segunda-feira, 10 de março de 2014

Os sinos da igreja tocam

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Canções funéreas me remetem à gélida escuridão,

As fumaças esvoaçando das brasas incandescentes me lembram a escuridão.

Vinho derramado, escorrendo pelos degraus da igreja como se fosse sangue dado de bom grado...

Eis que a música cessa. O silêncio nos cai como uma cachoeira de amargura insensitível. O que resta aos ouvidos súplicos nem a mais sóbria consciência decifraria...

A chama que acende o cigarro, queima o papel e acende a chama do desejo de permanecer estando na escuridão infinda do mais obscuro inconsciente.

Vozes aleatórias ecoando ao nosso redor estão tentando nos tirar de nossa escuridão mas a música fúnebre nos traz de volta...

Mas é só um estado espiritual ou seria mental? Oscilando entre o superficial e  o introspectivo, não chegando a uma conclusão sequer. Mas qual conclusão seria essa? Caralho!!! Esta busca que me guia acaba me desviando novamente  e de novo a mais desnuda falência de sentidos.

A brasa que acaba o cigarro é a mesma que queima a vida na infinitude dos segundos que nos deixam. Sentidos de vida? Sentidos de existência? O que é viver na finitude das palavras que nos faltam? O que seria amar se os sinos não tocassem a morte que nos espreita em cada segundo que passa?

Pessoas que chegam, pessoas que vão. Mesmas pessoas. As que dão espaços para outras, as que preenchem o espaço deixado. Viver é eternamente uma questão sem resposta definida, é deixar  chegar, é deixar ir, é ironicamente viver. Ironicamente, porque viver é uma eterna questão sem resposta.

E então, a chama se apaga. A brasa cessa... Cessar a existência. Seria assim, como uma vela soprada pelo vento, um relógio que dá a última badalada, o pêndulo que se acomoda no ócio, a única solução para sentir a paz na mente? Paz essa que libertina nossa sanidade?

 Pêndulo que se cala na profunda ilusão de ser? Pêndulo esse, que se trava na possível rejeição? Seria isso? Seria isso a vida? Seria isso a resposta? O silêncio é a resposta? Eu procuro respostas que o sino me esconde... Eu procuro soluções que o sino me esconde! Então queimem os sinos! Os desconhecidos me afligem!!

O desconhecido assusta a  todos nós. O incerto atiça a raça humana; apesar do medo o desconhecido nos chama. E como os badalos do sino da igreja, martelam durante toda nossa existência.

Uma nota, um susto. Outra nota, uma advertência. Na terceira nota... O desespero. Absorvidas pelos meus reais profundos sentidos e mais secretos sentimentos essas badaladas acendem em mim uma compressão mental que me desnorteia, mas ao mesmo tempo me cativa, eu fico querendo mais e mais e mais. Badaladas funéreas, que me insultam e me instituem, que me apreendem e me levam ao melhor estado de ansiedade pela a insanidade, a insanidade pela ansiedade...

E o sino toca. Mais de uma vez. E a brasa acaba e a vida finda, na profunda existência de quase-continuar-existir. Toca o sino e a vida acaba, por hoje, para nós.


Devaneio poético conjunto respectivamente escrito, trecho por trecho Rodrigo Lima, Samy Vallo e Taciana Rodriguez.


sábado, 24 de agosto de 2013


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Na loucura de te ter me perco, me desiludo construindo frases de fumaça e falta de ar... Encontro pelas ruas antigos rostos jogados no lixo, antigas pragas oferecidas, antigas maldições descartadas.
- Eles procuram super existir na super pequenez de seus joelhos falhos...
- As lembranças não quebram o presente mas afastam o futuro...
- Diria que não há nada mais azul que o azul do céu, do seu céu da boca escancarada em gozo e perplexidade...
- Segure firme os nós dos dedos, eles podem se soltar...Porque eu seguro no ar o grito, eu me seguro na fuga, na super pequena existência imaginária de quem pensa sonhar...
- Lembra do soturnas? Lembra? Lembra? Lembra das páginas escorridas em exagero? Lembra das cartas que jamais cantei, das canções que jamais enviarei?...
O vento joga o vermelho para o ar... No coração o lugar preenchido em ausência e solidão.
- Não, não culpo ninguém. Culpo uma existência, uma realidade que espanca quem não se deixa levar....
O sol machuca feito luz de madrugada e as crianças brincam em paz... Ninguém entende a moça da praça, descabelada, enlouquecida, rabiscando mundos em cadernos vermelhos velhos, conversando sozinha, mastigando caneta.... As folhas came mas as árvores não notam, será que se importam?
- Feito árvore plantada em banco de praça perco os cabelos e a sanidade. Pra quê levar pro túmulo? Quero reciprocidade. Respostas e contato imediato de grito e musicalidade... Envolve o pensamento nas mãos.Acarinha a ideia e afasta de leve a solidão.
- Acreditar não basta. Desistir também. Existir também.
Insaciável constrói corpos e mãos que não existem, na certeza da presença invisível de brisas inconsistentes. Inconsciente almeja retratos antigos e realidades antiquadas. Se guardando em frascos de perfumes de juventudes inabaláveis, se abandona devagar. Deixa ir na correnteza, abre os braços espera que o vento leve, espera que o vento eleve o mal estar...
- Deixa que caiam, não prenda, deixa voar... O vento seca, o vento vem e desfaz, o sorriso e a ilusão...
- Não há nada que te impeça de  ficar, então vá...

