domingo, 28 de dezembro de 2025

Comentando Jane Austen Arruinou minha Vida (França/2024): Pode parecer uma comédia romântica, mas não é somente isso.

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Lá em outubro, por conta de uma postagem no Facebook, me lembrei do  filme francês Jane Austen Arruinou minha Vida (Jane Austen Wrecked My Life/Jane Austen a gâché ma vie), comecei a resenha e já se passaram uns dois meses.  Sim, fui relapsa, vamos tentar resolver isso.  Enfim, como eu imaginava, ele não foi para o cinema, está em algum desses streamings da vida.  Como estamos no ano de comemorações  dos 250 anos de nascimento de Jane Austen, acaba sendo uma boa homenagem.  Quando comecei a  assistir, estava esperando que esse filme fosse outra coisa.  O rótulo comédia romântica não dá conta  da riqueza da película, primeiro longa-metragem da diretora Laura Piani.  Ela também assina o roteiro.  E, sim, existe  a conexão com Jane Austen, mas não se trata do tipo de filme no qual a mocinha fica sonhando com a ideia de que um Mr. Darcy irá, de repente, aparecer na sua porta.

Antes de mais comentários, segue um resumo, o mais enxuto que  eu encontrei, e que veio da página francesa Picta Novo"Agathe tem tanto charme quanto contradições. Ela é solteira, mas sonha com uma história de amor digna dos romances de Jane Austen. Ela é livreira, mas sonha em ser escritora. Ela tem uma imaginação fértil, mas uma vida sexual inexistente. A vida nunca corresponde ao que a literatura lhe prometeu. Convidada para uma residência literária na Inglaterra, Agathe precisa confrontar seus medos e dúvidas para finalmente realizar seu sonho de escrever... e se apaixonar."

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Jane Austen Arruinou minha Vida é uma dramédia com pessoas adultas tentando restaurar suas vidas.  A protagonista, Agathe, se vê como Anne Elliot, a protagonista de Persuasão, no sentido de se acreditar como alguém que ficou parada no tempo, que perdeu o viço da  juventude, sem nunca ter vivido de verdade.  Não há nenhuma  situação  de desilusão amorosa envolvida, mas ela sofreu um grande trauma que acabou fazendo com que sua vida ficasse travada.  Por conta de um incidente do passado, ela passou a ter medo de automóveis e evita empreender viagens que não possam ser feitas de bicicleta.  Além disso, ela perdeu sua voz, não conseguindo iniciar e terminar uma criação literária.  Ela mora com a irmã (Alice Butaud) e o sobrinho (Roman Angel) e vive meio que em função do trabalho em uma livraria de fato existe, a Shakespeare and Company.

Um dos seus escritos não concluídos termina por cair nas mãos de um amigo, colega de trabalho e interesse romântico, Félix (Pablo Pauly).  É ele quem inscreve Agathe para a tal residência literária e ela acaba sendo selecionada.  Ela  resiste, mas termina aceitando e tem que se submeter a uma viagem de carro até o Canal da Mancha.  No caminho, Félix já ensaia uma declaração de amor e a beija, mais adiante, será criado um mal-entendido por causa disso.

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Ao chegar na Inglaterra, ela é recebida por Oliver (Charlie Anson), filho do casal de idosos que é dono da casa onde acontece a tal residência literária.  Eles são parentes distantes de Jane Austen, mas Oliver, que é um professor universitário de literatura contemporânea, mostra desprezo pela autora.  Ele e Agathe não se dão bem, ela não sabe que ele é fluente em francês e comete uma gafe, e temos uma referência direta a Orgulho & Preconceito nesse ponto de partida dos dois.  Ele diz não gostar de franceses e, mais tarde, descobriremos que, assim como Agathe, ele é um homem quebrado.  Ele foi casado com uma francesa que, segundo ele, porque não a conhecemos, o traiu com o departamento de literatura inteiro, homens e mulheres, o que o levou a se indispor com todo mundo, ser suspenso e ficar viciado em medicamentos.  Por causa disso, ele está de volta à casa dos pais.

Beth (Liz Crowther), a responsável pela residência literária, é um amorzinho, gentil com Agathe e muito esperneosa de ver seus escritos.  Agathe mente sobre sua capacidade de escrever, porque está envergonhada de não conseguir ir além.  Já o pai de Oliver, Todd (Alan Fairbairn), é um homem gentil e um grande intelectual, mas sua saúde mental está declinando, o que leva a alguns acontecimentos constrangedores e reclamações dos outros participantes do seminário.  Agathe, no entanto, se mostra paciente e gentil com ele, o que atrai a atenção de Oliver e começa a fazer com que ele mude de ideia sobre ela.  Ele estava sofrendo bastante com a situação do pai e sentindo-se sobrecarregado pela responsabilidade de tomar conta dele.  Mas até que eles comecem a se entender, demora um pouco.

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 Há mais três participantes no seminário, mas somente as das mulheres realmente têm participação no filme.  Olympia (Lola Peploe), que é uma acadêmica feminista construída para ser muito chata e esvaziar seu discurso de derrubada do patriarcado por estar assujeitada pelo desejo da maternidade.  Ela é que sempre reclama de Todd e se estranha com Agathe no início para, mais tarde, as duas conseguirem se conectar.  Já Chéryl (Annabelle Lengronne) é acolhedora e se torna amiga de Agathe, mas ela também quer ver os escritos da francesa.  O elenco inteiro do filme é bilíngue, então, a gente fica pulando de uma língua para outra.

Conforme a história progride, Agathe continua travada e mentindo, mas se aproxima de Oliver, a quem termina por confessar o seu problema.  Ele a aconselha a  encontrar a voz  perdida, ou, como ele diz, suas ruínas.  A atração entre os dois é inegável e quando se  embebeda, Agathe acaba por se declarar para ele e quer que Oliver faça amor com ela.  Mesmo apaixonado, ele faz o que um adulto funcional deve fazer, ele recusa, porque ela não está no domínio das suas faculdades.  Por fim, o último acontecimento do seminário é um baile ao estilo Regência, como nos tempos de Jane Austen.  O figurino não é dos melhores e quem aparece de repente é Félix.  

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Ele acredita que Agathe tenha sentimentos por ele.  Cria-se o mal-entendido, porque Oliver estava disposto a se declarar e Félix e Agathe terminam na cama.  É a única cena de sexo do filme e, ao terminarem, os dois acabam se dando conta, ele em especial, de que aquilo foi muito errado, que eles são amigos e não esse tipo de amigos, que não podem se agarrar um ao outro simplesmente por serem dois solitários.  Mas o estrago já está feito e Agathe termina fugindo e confessando para Beth que é uma fraude.  É Oliver quem a leva  até  o ferry boat e os dois parecem inconsoláveis.

