estudo I para “a viagem”

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o edifício erguia-se imponente no meio da planície – ou, diremos, deserto. várias torres cilindricas tocando-se e formando um conjunto uniforme. no alto, cada uma com a sua pequena janela estreita e vertical, cá em baixo uma entrada muito simples, uma abertura, que em tempos fora uma porta.

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entrei e deparei-me no piso térreo com escuridão quase absoluta. a curiosidade estimulava-me contudo a continuar e logo, vencido o medo, o espaço foi-se abrindo de luz e uma escadaria de muitos níveis apontava ao céu. a cada degrau os músculos das pernas queixavam-se e, eu, resoluto, subia.

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num nicho escuro encontrei num pedestal quatro frascos etiquetados. mas, tal com o códice Voynich, em vão tentei ler o que estava escrito nas etiquetas de papel castanho. a primeira delas desfez-se em pó ao meu toque e a partir daqui em mais nada toquei. um estranho som chegou de cima, até mim.

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havia uma abertura para o interior de uma das torres cilíndricas. escuridão total olhando para baixo, como se não houvera fim, luz ofuscante olhando para cima, como se dois sóis lá morassem. um pequeno varandim a meio, mesmo por cima de mim. talvez se desfizesse em pó, também, se o tocasse.

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encontrei este estranho objecto preso por cabos a desfazerem-se. não consegui ler a etiqueta. não me aproximei demasiado por não saber de que se tratava. pareceu-me ser algo para cobrir a cabeça, um utensílio estético, se calhar, um simulacro muito antigo. recordo-me de me falarem de “a viagem”.

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outro conjunto estranho de objectos em cima de uma mesa. reconheci de imediato uma ancestral tábua de inputs manuais mas os caracteres há muito que deixaram de fazer sentido. talvez outro utensílio meramente decorativo ou, quem sabe, parte do sistema de “a viagem”. afastei-me e subi.

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aqui, noutra sala, havia movimento. uma espécie de holograma rudimentar, somente a duas dimensões, projectado numa parede ao invés do vazio. havia mesas e cadeiras e estava tudo em silêncio. a imagem formava-se de um feixe de luz vindo de trás da parede oposta. fui até lá.

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por fim, a revelação. uma máquina perfeita imitava um ser orgânico. sabia-o das gravuras que atravessaram séculos. uma espécie abundante mas não creio que a dominante. uma réstia de energia movia-lhe ainda o ventre e as antenas rodavam sobre si próprias, como se soubessem de mim.

FIM

just one shot #2025_001

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(novo) CAM – Centro de Arte Moderna Gulbenkian, dezembro de 2024.

Numa mesma obra duas figuras maiores da arte e cultura portuguesas. O quadro de Almada impressiona, não só pela figura que representa, mas também pelo tamanho e pela vivacidade das cores.

Numa pequena sala que funciona como depósito de obras não expostas na coleção permanente (faz lembrar o Depot Boijmans Van Beuningen de Roterdão) o CAM exibe modernistas portugueses e Pessoa domina o espaço.

Ao lado um Paula Rego de 1984. Excelente forma de acabar o ano.

três rapazes no “T” (ou “frame 24”)

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estes somos nós três, um dia, no futuro. muito, muito antes da nossa amizade se cimentar e fortalecer como os veios de aço que atravessam o âmago do cais que pisamos. chegámos, veremos, de uma viagem em que não nos conhecíamos, em que nos conheceremos e nos uniremos para milhares de aventuras num passado cada vez mais recente. caminhamos para nós, para a nossa completude e simplesmente não o sabemos, ainda. os nossos olhos serão puros, verão, o dia de hoje será o amanhecer de um presente que apenas imaginamos. não existe fim nem princípio porque tudo é eterno e move-se num circulo celestial que se desfaz e refaz. estes somos nós três, um dia, neste preciso dia que hoje despontou. pisamos o cais e caminhamos de frente para a câmera que se afasta lentamente. quanto mais caminhamos mais a câmera se afasta, e mais lentamente. o que persistirá do futuro será pois sempre este futuro já inventado, convosco. o reverso do desconhecido, o semblante da nostalgia, o encontro com o que é, foi, será, está a ser, neste preciso momento amarrado como um navio ao cais do tempo.

