Depois de 40 anos de Medicina, 33 dos quais como Médico de Família, depois de ter assistido à melhoria espectacular dos cuidados de saúde neste país, de ter passado pelas Caixas de Previdência, pelo Serviço Médico à Periferia, pelos Centros de Saúde e por ter visto a evolução dos hospitais públicos, depois de ter visto como foi instituído o salário mínimo, o direito à greve, de ter visto a instituição de um período de férias, coisa que o meu pai não teve, a liberdade de expressão, o fim da guerra colonial, que era uma espada sempre em cima da minha cabeça, caso chumbasse um ano na faculdade e, mesmo assim, ainda tive de cumprir o serviço militar obrigatório, já depois de ser médico, passando um ano e meio a passar receitas para as famílias dos oficiais, depois de ter assistido ao direito à reforma, de ter visto a minha avó, que trabalhou e não descontou, a ter direito a uma reforma mínima, depois de ver a sociedade portuguesa a desenvolver-se na cultura, na música, na dança, na literatura, sem censura, sem amarras, depois de ter trabalhado num Centro de Saúde durante mais de 30 anos, perto de Bairros sociais e de ter convivido com uma população carente e muito diversa, com brancos, negros, indianos, mestiços e ter sentido toda essa diferença e ter percebido que, no fundo, somos todos iguais – vejo-me agora, com quase 73 anos, rodeado por energúmenos, egocêntricos, fascistóides, gente sem empatia, que só pensa em si própria, que tem ódio pela diferença, liberais, gente de extrema-direita, facínoras que não me merecem mais do que um vómito.
Começa no Putin e passa pelo Trump, o Órban, a AfD, a Meloni, o Vox, o Milei e, por cá, o miserável André Ventura, um tipo full of shit, capaz de se ajoelhar na igreja e rezar e, ao mesmo tempo, cagar no próximo se ele tiver uma pele de cor diferente, um tipo que não tem empatia por ninguém, a não ser por ele próprio e pelos seus apaniguados, um ignorante que não conhece as dificuldades das pessoas, que não se sente solidário com nada, um católico de merda, daqueles capaz de rezar hoje e pecar amanhã, porque é absolvido pela hipocrisia da Igreja.
Infelizmente, o desprezível Ventura tem muitos seguidores. Não quer dizer nada. Hitler também ganhou as eleições e fez o que todos sabemos. O rapaz é tão básico que, com os seus argumentos de taberna, consegue arrastar consigo todos os que, como ele, só têm argumentos rasteiros.
Qual é o programa para a Saúde do Chega: acabar com a corrupção e expulsar emigrantes.
E qual é o programa do Chega para a Educação: acabar com os alunos emigrantes e com a corrupção.
E no que respeita à Justiça, o que propõe o Chega: acabar com a corrupção e não deixar entrar mais emigrantes.
A isto se resume o programa daquele partido.
E a comunicação social deixa andar. O Ventura garante audiências. Ninguém o questiona sobre as suas propostas para o país, sobre o famoso governo sombra, que nunca teve intervenção pública, sobre o sindicado Solidariedade que ele disse que iria criar e que nunca saiu do papel. O Chega é o Ventura e pouco mais.
E este país está rendido a essa figura básica, iletrada, ignorante, um xico esperto sem estofo para governar.
Espero bem que venha a ser primeiro-ministro, para que o povo português perceba o que é ser governado por um lavagante, um tipo que andou a engordar o safio e que, quando ele ficou bem gordinho, o comeu.
Todo!