De volta a Paris, Agathe decide ir em busca da sua voz, como recomendou Oliver, e superar o trauma.  É um percurso doloroso; ele envolve lembrar da morte trágica de seus pais, mas ela termina conseguindo.  Ela termina conseguindo e consegue o seu final feliz, como Anne Elliot e, claro, temos uma carta, porque Oliver não é Darcy, precisa ser Wentworth.  Se bem que Darcy escreve uma carta... mas é outro tipo de carta, enfim.  Não fosse a cena de sexo, esse filme poderia tranquilamente estar no catálogo do canal Hallmark e não estou criticando ou dizendo que é ruim, mas apontando que, no geral, a história segue os padrões castos das produções deles.  

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 O ator que faz o Oliver não me era estranho, descobri que ele fez um papel menor em alguma temporada de Downton Abbey, tem bem o perfil, por assim dizer.  Já Camille Rutherford estava em Anatomia de uma Queda,  Mary Queen of Scots e Azul é a Cor mais Quente.  Lembrava dela de algum desses filmes.  Liz Crowther foi Julia Bertram, uma das primas de Fanny, em Mansfield Park (1983).  

Concluindo, Jane Austen Arruinou minha Vida é um filme para adultos, é bonitinho, mas não é meloso, não tem gente linda desfilando de lá para cá, e aproveita para discutir nossa relação com os mortos e os vivos e os  problemas  advindos da velhice.  Poderia  ser  um tiquinho mais longo, eu não iria reclamar, mas cumpre bem a sua função.  Recomendo e não somente para quem é fã de Jane Austen.  

sábado, 27 de dezembro de 2025

Comentando É Tempo de Amar (França/2023): Sobre três excluídos e a necessidade de amar e ser amado

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Hoje, iria sair para assistir ao grande concorrente de O Agente Secreto, o filme norueguês Valor Sentimental.  Só que fiquei tão capturada pelo drama francês É Tempo de Amar (Les Temps d'Aimer), que eu não consegui largá-lo e sair no meio da onda de calor para o centro de Brasília.  Talvez, na segunda-feira, quem sabe?  E eu nem conhecia Les Temps d'Aimer até ontem.  Não lembro dele ter entrado em cartaz, não lembro mesmo, mas ele estava no Festival de Cannes  em 2023.  Enfim, é um ótimo filme, com personagens que têm que lidar com sentimentos muito turbulentos, os adultos os escondem ou tentam; a criança não tem ainda as ferramentas para tal.  Vou dar o resumo, que veio do site feminista francês le genre & l’écran (*que eu descobri agora*) e já volto: 

Esta é a história de um casal que se conhece após a Segunda Guerra Mundial, unidos pelo sentimento comum de serem excluídos. Madeleine (Anaïs Demoustier), de origem humilde, teve um breve caso com um médico alemão antes de ele ser enviado para a Frente Oriental. Grávida, teve os cabelos cortados publicamente após a Libertação e deu à luz um filho sem pai, fugindo em seguida de sua vila natal para escapar do estigma. François (Vincent Lacoste), um estudante de origem burguesa que manca devido à poliomielite, precisa esconder sua atração sexual por homens. Cada um carrega um "segredo vergonhoso", e o relacionamento entre eles se torna um refúgio de um mundo social hostil. Eles se conhecem na costa da Bretanha, onde ele passa férias na propriedade da família, enquanto ela trabalha como garçonete em um hotel próximo.

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Les Temps d'Aimer  foi dirigido e roteirizado por uma mulher, Katell Quillévéré, e ainda que fale de um casal qu permanece junto por quase vinte  anos, é um filme, pelo aos meus olhos, sobre a jornada dessa personagem feminina e sua reconciliação com o filho, um menino que desde muito pequeno tinha a impressão de não ser amado pela mãe.  E esse filho, que é interpretado magistralmente por três jovens atores, com destaque para o mais novinho deles, Hélios Karyo, desejava ter acesso à verdade sobre o seu nascimento, informação que por boa parte do filme, a mãe não é capaz de lhe dar.

Les Temps d'Aimer abre com imagens reais do justiçamento de mulheres que tiveram relacionamentos com alemães durante a guerra.  Escrevi extensamente sobre isso na resenha do quadrinho Colaboração Horizontal, termo pejorativo usado para esse tipo de relacionamento.  Enquanto muitos homens colaboracionistas foram poupados ou passaram por membros da Resistência na confusão da Libertação da França, mulheres tiveram seus cabelos raspados em praça pública, foram expostas nuas ou em roupas de baixo e agredidas de todas as formas possíveis.  Deitar-se com o inimigo por amor, para não morrer de fome ou por meio de violência era uma ofensa a toda a pátria.  E a autora tempera as imagens dessas mulheres humilhadas com as de outras, algumas sendo constrangidas, beijando soldados norte-americanos, "seus libertadores", a quem não deveriam negar nada. 

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As fotos, eu conhecia bem, mas algumas filmagens mostradas no filme, eu desconhecia totalmente.  Tudo era material de arquivo, mas ele se entrelaça com o próprio filme.  Madeleine com os cabelos raspados, correndo semi-nua, tentando apagar a suástica que lhe tinha sido desenhada na barriga de grávida.  Os cinco minutos iniciais do filme serviriam maravilhosamente bem em uma aula para o Ensino Médio e, como vou ter que voltar a falar de 2ª Guerra Mundial, já estou planejando como.  Enfim, o trauma de Madeleine foi enorme e mesmo que François a tenha acolhido e a seu filho, porque ela lhe conta tudo quando ele se declara para ela, não há mentira da parte da protagonista, mas ela continua marcada pelo trauma e isso atrapalha enormemente a relação com o pequeno Daniel, algo que se agrava conforme o menino vai crescendo.  

É bem cruel ver o menininho pedindo que a mãe lhe dê um beijo de boa noite e ela ignorando e indo embora para o trabalho, por outro lado, é compreensível que Madeleine não consiga lidar com toda essa carga emocional.  Fora, claro, o fato de ser mãe solo nos primeiros seis anos de vida do filho.  Só que a culpa não é da criança e, conforme o menino cresce, se estabelece um abismo entre os dois.  E a única ponte entre eles é François, que nem sempre é emocionalmente capaz de dar conta dessa atribuição e ainda lidar com o seu próprio turbilhão emocional.

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Falando em François, ele é  um jovem arqueólogo que está desenvolvendo sua tese na Sorbonne.   Ele não foi para a guerra por causa da pólio, ele diz para Madeleine que não se dá com o pai e tem uma relação de afastamento com o atlético irmão mais velho por causa de sua escolha profissional.  Ele vem de uma família de ricos industriais, ele quer ser um intelectual, algo que não é bem compreendido pelo pai.  Só que, ao longo do filme, somos levados a refletir se, na verdade, o que causa dissenção na família é a orientação sexual do rapaz.  Não colocaria François na letra G, mas ele com certeza está na letra B e com preferência por homens, tanto que, ao que parece, sua primeira experiência sexual com uma mulher (*talvez a única*) foi com Madeleine.  Ele ama a esposa, ele é  melhor pai para Daniel do que a esposa é para seu próprio filho, mas ele não consegue fugir de seus desejos por outros homens o tempo todo.  Em dado momento, ela o acusa de ter se casado com ela para se esconder, cabe a quem assiste ao filme tirar  suas conclusões.

Logo depois do casamento, eles passam a viver em Paris e um ex-amante vem atrás de François.  Imagino que o tempo que ele passou distante de Madeleine, antes dele lhe propor casamento, e que fez a moça imaginar que ele a tivesse esquecido, tenha sido para se desenganchar do sujeito.  Eles moraram juntos no apartamento para onde ele leva a família.  François conta uma história para Madeleine, diz que eles tinham uma rivalidade acadêmica (*e cientistas podem matar, vide o caso recente dos dois físicos portugueses*), e que o rapaz tinha transtornos mentais.  Sim, o cara era esquizofrênico, isso é verdade, mas eles foram amantes.  

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No fim das contas, o sujeito acaba ateando fogo no apartamento de François e Madeleine, quando eles estão atendendo aos funerais do pai da protagonista.  Madeleine está vivendo o luto, tendo que passar pelas ruas da cidadezinha onde foi humilhada, o carro do casal é vandalizado com esterco ou lama, não sei bem, e tem uma suástica nazista desenhada nele, e, quando ela retorna, encontra seu lar destruído.  Madeleine desconfia que François guarda segredos, pergunta para ele inclusive, mas o marido se retrai.  Nessa sequência da casa queimada há  uma imagem que é de terror para  qualquer  um que já tenha feito dissertação de mestrado ou tese de doutorado, que é a do trabalho de François completamente destruído.  Madeleine o consola dizendo que tudo está na cabeça dele (*minha mãe me disse isso para me acalmar quando eu estava fazendo meu TCC*) e que ele conseguiria fazer tudo de novo.  Acho que eu morreria um pouco ali.  

A destruição do apartamento leva o casal a se mudar.  François tinha falado de uma proposta de emprego em um dancing, uma espécie de boate, que ficava perto de uma base norte-americana.  Eles queriam um gerente fluente em inglês, ele iria ficar com esse emprego, e Madeleine poderia trabalhar como garçonete.  Ela parecia ter recusado, fala da tese do marido, ele diz que pode fazer o trabalho acadêmico de dia.  No fim das contas, eles vão.  A chegada na área das boates e bordéis, com montes de soldados bêbados, mulheres se prostituindo na rua e muitas luzes, deixa o pequeno Daniel fascinado.  É tudo muito diferente, colorido e não é bem o melhor lugar para uma criança.  Temos aí o primeiro salto no tempo; sai de cena o pequeno Hélios Karyo e entra Josse Capet, Daniel aos 10 anos de idade.

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É dessa segunda parte do filme que vêm os cartazes de Les Temps d'Aimer.  Temos François, Madeleine e o soldado norte-americano Jimmy (Morgan Bailey) deitados na grama.  Aliás, fiquei sabendo desse filme por um vídeo do canal Gay Nerd que deu ênfase à ideia de que Les Temps d'Aimer parecia ter como centro a relação entre esses três.  Não tem, não.  A participação de Jimmy é pequena, ele flerta com Madeleine e com François, mais com ela do que com ele, mas é meio que peça-chave para que a protagonista compreenda melhor o marido.  De qualquer forma, é um relacionamento altamente problemático e não  se forma trisal nenhum, por assim dizer.

Jimmy é  desejado pelos dois.  Madeleine ama ou pensa amar François, mas é evidente que ele não consegue lhe satisfazer sexualmente, falta alguma coisa.  Já François arde de desejo por Jimmy, mas tenta se controlar, não dar bandeira.  Homossexualidade é crime na França, a lei que penalizava a prática ficou em vigor entre 1942 e 1982, e ele é um homem casado.  Conforme a relação dos três é desenvolvida, temos uma cena de sexo, a única com alguma nudez, envolvendo o trio.  Madeleine está com Jimmy e François está assistindo ao ato.  Acontece?  Sim, mas é algo que se remete à pornografia e à fetichização do corpo masculino negro.  Gostei disso, não.  

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Madeleine convida o marido a participar.  Ele timidamente se despe e entra na cena.  Primeiro, ele troca carícias com a esposa, acaricia Jimmy, mas quando se sugere que ele deseja penetrar o sujeito, temos uma explosão.  Jimmy bate em François e acusa o casal de querer transformá-lo em um brinquedo.  Não discordo, mas quem começou a brincadeira toda foi o próprio Jimmy logo que os conheceu.  E o que fica evidente para mim é a questão da construção da masculinidade do homem negro.  Jimmy não poderia jamais ser o passivo, ser visto como gay efeminado.  E quem quiser aprofundar esse tipo de discussão dentro do audiovisual, recomendo o excelente Moonlight e a série Fellow Travelers, que eu não resenhei, mas comentei no Shoujocast da retrospectiva 2024.  

Depois disso, Jimmy some da história e ainda teríamos mais de uma hora de filme.  Então, quem for atrás de Les Temps d'Aimer achando que o filme é sobre o trio, esqueça, é um drama sobre três párias, Madeleine, François e Daniel.  Agora, a participação de Jimmy serve para discutir a segregação.  Há boates mistas e há boates para brancos.  A de Madeleine e François é para brancos, Jimmy termina virando frequentador e isso gera alguns problemas.  Não é o foco do filme, a coisa meio que passa batida, mas é algo que está lá.  François e Madeleine não o discriminam, mas, como comentei, ambos meio que fetichizam o sujeito.  E todo mundo é bonito no filme.  Os três em particular são lindos.

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Nessa segunda parte do filme, Daniel continua sendo rejeitado pela mãe e François pressiona a esposa dizendo que já era hora de falar para o menino, que está com dez anos, quem é seu pai, mas ela não consegue.  Daniel é expulso da escola por ter agredido um colega.  Ele é um excelente aluno e François diz que ele será aceito em outra escola.  Daniel pergunta se ele é um monstro.  A mãe não lhe dá resposta, mas François o acolhe e diz que ele não é um monstro.  Os laços entre os dois se estreitam ainda mais, mesmo que Daniel permaneça obcecado pelo pai biológico, e cresce o abismo entre mãe e filho.  Depois disso, temos a única cena de sexo mais quente entre François e Madeleine, ele a consola após o incidente na escola e  ela termina grávida.  Com a morte do pai de François, as condições econômicas da família mudam enormemente, porque ele vende sua parte nas fábricas para o irmão.  Outro salto no tempo.

Agora, eles são uma família burguesa, estão em Paris e François realizou seu sonho.  Concluiu a tese, voltou a ser pesquisador e é professor da Sorbonne.  Ele tem uma filha que ele adora e quer  que estude e siga uma carreira acadêmica, além disso ele estimula Daniel, agora  interpretado por Paul Beaurepaire, a  entrar para a Escola Politécnica, a faculdade de engenharia mais conceituada da França.   As cenas dele com os dois são muito boas e as com Daniel, agora no fim da adolescência, são bem ternas. Só quem parece realmente infeliz é Madeleine, porque ela amava a vida na boate e não consegue atingir o grau de exigência de uma esposa de um professor da Sorbonne.  Ela vem das classes populares e não consegue se interessar por aquilo que o marido ama e que, agora, ele tem dinheiro para ter novamente.  Além disso, ela sente ciúmes dos amantes que julga que François tem, além de estar sexualmente  insatisfeita.  E vem a tragédia.

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François realmente tem um amante.  Eles se encontram furtivamente em um banheiro que é ponto de encontro de homens em busca de aventuras e alguma privacidade.  O jovem é seu aluno.  Só que François sente culpa e vergonha, além de medo, provavelmente.  Ele rompe com o rapaz, dizendo que não é capaz de seguir adiante com aquilo.  O jovem decide  se vingar e conta para o pai que foi assediado pelo professor, constrangido a práticas homossexuais.  Já seria ruim o suficiente,  um crime, mas o moço é menor de idade; ele tem 20 anos.  François é preso, demitido da Sorbonne e decide dar um passo sem volta.  E, algo que preciso pontuar, é que François, que é um sujeito gentil, ainda que falho, tem um tremendo dedo podre para homem.

Sem François, a família fica à deriva.  Daniel confronta a mãe de forma muito violenta e sai de casa.  Jeanne (Margot Ringard Oldra) não consegue entender a morte do pai e o motivo do irmão, que ela adora, ter ido embora de casa. A reação da menina é mergulhar nos estudos, algo que o pai cobrava dela, e seguir nos passos dele.  Madeleine tenta seguir em frente, abre uma boate, permanece ativa, mas ela está doente, talvez não tenha muito tempo de vida.  O  tom do filme fica ainda mais pesado, mas não somos deixados no inferno, porque Daniel, que abandonou os estudos e entrou para o exército, suplica à mãe por detalhes sobre o pai.  Ele precisa de informações para dar entrada junto ao governo da Alemanha Ocidental de uma busca pelo seu pai biológico nos arquivos da Wehrmacht.  É nesse último momento que Madeleine consegue se livrar do trauma ou que ele para de doer e, finalmente, mãe e filho parecem se reconectar.

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Sim, sim, muitos spoilers, me desculpem, mas eu não consegui evitar.  Les Temps d'Aimer é um bom filme, tocante e que consegue aprofundar uma série de discussões que são relevantes.  É um filme histórico, coloca em discussão a situação de gente que por motivos diferentes são párias sociais, a discriminação às mulheres e aos LGBT+.  Em duas horas e pouquinho ele consegue ser muito profícuo e denso.  E eu não consegui deixar de simpatizar com ninguém e digo que nem François nem Madeleine são pessoas perfeitas, eles são complexos e falhos.  Já Daniel, seja em qualquer uma das suas fases, é a única completa vítima dessa situação toda.  A mãe quer protegê-lo, ele tem o  sobrenome de François, mas não consegue lhe dar amor e ele tem medo de ser um monstro, porque é assim que os alemães são pintados.

Les Temps d'Aimer tem um excelente figurino e ele ajuda a marcar  a passagem do tempo, assim como as paisagens. Não há o uso irritante de letreiramentos.  O tempo passa, porque as roupas, especialmente de Madeleine mudam, porque seu cabelo está alterado, porque novas tecnologias aparecem em tela, porque os discos são outros, porque estamos em Paris ou em outro lugar e assim por diante.  Há, também, referências ao período histórico que são colocadas na trama: fim da 2ª Guerra, Independência da Argélia, Guerra  do Vietnã etc.  Ninguém é tratado como idiota, por assim dizer. Quanto à caracterização dos atores, Anaïs Demoustier consegue convencer no seu amadurecimento e envelhecimento, já Vincent Lacoste sempre parece muito jovem, porque ele aparenta ter menos idade do que tem.

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Assisti Les Temps d'Aimer porque localizei um torrent.  O filme está disponível em um streaming que eu não tenho e eu fiquei com vontade de dar uma olhada pelos motivos errados, por assim dizer, e os cartazes do filme conduzem a uma ideia bem falsa, por assim dizer.  A surpresa foi descobrir um filme sensível, denso e que não escolhe caminhos fáceis.  Além disso, o desempenho do menininho Hélios Karyo é magnífico.  Ele atua com os olhos, com a expressão corporal, ele é extremamente convincente como a criança que só quer amor e que não consegue entender por qual motivo a mãe parece, na percepção infantil dele, odiá-lo.  Enfim, recomendo bastante.

Trailer de Tenmaku no Jaadugar (A Witch's Life in Mongol) anuncia que a estreia será em julho

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Tenmaku no Jaadugar (天幕のジャードゥーガル), de Tomato Soup, foi o primeiro colocado no guia Kono Manga ga Sugoi! de 2023 e teve seu anime anunciado em abril.  Com um traço bem peculiar, escapando daquilo que a gente imagina como mangá, a série se passa no século XIII e conta a história de Fátima, uma mulher persa de uma família de intelectuais, que é capturada e vendida como escravizada para os mongóis.  Só que ela acaba encontrando entre os mongóis espaço para exercer seus conhecimentos de medicina.   O título internacional da série é A Witch's Life in Mongol e já foi licenciada em vários países.  E eu comprei o volume #1 norte-americano, preciso resenhar.  Abaixo, o primeiro teaser-trailer.  Ficou lindo.  A estreia é em julho.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Como fizemos Orgulho e Preconceito: a camisa molhada, o caso secreto e a banheira de hidromassagem (Artigo traduzido)

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Ainda dentro das comemorações dos 250 anos de Jane Austen e dos 30 anos da série Orgulho & Preconceito da BBC decidi traduzir o artigo do The Times chamado "How we made Pride and Prejudice: the wet shirt, the secret affair and the hot tub".  O artigo é de 12 de setembro e a série estreou em 24 de setembro de 1995.  Há pequenas entrevistas, a mais importante com Andrew Davies, que mostra que seus surtos com sexo vêm de longe e a gente agradece quando há produtora ou diretor/a segurando o sujeito ou ainda um ator se recusando a fazer certas coisas.  Outros entrevistados são Crispin Bonham-Carter (Mr. Bingley), que  diz vir de uma família rica, mas deixou de ser ator para ter como pagar as contas; Adrian Lukis (Mr Wickham) que conta das "loucas" aventuras com Colin Firth dentro e fora do set de filmegem; Lucy Briers (Mary Bennet), que reflete sobre como gostou de ser Mary Bennet, mas que isso acabou a deixando presa a um determinaod tipo de papel; e Susannah Harker (Jane Bennet), que fala com muita melancolia de como as atrizes mais velhas tem poucos papéis realmente bons a disposição.  Não sabia (*ou lembrava*), mas a mãe dela foi Jane em Orgulho & Preconceito, 1967.  Ela fala de que se sentia como dando continuidade a um legado.  

Enfim, é uma boa matéria, mas é ridículo o Andrew Davis delirando com sexo e como sexualizar suas produções de época e atacando Bridgerton. Ele é  muito cara de pau e, mais  uma vez, fala de seu sonho de fazer uma adaptação apimentada de mansfield Park.  Só lembrando, como sempre tento fazer, mantive a estrutura do artigo original e o link para ele está lá em cima.  Segue a tradução: 

Como fizemos Orgulho e Preconceito: a camisa molhada, o caso secreto e a banheira de hidromassagem

Quando a adaptação da BBC da obra de Jane Austen completa 30 anos, seu elenco e criador, Andrew Davies, relembram as paqueras, as brigas — e as festas de jacuzzi com nudismo,

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Jennifer Ehle and Colin Firth in Pride and Prejudice

Blanca Schofield
Sexta-feira, 12 de setembro de 2025, 23h30, The Times

Deveria ser uma verdade universalmente reconhecida que a minissérie "Orgulho e Preconceito" da BBC1, em seis partes, que estreou em 24 de setembro de 1995, é a melhor adaptação de um clássico até hoje. Ela lançou a carreira de Colin Firth como astro de Hollywood e o catapultou (com alguma relutância) ao status de galã, em grande parte graças à sua cena da camisa molhada. E mudou a indústria da TV: até então, os produtores relutavam em produzir dramas de época, uma estratégia que abandonaram quando "Orgulho e Preconceito" atraiu mais de dez milhões de telespectadores e vendas sem precedentes em VHS. Para o bem ou para o mal (falaremos mais sobre isso adiante), não haveria Bridgerton sem ela.

A chave, como o roteirista Andrew Davies admite com orgulho, era o sexo. Não o sexo explícito, mas o sexo natural, com gratificação adiada. O que são lingerie e nudez frontal em comparação com as caminhadas e o rubor de Elizabeth Bennet pelos bosques? E no 250º aniversário do nascimento de Jane Austen, as adaptações de Orgulho e Preconceito continuam a surgir. Uma nova versão em áudio, estrelada por Harris Dickinson e Marisa Abela, está disponível no Audible, e a série de Dolly Alderton para a Netflix chega em breve.

Aqui, Davies e o elenco revelam o que aconteceu durante as filmagens da série de 1995 — incluindo muitas fofocas.

Andrew Davies, escritor

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Andrew Davies: "Eu coloquei 'Darcy está com uma ereção' nas anotações para a cena do lago."

Orgulho e Preconceito é meu romance favorito. É como um conto de fadas, mas também é muito inteligente. É engraçado e tem possivelmente a heroína mais cativante de toda a literatura inglesa. Elizabeth Bennet é o tipo de pessoa que você gostaria de ter como amiga. A trama funciona como um relógio suíço: tudo se encaixa perfeitamente.

Sue Birtwistle [a produtora] e eu tínhamos conversado sobre Orgulho e Preconceito e como ele é um romance sensual, o que é um paradoxo, já que não há sexo explícito. O motor da trama é o desejo de Darcy por Elizabeth. Ele a deseja antes mesmo de gostar dela. Estávamos assistindo a uma adaptação de A Abadia de Northanger feita por outra pessoa, e Sue se inclinou para mim e disse: "O que você e eu deveríamos fazer é uma adaptação bem sensual de Orgulho e Preconceito". E foi assim que tudo começou.

Comecei a conversar com jornalistas sobre isso antes mesmo de terminar de escrever. [Então] o Daily Mail ligou para vários bispos e figuras da sociedade ligadas a Jane Austen e disse: “Andrew Davies quer escrever uma versão pornográfica de Orgulho e Preconceito, vocês não estão chocados?” Então, a série recebeu bastante publicidade negativa antes mesmo de ser concluída. Mas despertou o interesse das pessoas, então muita gente assistiu e gostou, mesmo não sendo explicitamente sensual.

Nunca me senti tentada a explicitar isso porque existe algo na expectativa. O problema com as coisas modernas é: o que impede que eles vão para a cama imediatamente? E aí, para onde vai a história? Para onde vai o suspense? Detesto Bridgerton. É profundamente ridículo. Boa sorte para a série, eu não a prejudicaria — como diria minha sogra sobre coisas de que não gostava particularmente.

Eu coloquei "Darcy está com uma ereção" nas anotações para a cena do lago. Era para ajudar o ator. Não quis dizer que a câmera deveria mostrar as calças dele, apenas que ele de repente se dá conta de como está a fim de Elizabeth. Me fez rir escrever isso e achei que o ator também poderia achar graça. Tivemos uma pequena discussão sobre se Darcy deveria estar usando alguma roupa ao mergulhar no lago, porque naquela época os homens costumavam tomar banho nus. Sue, e acho que Colin, não queriam fazer assim, e Sue ganhou a discussão. Acho que ela pensou que isso deixaria o resultado mais sensual. Suspeito que Colin não estivesse totalmente satisfeito com a aparência do seu corpo sem roupa, porque isso foi antes da época em que os atores malhavam três horas por dia na academia.

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Colin Firth como Mr. Darcy na cena do banho

Acho que tive uma grande influência nas adaptações modernas. Orgulho e Preconceito continua ótimo até hoje. Ninguém queria fazer dramas clássicos naquela época. Era terrivelmente difícil convencer as pessoas a sequer considerarem a ideia. Sue tentou vendê-la para a ITV — ela disse a Nick Elliott, que era o chefe de dramaturgia, que tinha um livro fantástico sobre um homem com cinco filhas, todas cheias de hormônios, e que ele só queria casá-las antes que começassem a ter filhos fora do casamento. Nick, que tinha quatro filhas, pensou: "Este é o tipo de drama que eu gostaria de ver" e perguntou: "Vocês têm os direitos? Podemos conhecer o autor?" — momento em que Sue teve que confessar que era Jane Austen. Mas [Eliott] ainda encomendou três dos seis episódios. Só que aí o chefe dele decidiu que não era o tipo de coisa que a ITV faria. Então levamos a ideia para Michael Wearing, da BBC, que disse: "Se vocês fizerem Middlemarch primeiro, eu deixo vocês fazerem Orgulho e Preconceito". Eu fiz isso, e depois fizemos Orgulho e Preconceito, que teve dez milhões de espectadores, e minha carreira mudou completamente.

A única ressalva que eu tinha em relação a Colin Firth era a cor do cabelo dele, que era loiro a ruivo quando ele participou da adaptação de "Circle of Friends" que eu escrevi [em 1995]. Eu achava que Darcy tinha que ser moreno e melancólico. Sue disse: "Vamos fazê-lo pintar o cabelo", e ele gostou e manteve a cor. Ele sempre se considerou um ator de personagens, e não um protagonista, e acabou ficando meio preso ao papel de Darcy. Depois, quando "Bridget Jones" estreou, ele foi escalado como Mark Darcy, então foi culpa dele se ficou com esse papel.

Todo mundo parece saber agora que Colin ajudava Jennifer Ehle [que interpretava Elizabeth Bennet] com as falas diariamente. Acho que eles estavam apaixonados. Sue me contou que, quando descobriu, chamou Colin e disse: "Eu sei que isso começou e quero que você continue, que mantenha essa garota feliz, porque não quero um mar de lágrimas no set". E ele disse: "Com certeza, claro". Na verdade, Jennifer terminou com ele quando a série acabou. Então, tudo acabou bem.

Eu estava um pouco receosa sobre o que as pessoas da Sociedade Jane Austen diriam, mas elas conhecem o romance tão bem que, mesmo que não concordassem com o que eu fiz, entenderiam o meu raciocínio. Na verdade, a maioria das pessoas foi muito elogiosa. Elas podiam apontar pequenos detalhes, como "Darcy não teria usado esse tipo de caneta, porque ela só foi inventada dez anos depois". É claro que assistirei à nova versão da Netflix e, sem dúvida, gostarei, mas, na minha opinião, nada superará a de 1995.

Estou começando uma adaptação de um fragmento de Jane Austen chamado Os Watsons, um pouco como Sanditon — só há material suficiente para um primeiro episódio, mas podemos criar o resto. Cheguei à idade [88] em que posso apreciar Mansfield Park, então farei uma adaptação maravilhosa e radical. Ela levará em consideração as implicações de que toda a riqueza de Mansfield Park se baseia em uma plantação de escravos em Antígua e que Sir Thomas precisa ir para lá. E existe outro Mansfield Park em Antígua, onde Sir Thomas tem outra família, mestiça, e uma vida completamente diferente, e ele nunca fala disso quando volta. Fico impressionado que ninguém tenha pensado nisso antes. Com certeza será a adaptação mais ousada que já fiz.

Crispin Bonham-Carter, Mr Bingley

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Crispin Bonham-Carter, à direita, como Mr. Bingley, com Colin Firth.

Eu tinha 24 anos. Estava fazendo Pygmalion no Nottingham Playhouse e o diretor não estava muito entusiasmado com a ideia de eu fazer testes, mas no fim me deixaram entrar. Decidi usar meu paletó de veludo cotelê porque achei que tinha um quê de época da Regência.

Acho que me deram o papel porque eu era muito parecido com o Mr. Bingley. Eu queria muito entrar para o teatro radical, mas fui imediatamente fisgado pela máquina dos dramas de época e me encaixei muito bem. Eu tinha ido a bailes na vida real. Esperava conseguir me libertar de tudo isso, mas eles me olharam e pensaram: "Mr. Bingley". Na verdade, eu não sabia andar a cavalo, apesar de ser rico. Fui mordido por um quando era bem jovem e fiquei com medo. Tem uma cena em que eu saio cavalgando e dá para me ver lutando para controlar o cavalo. Lembro-me de Alison Steadman dizendo algo como: "O Mr. Bingley é um homem tão adorável, é uma pena que ele não saiba cavalgar".

Colin e eu mantivemos contato por um bom tempo. Éramos bons amigos no set e havia todas aquelas lindas garotas interpretando seus papéis. Conversávamos sobre as garotas de quem gostávamos, assim como eu sei que elas faziam sobre nós: era um reflexo do texto. Existe um grupo muito seleto de mulheres que veem o Mr. Bingley como o verdadeiro símbolo sexual em Orgulho e Preconceito. Criaram um fã-site alemão, o que foi lisonjeiro.

Depois disso, consegui muitos papéis nesse estilo. Ou eu era um jovem encantador ou uma pessoa má fingindo ser um jovem encantador. Tive um papel minúsculo em Bridget Jones. Não quero parecer ingrato, mas os papéis que eu conseguia não eram suficientes para justificar a insegurança e a espera. Quando fiz 30 anos, me tornei diretor de teatro e me saí muito bem — ganhei o Prêmio Jerwood para Jovens Diretores e trabalhei como assistente no West End. Eu ajudava Nick Hytner no National Theatre. Mas eu tinha quatro filhos e uma hipoteca. Aos 37 anos, decidi que gostaria de ter uma vida que me permitisse estar presente. Agora sou vice-diretor e leciono inglês na Queen Elizabeth’s School em Barnet, norte de Londres.

Meus alunos frequentemente me dizem que suas mães assistem a Orgulho e Preconceito. De vez em quando, me pedem para tirar uma foto comigo em reuniões de pais e professores. Me sinto sortudo por ser reconhecida por algo tão adorável. Não uso a série como ferramenta de ensino; sinto um pouco de vergonha alheia quando assisto à minha atuação — vejo uma ator muito jovem de pé, sorrindo o tempo todo. Mas convenci Alison Steadman [Mrs. Bennet] a fazer o discurso de formatura na nossa escola neste semestre: ela foi fantástica.

Adrian Lukis, Mr Wickham

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Adrian Lukis como Mr Wickham.

Originalmente, eu consegui o papel do Coronel Fitzwilliam, mas o ator que havia sido escalado para o papel de Wickham desistiu — acho que era Rupert Graves — então, de repente, o papel ficou vago.

Eu tinha lido o livro na escola. Não tinha me interessado particularmente pelos envolvimentos românticos de um grupo de garotas em Hertfordshire. Eu gostava mais de Henry Miller e Arthur Miller. Então, quando fui escalado, li o livro com muita atenção — a única coisa que eu queria fazer era não tornar Wickham um sedutor e um canalha óbvio. Elizabeth Bennet é obviamente uma heroína muito inteligente e perspicaz, e se ela for enganada por um homem que é claramente um canalha, isso não é bom. Então, decidi interpretá-lo da forma mais plausível possível: agradável e doce.

Desde então, escrevi uma peça inteira sobre o Mr. Wickham, que tenho apresentado em todo o mundo — é sobre por que ele se tornou o que se tornou e questiona se ele é realmente o canalha que Jane Austen e o Sr. Darcy sugerem. Eu sugiro que não.

Fui apresentado a Susannah Harker, que interpretava Jane, e ela disse: "Eu estava pensando em manter as laterais como estão e franzir o vestido." E eu disse: "Não, eu não sou seu especialista em perucas, eu sou Wickham." Ela tinha entendido errado. Perguntei a Colin como ele estava e ele disse: "Absolutamente apavorado": ele estava interpretando o maior personagem da literatura inglesa. Ele tocava guitarra. Lembro-me dele tocando algumas músicas de Neil Young.

Certa vez, cheguei a um hotel onde Colin estava hospedado e acabamos jogando sinuca e bebendo um pouco. As pessoas costumavam beber mais naquela época. Ele disse: "Aposto que seu quarto não tem jacuzzi... o meu tem porque estou interpretando o papel principal." Acabamos tirando toda a roupa e nos amontoando na jacuzzi dele, provavelmente com mais bebida. Joanna David [que interpretava a Mrs. Gardiner] entrou no quarto e tirou fotos. O diretor Simon Langton apareceu de repente e disse: “Oh, não, não, o que vocês estão fazendo? Vocês não podem ficar bêbados e sentar na jacuzzi.” No dia seguinte, Colin disse que tínhamos que recuperar as fotografias. Jo David disse: “Está tudo bem, rapazes, não se preocupem, eu já destruí o filme.” É uma pena, porque essas fotografias valeriam uma fortuna agora.

