antes, tem gente que pega depois. Mas, por favor, não coloque frutas no seu prato junto com a comida. Não é uma cena bonita de se ver e não há plano de saúde que cubra terapia para esse tipo de trauma. Deixe o mousse de chocolate no canto da bandeja e vai ficar tudo bem. Você almoça sabendo que aquela delícia quimicamente processada te espera.

6-) Na hora de pesar, muita seriedade. Nada de ficar conversando com a atendente ou negociando o peso do prato. Há uma fila de pessoas famintas atrás de você. Respeite-as. Se não for suficiente, tenha medo. Muito medo. Já vi gente sendo espetada com garfo por enrolar na fila do quilinho. Seja prático, seja sutil e permaneça vivo.

7-) Na hora de pagar, tenha seu dinheiro na mão. Nada de esperar o resultado da conta para abrir a carteira, puxar o vale-refeição e tentar lembrar a senha. A galera tem só uma hora de almoço e quer usar os minutos restantes para falar mal do chefe ou dormir. Seja rápido. Já deu o total, pague e siga em frente, sem olhar para os lados.

Viu só, é fácil? Se todo o mundo seguir esse guia, teremos um lugar muito mais feliz para almoçar. Sei que parece um tanto quanto ditatorial e sério, mas, como dissemos antes, self-service é o socialismo aplicado à refeição. Direitos iguais por um preço decente.  Sinta-se à vontade para sugerir novas regras.





Um Gol de Placa ou Como Quase Voltei a Ser um Jogador de Futebol

24 03 2010
Image

Há algumas coisas que você não pode fazer depois de crescido sem ser julgado. Chupar pirulito, brincar de trepa-trepa e andar de 4 são algumas delas. Eu, Felipe, resolvi voltar a jogar futebol. Sim, aquele esporte popular praticado no Brasil por gente de nome difícil. Foi uma tarefa para reencontrar a adolescência e um bom preparo físico e quase me deparei com a morte.

Um dia desses, acordei com muita fome. Pulei meu sobrinho, chutei o cachorro e ataquei um pacote de bisnaguinhas indefesas. Esse pique do quarto até a cozinha me deu dor de sedentário, sabe? Aquela que dá na lateral da barriga, que você sentia quando era gordinho, fazia educação física e ninguém te escolhia para o time de vôlei, lembra?

Como não estou disposto a me expor a situações sociais com gente que usa poucas roupas em academia e por considerar que lugar de gemido é dentro de quarto e não em salão de musculação, resolvi voltar a jogar futebol.  Tudo bem, mas onde? Onde? Estou muito velho para escolinhas, muito novo para jogar com a Liga dos Senhores Católicos. O jeito foi investir na quadra do meu prédio.

Para isso, é importante se preparar. Corri até uma loja esportiva, comprei um calção bonito, uma camiseta simpática, uma meia com uma cor combinando e um tênis que me daria a propulsão necessária para fugir de trombadinha manco sem deixar cair uma gota de suor. E como sou precavido, comprei uma daquelas mochilas portadas por praticantes de musculação, que parecem um saco pendurado nas costas. Ali coloquei umas balas, bolachas, chocolates e isotônicos.

Em passos de jogador rumo à convocação da seleção brasileira, compareci à quadra na espera de meus oponentes. Aparentemente, hoje, as crianças preferem jogar Fifa 2010 à uma pelada verdadeira, então é importante ressaltar que esperei um bom tempo. Mas eles vieram: gordinhos, emos, leitores de hentai,  adolescentes desempregados e afins.

Montamos os times. Eu fui o último a ser escolhido. Não julguei ninguém. Claro que eles podiam duvidar do meu talento futebolístico. Nunca me viram em campo. Fui para o gol. Aqui vem uma informação importante: ninguém te avisa o quão perigoso é jogar como goleiro. É impressionante como a minha preocupação e o meu apreço pelas partes íntimas cresceram nos últimos 10 anos. Antes, quando eu jogava, protegia para não sentir dor. Hoje, protejo para não correr o menor risco de perder o playgroung no final de semana.

Mas eu falhei, amigos. Tomei muitos gols. Tentei subornar crianças com Trakinas, joguei M&Ms nos olhos dos atacantes adversários e nada adiantava. Eu não tinha a elasticidade necessária para proteger todas aquelas traves. Era preciso alguém com menos compromisso com a área íntima. Sugeri a troca com um menino com cara de futuro passivo e ele aceitou sem maiores questionamentos.

