Palavras estragam tudo
mas eu as amo
assim como
amo as mulheres.
Mulheres estragam tudo
mas eu as amo
Assim como
amo as palavras…
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Palavras estragam tudo
mas eu as amo
assim como
amo as mulheres.
Mulheres estragam tudo
mas eu as amo
Assim como
amo as palavras…
POESIA AUTOBIOGRÁFICA
eu sou o ausente mais presente
que existe sobre a face molhada da terra.
sou sonhador e aventureiro
sou louco e civilizado
desconfiado por natureza –
até da minha sombra –
discreto por esperteza.
escrevo, mas não por luxo
mas por questão de sobrevivência
costumo praticar orgias literárias –
ao mesmo tempo que leio Bukowski e Kerouac,
também estou lendo Quintana e Corsaletti.
costumo tomar drinks com as estrelas,
bater papo com o mar
e flertar com a noite.
não sei o que sou mais,
insistente ou persistente.
tenho uma relação profunda
de amor e dependência psíquica e física
com a noite,
assim também em relação à poesia.
já descobri que sou uma poesia ambulante.
às vezes, fico acordado toda madrugada
apenas para ouvir o silêncio
sólido e melancólico
que persegue a noite.
para completar (-me),
dou-me o prazer de sentir o vento
e ver ele sibilar logo acima dos meus ombros
– claro, isso vale uma noite de sono.
prefiro não auto reler-me
para não correr o risco de ser influenciado.
tenho o costume de esquecer-me
em alguns lugares e em algumas pessoas
porque é sempre bom quando volto
para buscar-me.
ouço música
na esperança que elas tragam-me a paz
que o mundo rouba – por falar nisso,
Elvis, Paul, Lennon e Cartola têm me entendido
como ninguém…
bebo cerveja
pensando que serei arrebatado
deste mundo
e passarei uma temporada na terra
dos esquimós,
onde se compartilha até esposas…
espio fotos de desconhecidos
pois parece-me que assim,
emprestam-me por alguns segundos
seus lugares e suas vidas.
vivo tomando nota da vida,
sem que ela perceba, claro.
uso metáforas
na esperança que elas salvem-me
da punição lúcida deste mundo.
uivo como um lobo,
que é para proteger o menino
que dorme dentro de mim.
percebi que minha vida é uma peça de teatro
e eu não sou o ator principal,
e muito menos o diretor, claro…
já tive desejo de não precisar do sono,
mas tão somente do sonho.
Também quis não precisar falar,
apenas com os olhos pensar…
já escrevi poesia sobre saudade
com a vã esperança de que,
talvez,
ela atenuasse a dor e, claro,
descobri que estava enganado.
sim, acredito em saudades intermináveis.
Gosto de colecionar pessoas.
descobri
que a perda nos ensina a sermos mais humanos
e a entender mais a vida.
a literatura ensina a suportarmos as perdas
e a viver outras vidas…
tenho tendência de fazer com que as coisas
sejam do meu jeito.
sou também, um pacifista,
um anarquista, um cidadão planetário
e assim por diante…
pratico solidariedade
com a melancolia alheia.
escrevo não apenas por vontade
ou mera liberalidade
mas sim por pura necessidade.
caminho, sempre, num cemitério de almas.
não sei de nada
e nada sabe sobre mim.
queria ser um Vagabundo Iluminado
mas sou apenas um Coração Vagabundo,
apesar de que já disseram-me que sou
mais um coração perdido do que vagabundo.
SOLIDÃO
Solidão…
é ouvir o próprio sangue
ranger por entre a carne crua,
escutar o som trépido e quente
que corre rápido pelas veias
Solidão…
é sentir o perfume do ar
e ver como o vento – da janela aberta –
acaricia suavemente a pele
e faz os poucos pelos dançarem…
Solidão…
é conversar com seus poros
que choram por seus pensamentos…
Pensamentos… que parece ópios penetrando
sua carne branca e devoluta
A solidão compele
o juízo desertor, sem pudor,
rasga a pele, movimenta células,
que dançam numa explosão atômica
tudo é calor!
Solidão,
é pessoa sem nome e endereço,
sem carne nem sangue,
que te toma, emprestado, seu corpo.
DESCUIDADO
Eu
não te amo
mas te quero
Eu
te quero
mas não estou apaixonado
Sou
sou apenas um descuidado
ESTIVE, TALVEZ E SE
Estive,
pensando
um dia desses,
em tomar um drink com as estrelas,
bater um papo com o mar
e flertar com a noite…
Talvez,
eu também encontre
uma pedra achatada,
uma maravilha de dez metros de altura
e dez metros de base,
que é para sentir-me confortável
Se,
a lua for com minha cara,
sentará comigo a mesa
e ouvirá os meus segredos
Se,
tiver sorte,
terei algumas árvores retorcidas
por perto
assim como tinha Ray Smith
LIGEIRA
Ligeira.
Por mais rápido que eu caminhasse
não conseguia alcançá-la
Suas pernas de aço
faziam um pequeno estrondo no chão
e um arrombo na alma
seus cabelos esvoaçavam-se
como se pretendessem fazê-las flutuar
menina das pernas de aço
Como uma criança,
queria correr…
Mas não podia,
sem as pernas tremer –
juntas, até pareciam unidas –
Eu vi seu rosto.
Sim, era linda.
Eu vi um anjo!
NOSTALGIA
Às vezes
sinto-me triste
aparentemente sem nenhum motivo
Mas precisa de motivo?
Acho que as pessoas nas ruas
são tristes
por isso fico triste
É questão de ser solidário
com a melancolia delas
As pessoas em Dom Silvério
eram alegres e quentes
Acho que o sol
era mais gostoso lá
assim como o ar
Por isso eram poesias ambulantes
Se eu lá voltar
Trá-las-ei pra cá.
TALVEZ
Talvez não…
talvez o sol
não goste de sair todos os dias
Talvez
eu não esteja tão bem assim
Talvez
o mais difícil seja acordar –
tenho tido sonhos tão bons –
e encarar este mundo sujo
Talvez
o timbre forte e alto da minha voz
não assuste tanto assim
Talvez
eu não seja tão bom assim
Talvez
não escreva apenas por vontade
ou mera liberalidade
mas sim
por pura necessidade.
BANHO
“Me leva para o banho?”
disse com a voz trêmula
sabe, um banho é algo mágico
Por vezes
me peguei tomando as maiores decisões
da minha puta vida
no banho
A primeira vez que ejaculei
foi no banho
a primeira vez que chorei –
por estar ferido por dentro–
foi no banho
Um banho é como escrever poesia
sempre sai algo novo
e o melhor banho é aquele da madrugada
nada houve além do seu silêncio
Um banho quente
é como uma noite de sono
um banho frio
parece uma noite de sonhos
A primeira vez que notei
que
independente do estado
o pau era uniforme, torto e monstruoso
foi no banho
A primeira vez
que me apaixonei por uma música
estava no banho
também estava lá
quando
pela primeira vez
odiei uma música
O banho é uma poesia
sempre inacabada
Eu? não
não a levei para o banho
ela me levou…
a poesia.