Este é, talvez, o último texto que publico em 2024.

fides ex sapiens

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ecce homo algures no caminho. olha para os pés e não sabe em que direção apontam. porém, ainda ontem, pelo meio dia, sabia. tinha os pés assentes na terra e apontavam para o amanhã que, há instantes, era hoje. levava o pão à boca e sabia-lhe a pão. agora vê as mãos vazias: nem pão, nem hoje, nem amanhã.

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lembrou-se: foi no cimo de uma colina. cheirava a vinagre com que incendiavam as feridas, a suor e a lágrimas. podia ter sido um altar mas quiseram que fosse, apenas, o lugar da morte. o sol crestava mas não havia fogo, nada de fulminante. só uma morrinha lenta e, ao fundo, disse o filho do homem, o paraíso.

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seja pois o paraíso, se é para aí que vou, se é para aí que os pés apontam. sim, é sempre para o paraíso que vamos, que queremos ir, que nos encomendam. no entanto, que bússola usar se a luz roda todos os dias à nossa volta como para nos confundir e alhear do norte? vês a flor? ela sabe de onde vem a luz mesmo sem a ver.

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sê portanto humilde: ser humilde é o caminho, o caminho da alma. ajoelha-te se necessário for e apascenta ou sê apascentado. mas – responde ecce homo -, eu não pertenço ao rebanho, quero apenas saber para onde ir. ontem ao meio dia, sabia. tinha pão na mão e luz nos olhos. mas hoje, perdi-me.

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lembrou-se então da fé, da esquecida, da não achada, da que nunca teve. pensou que talvez a direção dos pés não fosse o mais importante. pensando bem, a terra é uma esfera. partas de onde partires, se caminhas o suficiente voltas sempre ao mesmo lugar. talvez seja apenas um desvio, andar mais, não desistir.

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estás a chegar lá! – disse a voz. mas porque razão tinha de ter uma voz dentro da cabeça, melíflua, que não invocara, a dar-lhe conselhos? dá-me o raio da bússola! – exigiu. se estás aqui para ajudar aponta-me o destino! – ordenou. …a voz calou-se. depois, ferido, continuou, encolhendo os ombros, sem saber para onde.

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pouco depois estava na cidade. ou, pelo menos, existiam ali telhados altos, pináculos e gente atarefada que corria em todas as direções sem parecer dirigirem-se para onde quer que fosse ou ter um destino qualquer. e estavam felizes, corriam, corriam e nem olhavam para ele. só depois reparou: não tinham olhos nem pés.

LomoChrome Metropolis by Fujifilm X-Trans IV & alguma lógica filosófica

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2.o21 _ Os objectos formam a substância do mundo.

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2.0251 _ Espaço, tempo e cor (coloração) são formas dos objectos.

2.033 _ A forma é a possibilidade da estrutura.

2.12 _ Uma imagem é um modelo de realidade.
2.173 _ Uma imagem representa o seu objecto a partir do exterior.

2.141 _ Uma imagem é um facto.

6.373 _ O mundo é independente da minha vontade.

6.4 _ Todas as proposições têm valor igual.

noite polar [13-91]

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tudo começou com um grande fogo. os corações inocentes não descortinaram a ameaça. um grande fogo, distante – no outro lado da serra -, sugeria apenas uma alvorada incandescente e insuspeita. juntaram o gado, como em todas as manhãs, e correram alegres pelos campos como crianças sem tempo.

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a labareda logo alumiou o chão. viram ali um caminho de luz e ficaram contentes. apontaram com os dedos e riram-se, de semblante colado ao solo, seguiram uns atrás dos outros sem nada interrogar. até as searas brilhavam com mais fulgor, o mel das abelhas escorria mais favoravelmente. viviam numa terra abençoada.