Agora, “na linha”, como eles chamam, eu poderia me destacar. No começo, fiquei de canto, marcando o alambrado e correndo atrás da bola como se não houvesse amanhã, mesmo se a posse fosse de alguém do meu time. Aos poucos, fui aprendendo a me posicionar, à enganar o adversário correndo para o lado oposto ao indicado. E não raro, eu aparecia livre, na cara do gol, mas não acertava um chute.

Até que os deuses do futebol sorriram pra mim. Eu fui derrubado, na área. E não chorei! Segurei as lagrimas, posicionei a bola na marca do pênalti, vi Pelé, Maradona, Messi, Richarlysson, todos gritando: “Vai, garoto”. E eu fui. Olhei para o goleiro. Ele tremia. Eu tinha o dobro do tamanho dele. Nessas horas, não há técnica. Não há maldição. Chute rápido. Chute reto. Chute forte. E eu chutei.

Ouvi um grito! Era gol! Ouvi outros gritos! Era um braço quebrado! Na tentativa de defender o meu remate, o gordinho caiu no chão e quebrou o braço direito. Enquanto eu comemorava, um círculo se fechava ao redor do garoto. Eu poderia dançar o rebolation. Ninguém veria. O clima ficou tenso, achei melhor subir, comemorando meu gol, sem camiseta. Correram atrás de mim, mas o meu tênis e um bom elevador contribuíram para a fuga.

Hoje, na quadra poliesportiva do condomínio Vivenda dos Ypês, há uma placa bem grande e bonita em minha homenagem: “É proibido o uso desta quadra por maiores de 16 anos“.





Despedida…

11 03 2010
Image
Eu jurei pra mim mesmo que escreveria esse post da maneira menos brega possível. Estou me aposentando. É isso mesmo. O PinkEgo, como blog, vai fechar. Tristeza? Que nada! Não vejo a hora de poder sentar nos bancos reservados e bater em crianças com a minha bengala. Isso significa o fim de relatar aqui a minha vida sexual, entre outras coisas.
Então, nada mais de histórias sobre funeral de um corno, chuva torrencial e eu fazendo amor com a viúva atrás de uma lápide.  E não escondo que escrever isso deu saudades de ver o pequeno Felipe Luno, em um acampamento evangélico. Bons tempos. Saudades de tomar vinho e comer pão em meus 13 anos e beijar a tia da cantina. Tia Fátima, meu primeiro amor. Que Deus a tenha. Descanse em paz, lábios de mel.
Mas não é sobre isso que estamos falando hoje. É sobre o fim de um ciclo. É sobre como o humor auto-depreciativo me fez despertar para algumas qualidades minhas, reconhecer fraquezas e enfrentar os defeitos. Se, no começo, era falta de humildade, comigo escrevendo por achar que mesmo com todas essas falhas, ainda era bem melhor do que a maioria de vocês, hoje vejo que grande parte das minhas neuroses são compartilhadas, que muita gente pensa como eu. Ou não. Mas que estão dispostas a me ouvir e reconhecer pontos de vista. E como foi gostoso de brincar de ser ‘do contra’, de inflamar a controvérsia e me expor. Estar ali. Estar escrito e poder ser encontrado. Se antes eu provocava dando peteleco em orelhas, beliscando bundas, chutando sacos ou enfiando o dedo no nariz alheio, agora fiz isso com palavras. E elas sempre estiveram ao meu lado, estivesse eu certo ou errado. E se antes eu achava que não tinha talento algum, hoje sei que consigo colocar as palavras de forma seqüencial, dando até um bom sentido à coisa toda.
Eu me vejo em uma encruzilhada: continuar o blog como ele é ou mudar totalmente o caminho. Explorar novas formas de escrever, tentar novos assuntos. A internet não tem chefe. Posso falar sobre o que quiser sem ter minha liberdade cerceada, de certa forma, então, pra quê me limitar? Mas quero deixar claro que isso não é um ponto final. vamos ver isso como reticências. Como se eu estivesse apenas pulando uma linha na redação. E não dá pra negar que eu conheci muita gente legal aqui. Muita mesmo, daquelas que fazem a diferença nos nossos dias.  E que eu conheci mais sobre mim e que nem sempre gostei disso. Falei bobagem, falei mal de outros, falei mal de mim, aprendi a aceitar que amigos vão embora, amores também e que há compaixão alheia por tudo isso.
Eu já falo tchau com saudades e com um carinho enorme por tudo que já foi publicado aqui, mas com a certeza que vamos nos ver logo logo, de uma forma ou de outra, não é? Tem meu twitter, @felipeluno, para quem quiser saber o que virá. Os posts vão ficar no ar por mais umtempo, ate que isso aqui vire outra coisa. Muito obrigado. Mesmo. E nós dois sabemos que não havia como escapar da breguice.
What’s next?