domingo, 7 de julho de 2013

O local da morte


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Terrível e sensível é o local da morte... Onde se encontram todas as coisas. É desejos sensíveis e coisas insanas.

Um local sombrio onde estaremos lá querendo ou não. Todos tentam fugir mas sempre acaba em morte.

Madrasta cruel, sua lâmina lança
Meu afeto sinistro com sua imagem,
Nem funeral em seu local funéreo, dedicando o fim em um beijo ensanguentado!

Estávamos em uma rua escura. Nada nos rodeava além das sombras e da fumaça de nossos cigarros. A escuridão nos guiava como se já soubéssemos dobrar a próxima curva, quando nos demos por si que andávamos sem destino, e que só um frio insano ante nós fincava uma dor no peito, em plena melancólica agonia. Era a via da morte.

Já não temos escolhas quanto a beleza de não existir mas a beleza é morrer.

Unidos contra o tempo de acordo a sua alma indivisível e proporcionadores, a filosofia pensando na ortografia e com erros de palavras áudio telecomunicáveis dentro da sua compreensão  hipopostromostosequepedaliofia sendo um ornitorrinco da Austrália dando continuidade à nossa existência.

Fim.

Por Louis Sanábio, Humberto Gontijo, Rodrigo Lima, Lennon, Lucas Arantes e Samy Vallo.

Quem de nós?

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Somos jovens que anseiam por aventuras que suprem nossos desejos mais misteriosos.

Seres estranhos, equivocados, muito donos de si, sonhadores. Somos um pedaço de carne sendo comidos lentamente por problemas ao longo da vida.

Quero pretender o desejo só... Por uma vírgula sequer... De um ponto final calado... Como o tempo da areia na ampulheta!...

Quem é tão estranho a ponto de esquecer-se de si para amar o outro? Quem de nós é tão supremo a não vender-se no amor?

Quem de nós, nunca esteve em contato com seu eu? Mas quem save realmente o que é o que quer? E a vida é assim um completo devaneio.

Por Adeon Júnior, Humberto Gontijo, Rodrigo Lima, Samy Vallo e Taciana Silva

Sei lá

ImageA vida passa rápido demais por sobre meus olhos

Passa por entre meus dedos como se fosse fumaça...

Que desvia meu ego para o meu elo perdido na dúvida de ser pelo medo de estar entre quatro paredes escuras e vazias como meus pensamentos insanos!

Sei lá... Os desvios de vida não deviam machucar...

Ela devia ser como cada um gostaria que fosse. Como uma fantasia realizada.

Mas o ácido dom da vida já nos fere, ao ato de nascer, está nos sujeitos ao destino cataléptico da consciência mental, suprindo o controle de todo corpo inconscientemente.

Onde estou?
Quem sou?
Vamos para onde?

Perguntas querendo respostas mas o que resta? Nada mais que infinitas interrogações...