[Quando a série foi lançada] Lembro-me de ter entrado em contato com Colin e dito: “É a febre de Darcy… por que você e eu não saímos? Mr. Darcy e Mr. Wickham no West End.” Parece muito egocêntrico agora. Encontramo-nos em um pub e ficamos sentados lá por duas horas e ninguém veio falar conosco. Naquela época, Colin costumava se vestir com camisetas tie-dye e calças jeans largas. Ficamos irreconhecíveis depois que tiramos nossas golas de babados e costeletas bonitas.

Lucy Briers, Mary Bennet

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Lucy Briers como Mary Bennet

Eu tinha 26 anos, tinha saído da escola de teatro dois anos antes e feito muitas turnês teatrais, e estava sem dinheiro. Consegui esse trabalho e, de repente, estava ganhando muito dinheiro — quatro vezes mais do que ganhava antes. Quitei todas as minhas dívidas estudantis. Nos divertimos muito fazendo a série — talvez isso tenha transparecido na tela e seja parte do motivo pelo qual ele é tão amado.

Muito de mim é Mary. Também acho que ela é meio Jane Austen. Ela não era "convencionalmente bonita". Ela não se casou. Sua família só a deixava praticar piano quando todos estavam fora de casa. Eu não sou convencionalmente bonita, o que obviamente foi o motivo pelo qual consegui o trabalho em primeiro lugar. Agora, olho para fotos minhas antigas e acho que eu era realmente atraente quando era mais jovem. Somos tão duros conosco mesmos. Nunca fui uma garota feminina, não queria me casar — ​​eu só queria ser atriz. Então, eu realmente entendi a coisa da Mary de revirar os olhos para as irmãs. Já me casei duas vezes e ainda sou feliz no meu segundo casamento, mas nunca foi algo que eu planejei.

Aprendi a tocar piano na escola. Provavelmente estava no nível cinco ou seis. Mas quando fiz o teste, não tocava há oito anos. Contei uma mentirinha e disse que era muito boa, pensando que não conseguiria o papel. Minha agente ligou e disse que Carl Davis, o compositor, queria que eu fosse à casa dele tocar piano para ele. Toquei a Sonata ao Luar de qualquer jeito, depois saí, fui até a cabine telefônica, liguei para minha agente e desabei em lágrimas. Tinha certeza de que seria demitida. Duas horas depois, ela me ligou e, aparentemente, Carl Davis tinha dito: "Meu Deus, é fantástico que a atriz que interpreta Mary Bennet já esteja tocando piano [mal] como a personagem dela."

A única coisa que me frustrou foi que, a partir daquele momento, durante os cinco anos seguintes, só me candidatei a papéis de mulheres sem graça, que nunca tinham feito sexo ou que não iam se casar. Pensei: "Sabe, posso fazer outras coisas". Mas isso mudou depois. Na prática, pelo menos pagava a hipoteca. Senti um grande alívio por não ter que me preocupar constantemente com a minha aparência. Podia ir a uma audição com pouquíssima maquiagem, porque esse era o objetivo do papel. Depois da frustração inicial, me acostumei.

Susannah Harker, Jane Bennet

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Susannah Harker como Jane Bennet, com Crispin Bonham-Carter.

Eu estava grávida, então foi bem desconfortável. Tiveram que trocar meu figurino porque eu ia mudar de forma. Eu estava muito cansada e meu cabelo foi trançado no lugar: eu não tinha peruca, então tinha que chegar às cinco da manhã me sentindo muito mal e não podia me deitar porque estragaria o cabelo. Mas havia uma camaradagem fantástica porque era um grupo de garotas juntas no campo mais incrível, com os figurinos mais maravilhosos.

Minha mãe [Polly Adams] interpretou Jane Bennet na versão da BBC de 1967, então era como se eu estivesse herdando um legado. Não há muita sensualidade e vivacidade em Jane. Mas eu gostei de interpretar a mais doce de todas — foi bem difícil: manter uma qualidade interessante enquanto era tão pura. Jane foi baseada em Cassandra, a irmã de Jane Austen. Eu pesquisei bastante sobre ela e a serenidade era a qualidade número 1. Estar grávida meio que combinava com esse papel. Ela não era cheia de vida e energia, como Lizzy.

Meu filho, de quem eu estava grávida na época, recentemente ajudou em uma produção teatral chamada Orgulho e Preconceito (Mais ou Menos), uma paródia cômica que está em cartaz há anos, e eu fui ver alguém interpretando Jane. A peça ainda está em cartaz. E acabei de escrever algo chamado A Segunda Primavera de Jane Bennet sobre minha experiência interpretando Jane Bennet quando eu era jovem. É um filme que aborda como você pode ser muito visível em algo e, à medida que envelhece como atriz, isso muda e se transforma. Os papéis desaparecem ou os papéis que você recebe quando chega aos 50 anos ou mais não refletem verdadeiramente quem somos como mulheres. É preciso mudar essa perspectiva.

Eu não assistia a série há muito tempo, até recentemente, quando minha mãe estava assistindo a uma reprise e eu fiquei absorta, meio que enfeitiçada por quão bonita eu estava. Eu não me via como bonita — eu apenas pensava que era uma atriz interpretando um papel bonito.

Mangás Femininos mais alugados no site RENTA (Shoujo, Josei, TL)

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O site de aluguel de mangás RENTA (Papyless), que existe desde 2007, postou, semana passada, as várias listas dos 50 títulos mais populares separados por demografia.  Como é um site, os mangás que saem em formato digital primeiro acabam aparecendo com muito mais frequência.  Para cada demografia, há duas listas, a dos mais alugados entre dezembro/202 e novembro/2025 e o dos lançamentos.  Peguei o top 10 das listas de josei, shoujo e TL mais alugados, não peguei BL, descartei a dos lançamentos.  Começo logo dizendo que as listas são problemáticas.  Por exemplo, Não chame de Mistério é Josei, publicado em revista dessa demografia, a Flowers.  Isso é indisputável.  Outra coisa, eles consideraram a B's Log Comics, uma revista josei-muke que publica shoujo, josei e BL, como shoujo.  Não é bem assim, mas, por conta disso, Isekai no Sata wa Shachiku Shidai, um BL, está em shoujo.  Vai ter anime no ano que vem, aliás.

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Imagino que isso foi feito para abrir espaço em Josei para títulos que a gente chama de Ladies' Comics (redicomi) e que são histórias bem barra pesada na média e a tradução dos títulos de alguns que estão na lista se remetia a temas como abuso doméstico, feminicídio e mulher matando marido que fez por merecer, se vocês me entendem.  E uma autora aparece três vezes no top 10: Yokoshima Yayoi.  De qualquer forma, é difícil encontrar coisas que saem nas revistas de papel em primeiro lugar nessas listas, por motivos óbvios, mas alguns estão lá, sim.  