PS: Eu não ligo não, tô nem aí, sabe. To sussa mesmo. Essas coisas não me atingem porque eu sou mais eu, sabe? Tem que ser assim, não tem? Acho que tem. O que você faria no meu lugar? Como reagiria? Acho que fiz certo. Você não acha? Mas bom, isso nem me incomoda. Nem ligo. To de boa. Mas vou ligar pra minha terapeuta.




O Casamento e a Marcha Fúnebre

7 02 2010

*post agendado

Eu não entendo como alguém pode se casar e esperar ser feliz com isso. Não entendo. Eu não passaria nem seis meses ao meu lado, se tivesse essa opção. Mas as pessoas se conhecem, namoram e casam, mesmo sabendo que o outro nunca vai deixar aquela mania chata de cutucar os dedos do pé enquanto dorme. Mas melhor parar. Deve dar algum azar ser padrinho de um casamento e botar pilha contra a cerimônia. Apesar de ter conversado com o diabo, eu só acertei as pontas com Deus mesmo e é melhor não tirar o regente milenar do sério.

Mas olha, casar é engordar. E não do jeito gostoso, cheio de pedaços de carne do outback e material genético alheio. É ganhar peso por reter mágoas, sentimentos ruins e tesão por outras pessoas. É estar tão preso à alguém que o seu próprio corpo torna-se uma cela, impossibilitando qualquer possibilidade de visita conjugal.

E mesmo com essa visão, fui convidado a ser padrinho. A me juntar àquelas pessoas felizes e bem-vestidas, com lágrimas nos olhos e que acreditam realmente que o amor vai superar à lua-de-mel programada à Aruba, mesmo com as ameaças de gripe suína.

Nenhum assento vazio, decoração pomposa, muitas fitas, muitos laços, uma banda de rock toca para entreter aos convidados e as famílias se cumprimentam. Colocaram, no altar, o pai de um, com a mãe do outro e vice-versa. Disseram que é moderno. Para unir as futuras famílias. Eu acho que tem cara de putaria e de troca-troca dos anos 1970.

A marcha fúnebre toca, ops, nupcial, entra a pequena dama, espalhando flores mortas pelo vale das sombras e eu torço para que nela baixe o espírito de Liciane, autora do Pescotapa.

O noivo e o noivo entram, de mãos dadas. É um casamento gay. Homossexual. Abençoado por um padre, que usar algo parecido com uma saia. Ou um kilt havaiano. Alguns choram, outros tiram fotos com suas cybershots pra colocar no TwitPic e eu vejo lentamente um ex-namorado caminhar umo à eternidade com outra pessoa.

E penso em todos os anos que vão passar juntos. Penso em todas as posições sexuais nas quais ele era bom e em todas as outras que o ensinei a praticar. E como ele será capaz de fazer com o outro tudo aquilo que não fez comigo. E que o “não é você, sou eu” é a afirmação mais falsa da história desde que disseram que há tampa para qualquer panela.

Enquanto os dois caminham, abraçados, assisto à cena e percebo que a felicidade não é um plano a longo-prazo. Não é algo que se planeja. É algo a ser feito. Construído. E que, mesmo que as coisas não dêem certo, mesmo que o barco fure e o Titanic amoroso seja engolido pelas águas, há mais alegria nos acertos feitos do que nos erros não cometidos. Mas que a vida é misericordiosa. Ela te proporciona momentos constantes de epifania e redenção, e que não há olhar marejado que te impeça de ver que para cada descompasso, para a cada tropeço, há a escolha de trocar o pé e escolher onde se vai pisar adiante. E você não precisa definir o caminho. Não precisa acertar a rota. É só dar um passo, um após o outro. Eles seguem, eu sigo, e esse mundo dá voltas. Eles se casam e eu me comprometo comigo mesmo.








Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora