domingo, dezembro 28

Literário de sobra

 

Isto anda cada vez mais literário, mais experimental, mais interessante. Interessante no cómico sentido da palavra.

Dias atrás um jovem e conhecido crítico lastimava que ainda se escrevesse à moda do século passado, mas em minha opinião não se dá ele conta de que já se escreve à moda do futuro, e que a chamada Literatura corre maratonas a ver se apanha a Banda Desenhada. O que no antigamente se chamava diálogo, aparece agora aqui e ali com Grrrs! Vronks! Prruns! e muito “What the fuck!”, que não há como o seu bocadito de Inglês para ter chique e demonstrar que se pertence aos eleitos que voam alto e longe do vulgo.

Compara-se um a Paul Auster, outro encosta-se a Martin Amis, um terceiro sente-se próximo de Bolaño, um quarto abandonou os russos e de momento inclina-se para Murakami. Haruki Murakami, informa ele compenetrado.

Imita-se, falseia-se. Conta-se aos papalvos, e os papalvos apreciam, que só escrevendo em cadernos de Moleskyne e em determinado quarto do Chelsea Hotel, em Nova Iorque, é que se recebem os eflúvios. Em Bali, nas favelas do Rio ou naquela praia de Goa, também serve.

Aborreço-me, pois aborreço, com os livros do ano, e da década, e do génio, com a prosa dos analfabetos, a poesia dos poetas cuja fama lhes vem mais das melenas e da pose, que do sumo que escorrre do seu hermetismo.

 

sexta-feira, dezembro 26

O escorpião

 

Interessante no oportunista é aquela qualidade de que agora muito se fala: a transparência. No seu cérebro deve haver uma qualquer alavanca que o impede de se dar conta de quanto é previsível o seu comportamento.

Está você na mó de baixo, o oportunista some-se com a rapidez de neve que derrete ao sol. Começa a melhoria, lá salta ele a recordar a velha amizade e os bons tempos de então. Cheira a sucesso? Nenhum outro tão pronto na lavagem dos pés, nos bilhetinhos, na lisonja. Chegou a hora da sorte? Aí é imbatível: capacho, moço de fretes, burro de carga, pião das nicas, nenhum esforço lhe pesa, nenhuma curvatura lhe dói.

Mas há que manter o alerta. A sua mentalidade é de escravo, a sua ambição a de escravizar, na celeridade da mordedura iguala o escorpião.

 

 

domingo, dezembro 21

Os saltimbancos da União Europeia

 https://observador.pt/opiniao/a-razao-e-a-necessidade/

"Praga ou maldição"

https://sorumbatico.blogspot.com/

quinta-feira, dezembro 18

"Uma ideologia de morte"

 

https://blasfemias.net/2025/12/17/bondi-beach-nao-e-longe/ 

segunda-feira, dezembro 15

Ah! Veneza!

 

A culpa é de Goethe, Thomas Mann e uns quantos ricos. Atrás deles revoadas de pintores, bandos de fotógrafos. Depois destes, milhões e mais milhões de basbaques que, no correr do ano, chegam a Veneza e, aos ‘Ohs!’ e ‘Ahs!’ na praça de San Marco, na Basílica, no Canal Grande, na Ponte dos Suspiros, no palácio dos Doges, ressentem coisas que, pelos jeitos, só lá se ressentem. Ah! As gôndolas! Ah! O Rialto! Ah! O Caffé Florian!...
Acontece que, Verão ou Inverno, sol ou névoa, na meia dúzia de vezes que, por razões várias, fui a Veneza, nem me emocionei, nem se me afinou a sensibilidade, não tive êxtases.
Levo isso à conta do meu embotamento. Das más experiências que lá tive é melhor não falar. 

sábado, dezembro 13

As más novas

 

https://observador.pt/opiniao/morte-ao-portador-das-mas-novas-a-europa-e-a-america/ 

sexta-feira, dezembro 12

Frases e máscaras

 

Duas razões para citar algumas frases de Arthur Schnitzler (1862-1931). A primeira é a admiração pelo seu formidável talento de escritor e dramaturgo. A segunda é que, tomando-as de empréstimo, elas me permitem “falar” a alguns amigos e amigas que compreenderão o que lhes quero dizer.

“São muitas as maneiras de fugir à responsabilidade. Pode-se escapar a ela através da morte, da doença, e finalmente através da estupidez.”

“Nenhum fantasma nos ataca em tantos e tão variados disfarces como a solidão, e o amor é uma das suas mais impenetráveis máscaras.”

“Cada relação amorosa passa por três fases que imperceptivelmente se sucedem: a primeira é aquela em que, mesmo em silêncio, um se sente bem com o outro; na segunda um sente-se silenciosamente aborrecido com o outro; na terceira o silêncio torna-se um vulto que se ergue entre ambos os amantes como inimigo mortal.”

“O que torna tão problemática uma relação amorosa é o facto de nos sentirmos tomados por um permanente anseio de liberdade, ao mesmo tempo que procuramos prender o outro, embora sem estarmos convencidos de que temos o direito de fazê-lo.”

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(*) A minha tradução não é a melhor. Quem conhece a língua leia - Arthur Schnitzler, Buch der Sprüche und Bedenken.