Por Adeon Júnior, Humberto Gontijo, Rodrigo Lima, Samy Vallo e Taciana Silva.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A voz do vento

Assistindo da janela mais um acidente imerecido, lê as letras formando palavras de esperança na tela pequena. Ainda há espaço em coração alheio para seu mal gênio e maus hábitos. Analisando as pontas dos cabelos que cresciam rápido demais, naquela ausência de definições de cor e forma, naquela ausência de botões ou aplicativos que aumentassem a saturação daquela imagem em seus olhos...
"Não. Não mexa aí. Deixe como está."
Houve um tempo onde o esquecimento perscrutava meu  olhos, meu crânio e na ausência de lugar para ficar saía junto com o vômito, o excesso de bebida, a solidão solidificada em sujeira e nojo.
"Não. Não mexa. Deixe como está."
O espelho completamente sujo de infinitas indas e vindas contemplava a janela aberta recebendo o amanhecer, mais uma noite sem dormir, mais uma noite perdida, mais horas que escoaram sem perceber, mais vida perdida em vão de portas..
- Já habitei tantos peitos, já morei em tantos corpos, já conheci tantos amores, já neguei tantos deles, entenda, há um ônus a se pagar pela arte e ser o que sou faz parte disso.
A ilusão glamourizada de uma arte morta, nascida e morta em línguas mumificadas. A imunização contra danos morais ainda não foi inventada. Aonde estão as vacinas contra a audácia daqueles que falam demais, bebem demais, não vivem mais? E o espelho se cala diante da tormenta. A parede não se mexe diante o turbilhão das ideias. Quebro as mãos e o espelho completamente inerte recebe o golpe  sem reclamar, juntaria os cacos, mas não é reciclável.
 "Não.Não mexa aí, por favor. Deixe como está."
Embevecida em tanta dor, catava nacos de sorte pelo chão da estrada e sorria vendo o vento passar. Os redemoinhos dançando, jogando os cabelos ao ar, num impulso tentando conter os fios revoltos, ouviu o vento:
"Não. Não mexa. Deixe como está."
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terça-feira, 26 de março de 2013

Canção da Centopeia



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- Quando começa a virar ódio, quando é raiva e não simpatia?...

Interrompia sempre, com a boca escancarada em um O perfeito, as mãos pousadas servilmente no colo, os olhos meio úmidos, sempre o mesmo quadro da janela, a fita nos cabelos, o vento batendo as portas:

- Não, não é raiva nem ódio. É saudade... É uma ânsia de vômito agarrada na garganta como se as lágrimas viessem explodindo seu corpo desenterrando sentimentos...?

Balançando a cabeça em discordância até o pescoço deslocar, rejeitava, sacudindo os ombros como se enfatizasse a negativa, mas não:

- Não... Eu o havia enterrado, ele retornou das terras sujas do esquecimento, roubando espaço na minha mente, roubando o resto de paz que sobrava em mim...
- Não culpe pessoas pelos erros que você cometeu.

 De repente o sangue jorrava feito inundação, vazamento de represa, estouro de boiada d'água. Mas era tudo imaginação, aquela vontade louca de matar aquilo que corroía, matar aquilo que incomodava, esquecer quem já te esqueceu, novo mantra, desistira de Flaubert. Torcendo os dedos entrelaçando-os, rompendo as juntas, quebrando as unhas nas palmas das mãos...

- Irreconhecíveis olhos de água parada. Tudo era um abismo, tudo era quase. De um abismo oculto no peito, de um vazio incontestável na alma, de lá vinha uma canção.
- Canção de morte.
- Canção de amor, ando sentimental. Desaguando dentro dos olhos aquela última canção silenciosa, faço verdade os sonhos que desisti.

 "Canta sozinha a centopeia, cigarra acesa em brasa e solidão. Anda sozinha centopeia dentro do mar de ilusões. Morre sozinha a centopeia no esgoto do desgosto." Parou de cantar ouvindo os passos na janela, ah borboletas...

-Ali, bem ali perto de onde nada existe, existiu uma sombra de felicidade traiçoeira, risonha da desgraça alheia, aninhando-se nos cabelos, sussurrando injúrias e depreciações, ah maldita...
- Não consigo ver, onde está ela?
- Ali ó, Ali... Aqui ó. Nesse peito vazio.

 Pendurado nas pedras dos olhos debruçados nos lóbulos da orelha, lá estava ela. Lá estava ela, naquele dia em que me perdia, naquele dia em que me esquecia, aquele som, aqueles cheiros que me rejuvenescia anos, aquela saudade...

- Assuma, não é bem saudade...Você fica revirando gavetas mofadas em busca de alergia e lembranças mortas, pessoas mortas, fica roendo seus cadáveres e chorando atrás das portas, sendo esmagada dia após dias por sua própria mão no pescoço. Assuma, você quer doer.
- Não, eu quero viver.