As fumaças esvoaçando das brasas incandescentes me lembram a escuridão.
Vinho derramado, escorrendo pelos degraus da igreja como se fosse sangue dado de bom grado...
Eis que a música cessa. O silêncio nos cai como uma cachoeira de amargura insensitível. O que resta aos ouvidos súplicos nem a mais sóbria consciência decifraria...
A chama que acende o cigarro, queima o papel e acende a chama do desejo de permanecer estando na escuridão infinda do mais obscuro inconsciente.
Vozes aleatórias ecoando ao nosso redor estão tentando nos tirar de nossa escuridão mas a música fúnebre nos traz de volta...
Mas é só um estado espiritual ou seria mental? Oscilando entre o superficial e o introspectivo, não chegando a uma conclusão sequer. Mas qual conclusão seria essa? Caralho!!! Esta busca que me guia acaba me desviando novamente e de novo a mais desnuda falência de sentidos.
A brasa que acaba o cigarro é a mesma que queima a vida na infinitude dos segundos que nos deixam. Sentidos de vida? Sentidos de existência? O que é viver na finitude das palavras que nos faltam? O que seria amar se os sinos não tocassem a morte que nos espreita em cada segundo que passa?
Pessoas que chegam, pessoas que vão. Mesmas pessoas. As que dão espaços para outras, as que preenchem o espaço deixado. Viver é eternamente uma questão sem resposta definida, é deixar chegar, é deixar ir, é ironicamente viver. Ironicamente, porque viver é uma eterna questão sem resposta.
E então, a chama se apaga. A brasa cessa... Cessar a existência. Seria assim, como uma vela soprada pelo vento, um relógio que dá a última badalada, o pêndulo que se acomoda no ócio, a única solução para sentir a paz na mente? Paz essa que libertina nossa sanidade?
Pêndulo que se cala na profunda ilusão de ser? Pêndulo esse, que se trava na possível rejeição? Seria isso? Seria isso a vida? Seria isso a resposta? O silêncio é a resposta? Eu procuro respostas que o sino me esconde... Eu procuro soluções que o sino me esconde! Então queimem os sinos! Os desconhecidos me afligem!!
O desconhecido assusta a todos nós. O incerto atiça a raça humana; apesar do medo o desconhecido nos chama. E como os badalos do sino da igreja, martelam durante toda nossa existência.
Uma nota, um susto. Outra nota, uma advertência. Na terceira nota... O desespero. Absorvidas pelos meus reais profundos sentidos e mais secretos sentimentos essas badaladas acendem em mim uma compressão mental que me desnorteia, mas ao mesmo tempo me cativa, eu fico querendo mais e mais e mais. Badaladas funéreas, que me insultam e me instituem, que me apreendem e me levam ao melhor estado de ansiedade pela a insanidade, a insanidade pela ansiedade...
E o sino toca. Mais de uma vez. E a brasa acaba e a vida finda, na profunda existência de quase-continuar-existir. Toca o sino e a vida acaba, por hoje, para nós.
Devaneio poético conjunto respectivamente escrito, trecho por trecho Rodrigo Lima, Samy Vallo e Taciana Rodriguez.