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o homem das letras ponderava debruçado sobre uma folha em branco, imaculada, e pressentiu a sombra nas suas costas. porém, não a descortinou, porque tinha a mente fletida sobre assuntos mundanos e sobre tais assuntos mundanos escreveu. este ano a produção de trigo será abundante, seguido do centeio e do sorgo. nunca o mel escorreu dos favos tão auspiciosamente.

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sucedia contudo que o trigo, o centeio e o sorgo não tinham ainda entrado nos celeiros, nem nas carroças puxadas pelos bois, ou passado pelas eiras, nem sequer as espigas sido decepadas pelas foices até aí por amolar. os armazéns estavam vazios e, porque assim estavam, o grande fogo anunciou-se até aos cantos mais recônditos sem nada, nada que o impedisse.

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estavam pois à vista todos os sinais e mais ainda à medida que o dia ia avançando. os muros iluminados, o chão indicando as linhas de fuga, o céu escarlate para onde ninguém olhava porque as folhas ainda luziam verdes na sombra enganosa das latadas e o silêncio da morte era um ligeiro crepitar tal como a brisa no restolho, o vento nos eucaliptos ou o movimento da água no fundo do vale.

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foram as árvores que começaram primeiro a declinar, a seiva a secar-lhes nas veias, o muros a ganhar laivos e a estalar com o calor. mas os aldeãos estavam longe, tinham-se afastado da canícula e ido em transumância para as pastagem de verão escondidas nos covões da serra levando consigo os velhos nos dorsos dos burros, todo o gado e as crianças ao colo. as ruas e as casas estavam desertas e as pedras queimavam.

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o homem das letras ficara para trás. quando o fogo passou pelo chafariz e se anunciou no largo do pelourinho ele apenas abrira os botões da camisa, suspirara fundo, e continuara a escrever febrilmente escorrendo em bica e vociferando contra o estio. este ano vai ser o melhor ano para a nossa aldeia. e nisto acendeu a luz para encher ainda mais de luto a sua inconsciência. haviam-lhe dito: podias ajudar com os animais.

balada da praia dos morcegos

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os bancos sentavam-se vazios ao entardecer (tal como a rosa de Silesius: a rosa não tem razão de ser | floresce porque sim | não cuida de si própria | não pede para ser vista) enquanto as aves subiam estranhamente ao céu alinhadas com as ruas. vivíamos nas sombras, tolhidos e murmurando, como seres crepusculares.

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vestíamos de branco voltando as costas ao mundo, descendo sobre a relva humedecida ansiando pelos insectos da canícula. os nossos olhos derramavam sobre a paisagem centelhas escarlate zoando ao sol como abelhas enfurecidas. cuidávamos das searas para que não ardessem nem secassem.

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havia uma estrada que era mais um caminho que teríamos de seguir. os antigos profetizaram o tempo dos corpos alados de ferro por sobre o algodão das nuvens. encontrávamos pássaros sem asas – pelo caminho -, sal nos troncos dos pinheiros e ecos que voltavam no vento. eram assim os dias.

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o mar chegava e recuava aos nossos pés. fragrâncias doces como morangos e um horizonte limpo. sonhávamos com a noite neste país de luz sempiterno. luzeiros por sobre a areia e moluscos no céu. o ar era fresco como a água e a água desaparecia como se fosse ar. nenhuma montanha, nenhum farol.

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encontrámos ruínas e dizeres antigos. pediam que dormíssemos ao relento e balbuciássemos estórias do futuro. preferimos pisar as pedras com os pés despidos e rolar na areia incendiando a pele. os cabelos eram ervas de cheiro e os dedos deixavam fugir o nada. veio uma grande escuridão.

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não sabíamos onde se escondera o princípio nem de onde chegaria o fim. as unhas maceradas escreviam gritos por cima das nossas cabeças. haviam raízes por todo o lado a tocar o infinito. mas uma extraordinária alegria invadiu-nos a compleição tisnada. fendemos as trevas com olhos de fogo.

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encontrámos por fim a casa de onde nos evadimos em círculos insuperáveis. asas umbrosas recobrindo a vergonha das nossas vestes. mais velozes do que as naves que voam, mais líquidos do que o oceano que nos impede. misturados com a noite, quirópteros, nocturnos, sedentos de sangue e de liberdade.

Detox Digital e Gatekeeping

Para não cairmos em generalizações, ou no vulgar, é quase sempre preferível falarmos em nome próprio, ou seja, das nossas experiências pessoais. Assim, quaisquer argumentos são em primeiro lugar válidos, e só, para nós próprios e não sofrem da pretensão de se apresentarem como factos inquestionáveis. Tudo, na verdade, é subjetivo. 

Há cerca de um ano comecei a olhar com interesse para a fotografia analógica. Tenho de admitir alguma influência pelo facto desta estar na moda: maior presença e visibilidade impedem-nos de não olhar para algo. Mas, como não existem dois percursos iguais, mesmo que o destino seja mais ou menos o mesmo, pouco a pouco começaram a definir-se alguns argumentos para mim, em particular. As minhas justificações para o impulso.

Em primeiro lugar achei fascinante o entusiasmo dos analógicos (vamos chamar-lhes assim…). Um entusiasmo muitas das vezes (quase) naif . De seguida, a simplicidade do processo. Simplicidade no sentido de que uma câmera analógica é bem mais simples do que uma digital e não simplicidade no processo em si, desde a captura, até ao acesso às imagens. Comecei então a perceber, à minha maneira, o apelo do analógico.

Entra aqui o conceito de Detox Digital. A fotografia digital oferece aparente simplicidade e gratificação praticamente imediata. Mas cansa. Não indo além dos 35mm (ou full frame), que é o que conheço, posso começar por dizer que o investimento inicial é bastante elevado (nos últimos anos muito mais ainda) e, se depois pretendermos “melhorar e crescer” queremos imediatamente melhores câmeras, melhores (e sempre mais em número) objetivas, filtros, flashes, esquipamento de estúdio, cartões de memória, software de edição, computador e ecrã adequados, mais espaço em disco (interno em externo), sacos, mochilas, etc, etc. Tudo isto é invariavelmente caro. Qualquer fotógrafo, amador que seja, facilmente gasta e acumula ao longo dos anos largos milhares de euros em equipamento fotográfico. E, quando já tem tudo, ainda quer mais aquele gadget inútil. Nunca mais acaba.

Gatekeeping significa grosso modo controlo de acesso, normalmente a informação. Vou, contudo, utilizar a palavra num sentido mais livre. Quem entra mais ou menos a sério no mundo da fotografia digital depara-se desde logo com a maior das falácias (e muitas vezes nunca toma consciência da mesma e não se liberta dela): para seres bom fotógrafo e fazeres boa fotografia deves ter o melhor equipamento que o dinheiro pode comprar. E pior, se não tiveres esse equipamento, porque não o podes comprar, ou por opção, és um fotógrafo menor e deves sentir-te como tal. No entanto, este logro é dos mais fáceis de desmistificar. Basta olhar para os quase 200 anos de história da fotografia e entender a espantosa evolução tecnológica que se verificou. Sendo assim, quantas imagens e fotógrafos do século XIX e XX em nada devem a imagens e fotógrafos do século XXI?

O que é lamentável, pelo menos para mim, é que o gatekeeping é promovido não só pelos fabricantes (sendo um negócio tal é perfeitamente entendível) mais por uma grande faixa de profissionais, e não só, que por elitismo e fanatismo (no sentido de ser grande fã de algo) o promovem grande parte das vezes sem nenhum ganho pessoal. Ou seja, promovem interesses que nem são os seus.

Regresso agora ao meu elogio ao analógico. Recomecei pois (porque ainda sou desse tempo, como se costuma dizer) pouco a pouco a fotografar em analógico. Na verdade, ainda estou no início do início desse recomeço, pelo que a impressões que quero deixar serão precoces e quiçá imperfeitas. Mas é o que começa a definir-se em mim. 

Acima de tudo já começo a sentir o Detox Digital. Fotografar pelo prazer que sempre me dá a fotografia mas sem a “pressão” de verificar de imediato se está bem ou não, se tenho de repetir, muito maior ponderação e cuidado no momento de carregar no botão de disparo (o que tem resultado num rácio maior de imagens aproveitáveis), fotografar menos, mais espaçada e conscientemente, isto é, fotografar melhor com maior preocupação em fazer bem à primeira, maior e muito melhor lag emocional (desprendimento em relação à imagem pelo tempo que demora a ter acesso à mesma permitindo uma melhor avaliação), melhor gestão da ansiedade (pode parecer que nada tem que ver com fotografia, mas tem) pela necessidade de ser paciente e aguardar pelos resultados e nenhuma ou muito pouca pós-edição (ganho essencialmente em tempo mas também em honestidade [não quero parecer snob mas uma fotografia sem edição ou muito pouca é de certa forma mais honesta, não é?]). E mais boas impressões existirão mas ainda mais esta: a libertação e gozo que dá fotografar com uma câmera simples simplesmente torna tudo mais… simples.

E para terminar: nada de gatekeeping! A felicidade é uma SLR com 40 anos, uma clássica 50mm F/1.8, um rolo a cores ou a P&B e sair para o mundo à descoberta.

aunreliable narrator

escondido atrás do computador e rodeado de livros de poesia, apenas e só livros de poesia, poesia não completa, claro está, dada a impossibilidade óbvia de alguma vez a poesia se completar. escondido e matreiro, de olho afinado perscrutando o fio azulado do fumo do cigarro e a lente amarelecida do redondo do copo de uísque. o que você procura é aconselhamento editorial, coisa rara e difícil nos dias que correm, e caro, se quer que lhe diga, sem rodeios. mas faz-se. se o conhecesse de algum lado até lho fazia de borla. e, já agora – depois de uma virgula breve -, tire aquele livro das mãos do seu filho que aquilo é um bocado pesado para a idade dele, não vá sair daqui com má impressão da casa. ah, sim, indecente. há por aí muitos autores sem pinga de pudor e isso lê-se no que escrevem. dê-lhe antes um Tolentino, mais adequado, beato e filosófico, bom para idade dele. uma garrafa de uísque com um rombo no estômago meio disfarçada por entre a perna da personagem e a perna cambada da secretária, cabelo branco e desgrenhado de um lado e do outro do ecrã, excessos do narrador no qual, de todo, não confio, rancor, semblante banhado de luz azul. mas quanto? – pergunto. o cabo dos trabalhos. trabalha muito nisso? responde sem prudência ou singeleza: sou um escravo do trabalho, não vê a quantidade de livros que aqui estão? mas, sim, faz-se. tem uma listinha de por onde andou? sim, a listinha de por onde andei em busca de aconselhamento espiritual, anímico, existencial para o meu livro, não sabendo ainda que isso já tinha um nome. as histórias que os nomes nos escondem, afinal. estendo-lha – a listinha -, pega-lhe e, de relance, faz que a lê. que canseira. devia ter logo vindo ter comigo. sai de trás do computador. pela primeira vez atravessa a cortina estriada do fumo do cigarro e abandona o uísque à sua sorte. então deixe ficar. falamos do preço? – insisto. deixe ficar, não se preocupe por agora com isso – insiste. os dedos amarelos do uísque e dos cigarros estendidos para o manuscrito. o que faz meia hora de conversa. o que faz a inexequível disposição de acrescentar poesia à poesia que se não completa.