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Na lista de shoujo, deixei dois títulos que saem no Brasil e estão depois do top 10, mais Shi ni Modori no Mahou Gakkou Seikatsu wo, Moto Koibito to Prologue Kara (※Tadashi, Koukando wa Zero), que é minha aposta de licenciamento futuro no Brasil.  Não vou chutar editora como fiz com A Star Brighter than the Sun, que deve vir pela Panini, mas que será anunciado, será, e deve ter anime, também.  Negritei as duas séries que terão anime nesta temporada. E o curioso, GAME, série publicada pela Panini, que é josei, está lá em TL. Os links são para o RENTA e para as páginas das autoras no Twitter.

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MAIS VENDIDOS SHOUJO
1. Konyaku Haki desu ka? Watashi no Konyakusha wa Chanto Betsu ni Ite, Anata de wa Nai no Desu。(婚約破棄ですか? 私の婚約者はちゃんと別にいて、あなたではないのです。) de Kagari Touya e Mitsuki Beni 
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3. Akuyaku Reijou no Naka no Hito ~Danzai sareta Tenseisha no Tame Usotsuki Heroine ni Fukushuu Itashimasu~ (悪役令嬢の中の人~断罪された転生者のため嘘つきヒロインに復讐いたします~) de Makiburo e Shiraume Nazuna 
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6. Me no Mae no Sangeki de Zense wo Omoidashitakedo, Amarini mo Mondai Yamazumi de Ippai Ippaidesu。(目の前の惨劇で前世を思い出したけど、あまりにも問題山積みでいっぱいいっぱいです。) de Nekoishi e Mabuta Hitoe 
7. Belle Poupée no Supadari Konyaku ~ "Konomi ja Nai" to Iwareta Ningyou Hime, Gaman o Yametara Ouji ga Deredere ni Natta. Jitsu ni Aii! ~ (ベル・プペーのスパダリ婚約 ~「好みじゃない」と言われた人形姫、我慢をやめたら皇子がデレデレになった。実に愛い!~) de Asagiri Asaki e Saiki Kei 
8. Isekai no Sata wa Shachiku Shidai (異世界の沙汰は社畜次第) de Yatsuki Wakatsu e Irodori Kazuki 
9. Migawari no Hanayome wa, Bukiyou na Henkyou Haku ni Dekiaisareru (身代わりの花嫁は、不器用な辺境伯に溺愛される) de Sheena Saera e Ichinose Kaoru 
10. Oshi wa Denka ja Gozaimasen...!! ~Akuyaku Reijou, Amagome Dekiai Route ni Totsunyuu shimashita!?~ (推しは殿下じゃございません…!!~悪役令嬢、甘攻め溺愛ルートに突入しました!?~) de Koito Rio e Momokado Isshin 
11. Mystery to Iunakare (ミステリと言う勿れ) de Yumi Tamura
26. Shi ni Modori no Mahou Gakkou Seikatsu wo, Moto Koibito to Prologue Kara (※Tadashi, Koukando wa Zero) (死に戻りの魔法学校生活を、元恋人とプロローグから(※ただし、好感度はゼロ)) de Mutsuhana Eiko e Shirakawa Gin 
28. Watashi no Shiawase na Kekkon (わたしの幸せな結婚) de Agitogi Akumi e Kousaka Rito

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1. Watashi no Otto wa Oboreru Saka na ~Zako o Netotte Ureshii Desuka?~ (私の夫は溺れる魚~雑魚を寝取って嬉しいですか?~) de Yokoshima Yayoi.
2. Kirai na Douryou no Dakimakura ni Narimashite (嫌いな同僚の抱き枕になりまして) de Kitano Dorarinu.
3. Busu Rashiku Fukou de Iro yo! (ブスらしく不幸でいろよ!) de Yayoi Yokoshima.
4. Tsubaki-sensei ga Kowai ~Hoikushi ga Mita Doku-tachi~ (椿先生が怖い~保育士が見た毒たち~) de Chihiro Sonoyama.
5. Shinjite Damasaretanara Jiko Sekinin!~ Jinsei Tsunda Onna-tachi ~ (信じて騙されたなら自己責任!~人生詰んだ女たち~ ) de Yayoi Yokoshima.
6. Baito Tero ~Tokutei sa Retara Jinsei Shuuryou~ (バイトテロ~特定されたら人生終了~) de Yokoshima Yayoi.
7. Souzoku Shitara Jinsei Shuuryou!~Datte Anata wa Kazoku to Iu na no Fusai ~ (相続したら人生終了!~だってあなたは家族という名の負債~) de Yokoshima Yayoi.
8. Nagi no Oitoma (凪のお暇) de Misato Konari.
9. Kusakabe Kachou no Koi wa Yawaraka (日下部課長の恋はやわらか) de Ajita
10. Takane no Hana to Iware Tsuzukete Shojoreki Koushinchuu (高嶺の花と言われ続けて処女歴更新中) de Aoi Mizu  e Inuno Hanako.

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1. Ima Kara, Shinyuu Yameyouka。~Kusareen Douryou wa Amai Kairaku de Watashi o Kowasu~ (今から、親友やめようか。~腐れ縁同僚は甘い快楽で私を壊す~) de Nitsuyama Nitsuko 
2. Yarashikute Kawaii Ore no Rin-chan. ~Rinjin Kouhai-kun no Iki Sugita Shuuchaku ni Hameta to Sareru~ (やらしくて可愛い俺の凛ちゃん。~隣人後輩くんのイキすぎた執着にハメ堕とされる~) de Uru 
3. Sauna yori Atsuku, Momo yori Amai (サウナより熱く、桃より甘い。) de Saishi Soka
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5. Oshiete Kudasai, Fujishima-san! (教えてください、藤縞さん!) de Nae*Awaji
6. Hametsu Machi Akuyaku Reijo Ha Zetsurin Kikoshi Ni Idaki Tsubusareru Ko Mitsu Konzen Kosho (破滅待ち悪役令嬢は絶倫貴公子に抱きつぶされる -濃蜜婚前交渉-) de Kumoshima 
7. Ai ga Omoi Kishi Koushaku wa, Tsuihou Reijou no Subete wo Ubai Tsukushitai。(愛が重い騎士公爵は、追放令嬢のすべてを奪い尽くしたい。) de Umibara Yuta
8. Game ~Suit no Sukima~ (GAME~スーツの隙間~) de Nishitaka Mai 
9. Sakushi na Joushi wa Dekiai Yoku o Kakusanai. ~Kakotte, Ran Shite, to Roama Ecchi~ (策士な上司は溺愛欲を隠さない。~囲って、乱して、とろあまエッチ~) de Miyano Chobi 
10. Miyahara-senpai e Fujiwara-kun: Fuji Kumakun no sei de, Nuigurumi o Sotsugyou? ! Shi Chaimashita! (宮原先輩と藤原くん フジクマくんのせいで、ぬいぐるみを卒業?!しちゃいました!) de Tsukino Omame